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Artigo

Corals (bad) News

 

 

Artigo de Carlos A. de Medeiros Filho

recife de coral

Reuni algumas notas, anteriores e mais atuais, sobre a situação de recifes de corais. Todas, infelizmente, preocupantes.

Os recifes de coral são profundamente importantes, devido em grande parte ao seu papel vital dentro do ecossistema marinho mais amplo.

São invertebrados marinhos que trabalham em simbiose com as algas, o que ajuda a alimentá-los através da fotossíntese, pois esta converte a luz do sol em energia. Juntamente com as algas, os corais também servem como moradias semelhantes a árvores para várias formas de vida, oferecendo proteção e abrigo para criaturas como camarões, conchas e lagostas.

Mas os recifes também são necessários em meio ao agravamento dos impactos climáticos. Encontrados relativamente perto da costa, eles podem atuar como montanhas, quebrando as ondas antes de atingirem o litoral. Com corais saudáveis no local, as ondas podem ser mantidas sob controle durante eventos de ressacas, protegendo as áreas terrestres do peso das tempestades, bem como da erosão.

Os corais branqueiam cada vez mais e frequentemente morrem quando a água esquenta. O que acontecerá com os peixes se não houver recifes alternativos para onde nadar? Um novo estudo liderado pela Universidade de Helsinque prevê como a diversidade de peixes responderá aos declínios na diversidade de corais e mostra que a perda futura de corais pode causar uma redução de mais de 40% na diversidade de peixes de recife globalmente. (1)

Ouvi de experientes pescadores do litoral norte potiguar relatos similares que apontam uma forte mudança na população de peixes nos últimos 20 anos. Por um lado, notou-se uma considerável diminuição na presença de algumas espécies, anteriormente comuns e, por outro lado, um aumento no aparecimento de alguns tipos particulares. Existe uma comum reclamação e constatação de que a variabilidade e quantidade de perdas é significantemente maior do que os ganhos de peixes. Acredito firmemente nas observações e opiniões desses velhos lobos do mar. Assim, quais seriam as causas dessa alteração da população pesqueira? Parece existir uma coincidência temporal na percepção dessas transformações com o incremento do uso de parte dos corais para atividades turísticas. Existe também a argumentação do aumento da temperatura do mar e a natural destruição dos corais. (2)

Soriano et al. (2008) afirmam que a ação humana altera a comunidade biológica dos recifes de Maracajaú. Os principais fatores responsáveis pelo desequilíbrio ecológico seriam a ocupação do litoral, a pesca predatória e a exploração turística. Os recifes desse local são constituídos por arenitos, corais e algas calcárias, em densidades variadas. Segundo, ainda, Soriano et al. (2008), a presença humana causa impactos indesejáveis, como o pisoteamento dos recifes, a quebra de corais pelo choque de âncoras e a retiradas de pedaços para comercialização ou lembrança. Além disso, o despejo de combustíveis e de óleo de motores também tem contribuído para a degradação. (6)

O calor no sul da Flórida criou um cenário de desastre para os corais, que fornecem uma fonte importante de abrigo para espécies marinhas, ao mesmo tempo que mitigam os impactos das tempestades em terra. À medida que as temperaturas da água se aproximam de 100 graus Fahrenheit (cerca de 38 graus Celsius), os recifes estão passando por eventos de branqueamento sem precedentes. (3)

A Grande Barreira de Coral da Austrália está sofrendo um “branqueamento massivo”. O fenômeno é provocado pelas mudanças climáticas. O maior recife de corais do mundo, que se estende por mais de 2.300 km ao longo da costa nordeste australiana, abriga cerca de 1.500 espécies de peixes e 4.000 tipos de moluscos. Com o aumento da temperatura das águas, o fenômeno passa a ser dificilmente reversível, segundo cientistas. O novo episódio de branqueamento massivo, o sétimo desde 1998, foi confirmado por cientistas que trabalham para o governo da Austrália, com base em registros aéreos realizados em 300 recifes pouco profundos. Estudos complementares devem ser realizados para avaliar a gravidade e a extensão do fenômeno, de acordo com a autoridade australiana encarregada de recifes de coral. (4)

O fenômeno do branqueamento está avançando em recifes de corais do Nordeste brasileiro. O monitoramento feito na região de Tamandaré (PE), no setor norte da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, mostra que as espécies mais sensíveis, os corais-de-fogo (Millepora sp.), já têm branqueamento “bastante extenso”. (5)

Além de combater as mudanças climáticas que contribuem para a elevação da temperatura dos oceanos, outras medidas são importantes para melhorar a saúde dos recifes de corais, entre elas evitar o lançamento de esgoto no mar, reduzir o uso de plástico (que acaba chegando aos oceanos) e preservar ecossistemas associados como o manguezal e a restinga. (5)

Referências Bibliográficas

1 Global tropical reef fish richness could decline by around half if corals are lost. Giovanni Strona, Kevin D. Lafferty, Simone Fattorini, Pieter S. A. Beck, François Guilhaumon, Roberto Arrigoni, Simone Montano, Davide Seveso, Paolo Galli, Serge Planes and Valeriano Parravicini, 2021, Proc. R. Soc. B.2882021027420210274 http://doi.org/10.1098/rspb.2021.0274

2 https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2021/07/aquecimento-dos-oceanos-e-perda-de.html?q=corais

3 https://www.eenews.net/articles/ecological-emergency-grips-florida-coral-reef/

4 https://www.rfi.fr/br/mundo/20240308-austr%C3%A1lia-branqueamento-de-corais-causado-por-crise-clim%C3%A1tica-%C3%A9-dificilmente-revers%C3%ADvel-diz-cientista

5 https://www.tnh1.com.br/noticia/nid/branqueamento-de-corais-avanca-no-nordeste-mostra-pesquisa/

6 Soriano, E.M.; Silva, I.B.; Martins, E.O.V.; Amaral, R.F. 2008. Biodiversidade em Risco. Revista Ciência Hoje / Edição 247.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico da empresa Canal Geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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