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Artigo

A tragédia no Rio Grande do Sul e as fake news

 

fake news sobre a tragédia no Rio Grande do Sul
Ilustração de @crisvector

 

Já não bastasse a tragédia em si, há que se dedicar tempo e energia em desmontar falsas narrativas e toda a sorte de fake news que pululam nas redes sociais e nas conversas cotidianas

Artigo de Rodrigo Augusto Prando

O Brasil está inexoravelmente ligado não apenas à realidade social, mas às narrativas acerca dessa realidade, não raro, a um conjunto notícias falsas e negacionismos. E isso, infelizmente, tem se repetido nos dias que correm no que tange à tragédia vivenciada pelo povo gaúcho.

Não faz muito, publiquei, em parceria com minha colega Deysi Cioccari, o livro “Fake news na política” (Editora Almedina – Coleção MyNews Explica) e, nesta obra, asseveramos o seguinte: “A mídia tradicional – jornais, revistas, rádio e televisão – cai em uma armadilha ao repercutir de forma indignada as fake news, pós-verdades e teorias da conspiração. Jornalistas profissionais estão, não raro, ao lado de especialistas para desmontar, ponto por ponto, as fake news. Passam parte do tempo de um telejornal informando a partir dos pressupostos que aprenderam nas universidades: ouvem as fontes, usam do senso crítico, apresentam dados etc. Terminam seu trabalho satisfeitos, pois acreditam que, com isso, eliminaram aquela fake news. Ledo engano. Os formuladores das fake news é que estão extasiados, pois suas criações ganharam o horário nobre, invadiram o espaço da mídia tradicional, pautaram o sistema e o establishment.”

O jornalista, aquele seriamente comprometido com a informação de qualidade, acaba, querendo ou não, tendo contato com a notícia falsa e essa não é apenas uma “mentirinha”, uma “outra forma de interpretar a realidade”. Ela, em verdade, é criada e, hoje, disseminada em uma surpreendente velocidade por conta dos algoritmos das redes sociais. É formulada com objetivos claros de trazer vantagens – econômicas ou políticas – a quem as desenvolve e prejuízos aos que são atingidos por ela. Há uma indústria bem fundamentada que tem a seu serviço os “engenheiros do caos”, título do livro de Giuliano Da Empoli.

Existe, de um lado, a produção massiva de fake news e teorias da conspiração; de outro, há uma corrida da mídia, de agências checadoras e de pesquisadores em desmentir, contextualizar e apresentar os fatos conectados à realidade. Temos à disposição algumas agências de checagem: Agência Lupa, Aos Fatos, Fato ou Fake e Comprova.

Muitos estudiosos fazem um trabalho abnegado de apresentar a anatomia de uma fake news e como ela impacta o debate público e até mesmo o Estado Democrático de Direito. Não se pode negar que a qualidade da democracia depende, em larga medida, da qualidade da informação que o cidadão tem acesso.

Nos últimos dias, pesquisadores identificaram alguns núcleos de fake news atinentes à tragédia no Sul do país: 1) o governo não faz nada para ajudar, então, civil ajuda civil; 2) o Estado é ausente, ineficiente, especialmente, o Exército; 3) disseminação de pânico econômico, com indicação de desabastecimento e, com isso, corrida aos supermercados para estocagem de alimentos.

A origem de parte substantiva dessas fake news são perfis de extrema direita que, entre outros objetivos, querem rotular o atual governo e, ainda, atacar as Forças Armadas, mormente o Exército, pois não perdoam o fato de o alto comando não ter aderido e dado sequência aos atos do 08 de janeiro e nem aos intentos golpistas de um cenário já conhecido e investigado.

Já não bastasse a tragédia em si, há que se dedicar tempo e energia em desmontar falsas narrativas e toda a sorte de fake news que pululam nas redes sociais e nas conversas cotidianas. Tenhamos consciência e senso crítico. Antes de assumir certezas ou compartilhar algo, questione, verifique e exerça sua cidadania.

Rodrigo Augusto Prando, Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Cientista Social, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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