A Índia vai enriquecer antes de envelhecer?
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Índia é um país com uma longa e rica história, tendo feito contribuições significativas para a humanidade ao longo dos séculos.
Tradicionalmente, ao longo de milhares de anos, a Índia manteve uma população numerosa, predominantemente jovem e com uma baixa proporção de idosos. No entanto, esse cenário começou a se transformar a partir da transição de fecundidade iniciada na década de 1970 e que foi acompanhada de uma mudança na estrutura etária.
O gráfico abaixo, com base na projeção média da Divisão de População da ONU, indica a evolução da população indiana a partir de quatro grupos etários entre 1950 e 2100. O grupo etário 0-19 anos tinha um montante de 171 milhões de crianças e adolescentes em 1950, representando 48% da população total. Com a queda da fecundidade, o grupo etário 0-19 atingiu o pico de 507 milhões em 2012, representando 40% da população total. Para o ano de 2100, a ONU estima 288 milhões de jovens, representando 19% da população total da Índia. Portanto, o número de jovens indianos de 0-19 anos vai ser maior do que em 1950, mas menor do que o pico de 2012.
O grupo etário 20-39 anos tinha 108 milhões de pessoas em 1950, representando 30% da população total e deve crescer até o pico de 493 milhões de pessoas 2033, quando representará 30,4% da população total. A partir de 2034 esse grupo de adultos jovens vai iniciar uma trajetória de declínio absoluto e relativo, devendo chegar em 2100 com 327 milhões de pessoas, representando 21% da população total.
O grupo etário 40-59 anos tinha 58 milhões de pessoas em 1950 (16% da população) e deve atingir um pico em 2053, com 468 milhões de pessoas, representando 28% da população. A partir de 2054 deve diminuir para 362 milhões de pessoas em 2100 (23,7% da população).
Já o grupo de idosos de 60 anos e mais de idade tinha somente 19 milhões de pessoas em 1950, representado meros 5,4% da população total. No século XXI, o número de idosos indianos vai disparar até atingir 500 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade em 2070, representando 30% da população total. As estimativas da ONU, para 2100, indicam um total de 552 milhões de idosos, representando 36% da população total da Índia, de 1,53 bilhão de habitantes.
Desta forma, a Índia passou de uma população jovem entre 1950 e 2012, para um país de jovens adultos entre 2013 e 2033, vai ser considerada uma sociedade adulta entre 2034 e 2053 e será uma sociedade plenamente envelhecida a partir de 2063.
Comparado com a China e o Brasil, a Índia tem uma estrutura etária muito mais rejuvenescida e ainda tem bastante tempo para aproveitar o 1º bônus demográfico, especialmente se conseguir aumentar as taxas de atividade da população feminina. De fato, na atual década, a Índia é um dos países com uma das maiores taxas de crescimento econômico.
O gráfico abaixo, com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em preços contantes, em poder de paridade de compra (ppp), mostra a renda per capita da Índia de 1980 a 2022, com projeções até 2028. Nota-se que a Índia tinha uma renda per capita de US$ 1,2 mil em 1980, passou para US$ 7 mil em 2022 e deve chegar a US$ 9,6 mil em 2028. Portanto, a Índia ainda é um país pobre, classificado como país de baixa renda. Mas tem apresentado taxas elevadas de crescimento do PIB e um crescimento anual de cerca de 5% na atual década.
A Índia vai ser uma sociedade plenamente envelhecida a partir de 2063. Portanto, tem cerca de 40 anos para entrar no clube dos países de alta renda e de elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Ou seja, tem cerca de 4 décadas para enriquecer antes de envelhecer. A Índia pode atingir uma renda per capita de US$ 30 mil em 2063, se mantiver um crescimento da renda per capita de 3,5% ao ano durante os próximos 40 anos.
Mas além do envelhecimento populacional, a Índia terá um desafio ainda maior que é a crise climática e ambiental.
Os rios da Índia são totalmente poluídos e as cidades possuem uma péssima qualidade do ar. A Índia já é o terceiro país que mais emite gases de efeito estufa (atrás apenas da China e dos EUA). Em 2022 a Índia ultrapassou as emissões da União Europeia. Quando se mede as emissões por área, a Índia já está em segundo lugar. No ritmo dos últimos anos a Índia pode ultrapassar os EUA em emissões de gases de efeito estufa nos próximos 15 anos.
É certo que a Índia precisa reduzir a pobreza e a fome e avançar no bem estar social. Mas também é certo que não há futuro sem uma melhora significativa em relação com o meio ambiente. Desta forma, a Índia tem muitos desafios para enfrentar antes de ser uma sociedade plenamente envelhecida.
Referências:
ALVES, JED. A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais, Ecodebate, 10/08/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/08/10/a-india-como-o-pais-mais-populoso-do-mundo-e-com-enormes-desafios-ecossociais/
ALVES, JED. China e Índia são dois grandes emissores globais de CO2, Ecodebate, 10/11/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/11/10/china-e-india-sao-dois-grandes-emissores-globais-de-co2/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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