As gerações em conflito e o mercado
Artigo de Montserrat Martins
Minha mãe diz que nasceu na geração errada, quando era pequena os pais mandavam nos filhos, mas quando chegou na época dela, os filhos mandavam nos pais. Tirando o exagero, é um retrato dos contrastes de época, uma revolução de costumes aconteceu nas últimas décadas, sem dúvida.
É comum que as gerações antigas tenham histórias mais sofridas, de pessoas que passaram muito trabalho não apenas para suas conquistas materiais, mas até para conquistar sua liberdade de escolha, com tantos preconceitos e normas rígidas que as famílias tinham. Por não querer repassar o que não gostavam, as novas gerações foram criadas com mais regalias e mais liberdade, mas isso acabou gerando outros tipos de conflitos.
A famosa “chantagem emocional” começa num choque de expectativas diferentes. Quem foi criado com menos sacrifícios acha isso normal e acredita que era uma obrigação lhe darem tudo, mesmo, enquanto que quem fez mais pelos filhos do que recebeu, esperava reconhecimento do seu esforço. É assim que começam muitos conflitos entre gerações, em família.
“Proteção desprotege” é uma frase interessante (de música do Erasmo Carlos), pois quem protege os filhos (o que é, em parte, instintivo) não poderia ficar, depois, se queixando da “geração mimimi” que ajudou a criar. As pessoas que tiveram de lutar pelo básico são mais “calejadas” para a vida e acham normal passar dificuldades até atingirem seus objetivos, quem foi protegido espera continuar sendo.
Cada família vive esses conflitos como algo íntimo, mas é um fenômeno muito mais geral, uma realidade social explicada pela sociologia e até pela economia. Na cultura dos clãs eram valorizadas tradições, ancestrais a anciãos lideravam.
No capitalismo atual, a necessidade de venda de produtos para crianças leva a “empoderar” os filhos desde cedo, jovens são um grande mercado consumidor e precisam ser estimulados a reivindicar seus direitos, para que a roda da economia gire mais rápido.
Embora a moral antiga diga que a pessoa deva conquistar ou merecer o que pretende ter, o capitalismo estimula os “direitos” ao consumo, cabendo aos pais prover os desejos dos filhos. Não existe um “manual capitalista” dizendo isso, que fica implícito nos comerciais de produtos para crianças e adolescentes. Se eles são estimulados a desejar tal tênis, tal jogo (das novas tecnologias) ou tal smartphone, fica implícito que os pais pagarão.
Não foram as famílias que mudaram, foi a sociedade, as famílias só sofrem consequências.
Montserrat Martins é Psiquiatra.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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O grande problema entre as gerações é que a atual tem motivações diferentes das anteriores, tem uma vivência diferente, nada é como era antes