Os países menos desenvolvidos e o avanço do IDH
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador sintético usado para estimar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada sociedade com base na avaliação de três áreas fundamentais: saúde, educação e renda.
O IDH é um indicador numérico que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de zero, menor é o nível de bem-estar e quanto mais próximo de 1, maior é o nível de bem-estar e progresso nacional. O ranking global de 2022 apresenta o nível do IDH por ordem decrescente de 193 países do mundo.
O relatório “Breaking the gridlock: Reimagining cooperation in a polarized world” (UNDP, 14/03/2024) alertou para a estagnação do IDH nos últimos anos, por conta de uma conjuntura global marcada por impasses internacionais exacerbados por uma polarização crescente dentro das nações, pela disputa comercial mercantilista e por aumentos dos conflitos armados entre os países, o que se traduz em barreiras à cooperação internacional e em retrocessos sociais e ambientais.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP na sigla em inglês) divulgou, em março de 2024, o ranking do IDH de 2022 para os países e para as regiões. O gráfico abaixo mostra o IDH para 4 categorias definidas por nível de desenvolvimento. Nota-se que o IDH avançava em todas as regiões entre 1990 e 2015, mas diminuiu o ritmo após 2015 e estagnou entre 2019 e 2022.
Os países com baixo nível de desenvolvimento tinham um IDH de 0,354 em 1990 e os países com muito alto nível de desenvolvimento tinham um IDH de 0,785, pouco mais de 2,2 vezes superior. No ano 2000, os valores do IDH tinham passado para 0,398 e 0,828, uma diferença de 2,1 vezes. No ano 2022, os países com baixo nível de desenvolvimento tinham um IDH de 0,517 e os países com muito alto nível de desenvolvimento tinham um IDH de 0,902, cerca de 1,7 vezes superior. Portanto, as desigualdades permanecem, embora a diferença tenha diminuído nos extremos do IDH, considerando o nível de desenvolvimento.
Considerando o período de 1990 a 2022, o IDH dos países de IDH muito alto aumentou ao ritmo de 0,44% ao ano. Os países de IDH alto avançaram ao ritmo de 0,98% ao ano. Os países de IDH médio avançaram 1,16% ao ano. E os países de IDH baixo avançaram em um ritmo um pouco mais veloz de 1,19% ao ano. Sem dúvida a convergência é uma boa notícia, mas o fato é que o IDH do topo do ranking global tende a ser realmente menor, pois já está em um nível alto, enquanto é mais fácil acelerar o IDH do países de baixo desenvolvimento.
Porém, existem países que retrocederam no IDH nos anos 2000. Por exemplo, a Venezuela tinha um IDH de 0,699 no ano 2000, subiu até 2015 e voltou para o mesmo nível de 0,699 em 2022. O Iêmen tinha um IDH de 0,434 no ano 2000 e caiu para 0,424 em 2022. Portanto, a principal tarefa da governança global é evitar retrocessos e garantir o aumento do IDH dos países mais pobres.
Na primeira década do século XXI os países de baixo IDH estavam avançando ao ritmo de 1,74% ao ano. Nesta velocidade, a convergência entre os extremos do ranking do IDH poderia ser garantida em menos de 40 anos. Mas o quadro mudou após a crise financeira de 2008/09 e do aumento dos conflitos nacionais e internacionais na segunda década do século XXI.
Agravando a situação, a crise climática e ambiental tem aumentado os eventos extremos, com consequências sociais calamitosas. O ano de 2023 registrou a maior concentração de CO2 na atmosfera e a maior temperatura média global.
A emergência climática é uma ameaça não só à saúde global (afetando a expectativa de vida, que é um dos indicadores do IDH), mas também tende a agravar a fome e a pobreza.
Para vencer a pobreza e avançar no IDH é preciso aproveitar o 1º bônus demográfico, como mostrei no artigo “Os países com menor fecundidade possuem maior IDH” (Alves, 11/03/2022), publicado no Portal Ecodebate. Todos os países com IDH muito alto ou alto avançaram na transição da fecundidade e passaram por uma mudança na estrutura etária com redução da razão de dependência demográfica.
Desta forma, para avançar com o IDH não basta melhor o padrão de vida social e os indicadores demográficos, mas é preciso também reduzir a pegada ecológica global, reduzir urgentemente as emissões de gases de efeito estufa e recuperar a saúde dos ecossistemas.
A transição demográfica e a transição energética são vetores fundamentais, mas não exclusivos, para o progresso dos indicadores de desenvolvimento humano.
Referências:
ALVES, JED. Os países com menor fecundidade possuem maior IDH, Ecodebate, 11/03/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/11/03/os-paises-com-menor-fecundidade-possuem-maior-idh/
The 2023/24 Human Development Report. Breaking the gridlock: Reimagining cooperation in a polarized world, UNDP, MARCH 14, 2024
https://www.undp.org/sites/g/files/zskgke326/files/2024-03/hdr2023-24reporten_2.pdf
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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