O gelo da Antártida encolhe para mínimos históricos pelo 3º ano consecutivo
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas à medida que cresce a concentração de CO2 na atmosfera
O gelo marinho ao redor da Antártida diminuiu na primeira metade do século passado e depois aumentou nas últimas décadas do século XX. Enquanto o gelo no resto do mundo diminuía devido às mudanças climáticas, o bloco de gelo ao redor do continente meridional aumentava.
Uma pesquisa recente, publicada na revista Nature Climate Change por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Ohio, comprovou que a quantidade de gelo marinho aumentou até 2015. A despeito das variações anuais, a reta de tendência dos dados mensais estava sempre direcionada para cima e a inclinação era positiva.
O gráfico abaixo mostra os dados relativos ao mês de fevereiro. Nota-se que entre 1979 e 2017 a inclinação da reta era de 3,0 + ou – 3,8% por década, mesmo considerando que em 2016 e 2017 a anomalia tenha ficado abaixo da média do período. Mas considerando o período 1979 e 2024 a inclinação da reta ficou negativa, marcando – 2,0 + ou – 3,4%. Ou seja, atualmente, o gelo da Antártida apresenta uma variação negativa no mês de fevereiro.
O gráfico abaixo, também da National Snow & Ice Data Center (NSIDC), mostra que a extensão de gelo marinho na Antártida para diversos anos e a média do período 1981-2010. Nota-se que nos últimos 3 anos (2022-2024) registraram recordes de mínimo de gelo ao redor do continente meridional. O mês de fevereiro de 2023 apresentou menor nível de gelo da série, mas 2022 e 2024 também apresentaram mínimos semelhantes.
Artigo de Shepherd et. al. , E. et al., publicado na Revista Nature (24/04/2018) mostra que o balanço de massa de superfície indica uma perda de 2.720 ± 1.390 bilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017, o que corresponde a um aumento no nível médio do mar de 7,6 ± 3,9 milímetros. Durante esse período, o derretimento causado pelo oceano fez com que as taxas de perda de gelo da Antártida Ocidental aumentassem de 53 ± 29 bilhões para 159 ± 26 bilhões de toneladas por ano; o colapso das prateleiras de gelo aumentou a taxa de perda de gelo da Península Antártica de 7 ± 13 bilhões para 33 ± 16 bilhões de toneladas por ano.
Agora em 2024, glaciologistas alertaram que algo ainda mais alarmante está acontecendo na camada de gelo da Antártida Ocidental – grandes rachaduras e fissuras se abriram tanto no topo quanto embaixo da geleira Thwaites, uma das maiores do mundo. A plataforma Thwaites faz a Larsen B parecer um pingente de gelo, pois é cerca de 100 vezes maior e contém água suficiente para elevar o nível do mar em todo o mundo em mais de meio metro.
Neste quadro, o nível do mar pode subir vários metros até o século XXII, dependendo dos níveis das emissões futuras e da aceleração do aquecimento global. As gerações que ainda irão nascer vão herdar um mundo mais complicado e mais inóspito, podendo haver uma mobilidade social descendente em um mundo com muitas injustiças ambientais, apartheid climático e conflitos de diversas ordens.
O fato é que o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas à medida que cresce a concentração de CO2 na atmosfera e o consequente aumento da temperatura global. Muitas áreas litorâneas vão ficar debaixo d’água e os danos sociais e econômicos serão incalculáveis.
Referências:
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
Shepherd, A., Ivins, E., Rignot, E. et al. Mass balance of the Antarctic Ice Sheet from 1992 to 2017. Nature 558, 219–222 (2018) doi:10.1038/s41586-018-0179-y, 24 April 2018
https://www.nature.com/articles/s41586-018-0179-y
National Snow and Ice Data Center (NSIDC) https://nsidc.org/data/seaice_index/
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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