Conhecer a Amazônia antes que acabe
Mapa da Amazônia Legal 2019, IBGE
Conhecer a Amazônia antes que acabe, artigo de Heraldo Campos
Recentemente escrevi o artigo “Gravata florida”, sobre a atividade predatória, ilegal, criminosa do garimpo na Amazônia, invadindo território Yanomani e volto a bater na mesma tecla, como escrevi em outras oportunidades e que reforço nessa presente crônica, ou seja, mesmo que “(…) a legislação permita a destruição do maquinário para extração do ouro em território Yanomami (…)”, se não “(…) seria uma solução razoável a transferência para outras áreas mais distantes da região Amazônica desses equipamentos (motores e bombas), onde poderiam sofrer adaptações e reaproveitados na captação de água, como em regiões mais carentes desse recurso? O Semiárido Brasileiro, que se estende por nove estados da região Nordeste e também pelo norte de Minas Gerais, poderia ser uma dessas áreas de transferência. (…)”.
Além disso, acrescento que “(…) como existe a preocupação social com o grande contingente de garimpeiros que atuaram no garimpo ilegal e predatório – que de certa forma ficaram “deslocados do mercado de trabalho” – aqueles que não são os mandantes e sem antecedentes com a justiça poderiam ser reaproveitados como mão de obra no replantio da vegetação retirada, desde que devidamente cadastrados junto aos órgãos fiscalizadores e monitorados, controlados e vigiados nessa importante etapa de recuperação das áreas degradadas.”
Isto posto, recebi comentários de profissionais que conhecem a Amazônia sobre a dificuldade para remoção de equipamentos dessa região e da possibilidade de retorno ao garimpo predatório, com a não esperada utilização da mão de obra local na recuperação das áreas degradadas. Contra argumentei dizendo que, como “intervenção cirúrgica”, a destruição dos equipamentos pode valer algum impacto mas que continuava achando um desperdício, na visão de uma pessoa que nunca colocou o pé na Amazônia e não conhece, de perto, a realidade do garimpo predatório do ouro. E como uma vontade pessoal foi manifestada de conhecer essa maltratada região do planeta, um amigo chegou até a recomendar “Aproveite para conhecer antes que acabe”.
Será mesmo que chegamos num ponto sem volta? Ou existe a esperança de que uma política ambiental voltada para a maioria da população prevaleça, pois o atual governo federal voltou a usar imagens de satélites para detectar os desmatamentos ilegais, como divulgou a grande mídia nos últimos dias.
Notas
1) Artigo “Gravata florida” publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos
https://www.ihu.unisinos.br/630671-gravata-florida-artigo-de-heraldo-campos
2) Texto da crônica “Conhecer a Amazônia antes que acabe”, selecionada para a seção Crônicas – destaques (p.69) da coletânea Amazônia – contos, crônicas e poemas. 1ª ed. Paraty: Selo Off Flip, 2023. 168p.
Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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