Empaticologia, a ciência que falta
Empaticologia, a ciência que falta, artigo de Montserrat Martins
Empatia é uma das palavras da moda e talvez a mais linda delas, depois de amor. Todo mundo quer receber empatia, que os outros se coloquem no seu lugar. O chato é ter que se colocar no lugar dos outros…
Mas isso não é difícil só na prática, também há uma confusão enorme de empatia com outras coisas, como simpatia, afinidade, identificação e até mesmo fantasia.
A primeira vez que alguém se dedicou a estudar a empatia como algo científico foi há quase um século, quando o psicólogo Carl Rogers, em Chicago (Estados Unidos), foi o primeiro a gravar sessões de psicoterapia e estudá-las. Ele fez uma pesquisa, por exemplo, em que os clientes (como ele chamava o que os médicos chamam de pacientes) emitiam seu parecer sobre o grau de empatia que recebiam, a cada momento, assistindo as gravações. O mesmo com os terapeutas. E por fim com juízes neutros, cuja avaliação foi muito mais parecida com a dos clientes que com a dos terapeutas.
Rogers e sua equipe desenvolveram uma teoria da psicoterapia a partir das suas pesquisas, mas depois disso passaram para outras áreas, como teoria da personalidade e das relações humanas, por fim passou a se dedicar a grandes grupos de encontro e a escrever livros para o público leigo. A empatia, que ele foi o primeiro a estudar, não se transformou numa ciência (sua teoria mais ampla, sobre relações humanas, ele chamou de Abordagem Centrada na Pessoa).
Não existe uma disciplina de Empatia, até hoje, nas faculdades de Psicologia, nem nas de Medicina, nem nos cursos de especialização em Psiquiatria. Mas o que um cliente (ou paciente) espera encontrar em um terapeuta e o que um terapeuta acredita oferecer? É difícil imaginar uma relação terapêutica se não houver empatia entre as partes. Mas o que é “empatia”, afinal, já que todos os procedimentos, métodos e teorias são estudados cientificamente, mas a empatia não? Porque não existe uma ciência da empatia ?
Psicologia é algo que parece que sempre existiu, mas a palavra só foi criado lá pelo ano 1500, por um humanista croata. A Sociologia em 1780, por um ensaísta francês. Ecologia é mais recente, foi criada por um cientista alemão em 1866. A Vitimologia, só em 1956. E não existe, até 2023, uma ciência dos processos empáticos, uma Empaticologia (a não ser como uma ideia, registrada na Wikipedia em 2009). Mesmo já tendo sido feitos estudos e pesquisas a respeito, a Empatia até hoje ainda não foi considerada, pela comunidade acadêmica, como tão fundamental a ponto de merecer uma disciplina própria e científica, em pleno século 21. Quanto tempo mais vai demorar para ser considerada fundamental?
Montserrat Martins é Psiquiatra
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
De fato, a empatia merece destaque, estudo e exercício. Poderia ser denominada a ciência de ser e fazer feliz o próximo e o distante de todas as espécies sencientes.
Muito boa a idéia, o que mais escuto como reclamação de pacientes é que eles foram atendidos de forma grosseira por alguns terapeutas!