O profundo e acelerado envelhecimento populacional do Brasil
O profundo e acelerado envelhecimento populacional do Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Além de ficar mais idoso, o Brasil está ficando mais feminino e isto pode ser um trunfo para alavancar o desenvolvimento nacional
O IBGE divulgou as informações da população brasileira para todos os municípios do país, detalhando os dados por sexo e idade, apurados pelo censo demográfico de 2022. O censo demográfico é a única pesquisa planejada para visitar todos os domicílios brasileiros, possibilitando traçar um panorama detalhado das características sociodemográficas e espaciais de todo o território nacional. Estes dados são fundamentais para a formulação das políticas públicas e para as decisões de investimento da iniciativa privada.
Como já era sabido e esperado, os dados do censo demográfico de 2022 mostraram que a estrutura etária brasileira está em rápida transformação, com a diminuição do número de crianças, adolescentes e jovens, uma desaceleração do crescimento da população adulta em idade considerada ativa (15-59 anos) e uma aceleração do aumento da população idosa de 60 anos e mais de idade.
A população brasileira total era de 93,1 milhões de habitantes em 1970 e passou para 203,08 milhões em 2022, aumentando 2,2 vezes no período. A população de crianças e adolescentes, de 0 a 14 anos, passou de 39,1 milhões em 1970 para 40,1 milhões em 2022, ficando praticamente do mesmo tamanho. Mas a população idosa deu um salto.
O gráfico abaixo mostra que a população idosa (60 anos e +) no Brasil era de 4,8 milhões de pessoas em 1970, passou de 10 milhões em 1991, ultrapassou 20 milhões em 2010 e chegou a 32,1 milhões de pessoas em 2022. Houve um aumento de 6,6 vezes entre 1970 e 2022. Portanto, o Brasil está envelhecendo e envelhecendo de forma inexorável e em ritmo acelerado.
O gráfico abaixo mostra o número de idosos brasileiros de 80 anos e mais de idade, que era de 451 mil indivíduos, passou para 2,9 milhões em 2010 e chegou a 4,6 milhões de indivíduos em 2022, decuplicando entre 1970 e 2022. O crescimento mais rápido do topo da pirâmide etária mostra que o Brasil não só está envelhecendo, como está tendo um processo de envelhecimento do envelhecimento, como mostrei no artigo “O envelhecimento do envelhecimento no Brasil e no mundo” (Alves, 30/08/2022).
O gráfico abaixo mostra a percentagem da população brasileira a partir de 3 grupos: jovens (0-14 anos), adultos (15-59 anos) e idosos (60 anos e mais de idade), com base nos dados dos censos demográficos do IBGE. Nota-se que o percentual de jovens diminui aproximadamente pela metade, passando de 42% em 1970 para 19,8% em 2022. O grupo considerado em idade produtiva (15-59 anos) aumentou de 52,7% em 1970 para 65,1% em 2010 e diminuiu para 64,4% em 2022. Já o grupo de idosos (60 anos e +) passou de 5,1% em 1970 para 15,8% em 2022. Portanto, os idosos foram o único grupo que aumentou sua participação na população total no último período intercensitário.
A redução relativa do grupo etário 15 a 59 anos nos últimos 12 anos, indica que o 1º bônus demográfico já ultrapassou o auge do momento mais favorável da transição demográfica e que a janela de oportunidade já começou a se fechar e a proporção de “produtores efetivos” deve diminuir em relação aos “consumidores efetivos”. Mas o fim do 1º bônus demográfico não é o fim do mundo.
Evidentemente, é preciso estar atento para a possibilidade de o Brasil envelhecer antes de enriquecer e ficar eternamente preso na armadilha da renda média. Sem dúvida, o país precisa dobrar a renda per capita e galgar melhores posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
De fato, o envelhecimento populacional traz desafios, mas também traz oportunidades. O Brasil ainda pode contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade), uma vez que a redução do volume de trabalhadores pode ser compensada por trabalhadores mais produtivos se houver investimentos adequados na saúde, educação, infraestrutura, comunicação, ciência e tecnologia, etc.
O Brasil pode contar ainda com o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade). O aumento do volume e da proporção de idosos pode ter efeitos benéficos para a economia se o país contar com o envelhecimento saudável e ativo, uma vez que o grande contingente de pessoas da terceira idade deve ser encarado como um ativo e não com um passivo, como mostrei no artigo “O 3o bônus demográfico e o direito ao trabalho da população idosa” (Alves, 25/07/2023).
Os países ricos e com elevado IDH possuem uma estrutura etária envelhecida, como mostrei no artigo “Como os países podem enriquecer e envelhecer ao mesmo tempo” (Alves, 18/10/2023). Maturidade econômica e demográfica andam juntas. Os países que apresentaram avanço do IDH fizeram isto juntamente ao avanço da transição demográfica e, conjuntamente, ao processo de envelhecimento populacional.
Além de ficar mais idoso, o Brasil está ficando mais feminino e isto pode ser um trunfo para alavancar o desenvolvimento nacional. O Brasil teve maioria de homens na população durante a maior parte de sua história. O gráfico abaixo mostra que havia 317,3 mil homens a mais que mulheres no primeiro censo realizado em 1872. Este superávit permaneceu nas décadas seguintes e era de 252 mil homens em 1920. Em 1930 não houve censo. Em 1940 houve virtualmente um empate.
Mas partir de 1950 o superávit feminino aumentou e ultrapassou 6 milhões de pessoas em 2022. As mulheres possuem maiores níveis de escolaridade em relação aos homens e foram fundamentais para o bônus demográfico, que é fundamentalmente feminino no Brasil.
O Brasil está ficando mais idoso e mais feminino. Não cabe demonizar a dinâmica demográfica brasileira. O Brasil ficou cerca de 500 anos com uma estrutura etária jovem. Nos anos 2000, a história será diferente, pois serão “outros quinhentos”.
O Brasil vai continuar envelhecendo no século XXI e continuará envelhecido nos séculos seguintes. O que precisa mudar é a mentalidade daquelas pessoas que enxergam os idosos como um óbice ao invés de reconhecer as potencialidades da população da terceira idade.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. O envelhecimento do envelhecimento no Brasil e no mundo, Portal do Envelhecimento, 30/08/2022 https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/o-envelhecimento-do-envelhecimento-no-brasil-e-no-mundo/
ALVES, JED. O 3o bônus demográfico e o direito ao trabalho da população idosa, Portal do Envelhecimento, 25/07/2023 https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/o-3o-bonus-demografico-e-o-direito-ao-trabalho-da-populacao-idosa/
ALVES, JED. Como os países podem enriquecer e envelhecer ao mesmo tempo, Portal do Envelhecimento, 18/10/2023 https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/como-os-paises-podem-enriquecer-e-envelhecer-ao-mesmo-tempo/
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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Interessante a matéria..boa.
Chato é
esse bombardeamento de anúncios
Excelente e respeitável exposição.Parabéns ao autor!
Entretanto, por quê nas perspectivas ( boas e otimistas, o que aprecio), não foi comentado o grave problema que se forma e matematicamente virá, quanto à desproporção dos contribuintes para o sistema nacional de aposentadorias x velocidade de crescimento das aposentadorias?