Presença de nitrato nas águas subterrâneas
Presença de nitrato nas águas subterrâneas, artigo de Heraldo Campos
A contaminação dos solos e das águas, sejam águas superficiais ou subterrâneas, por elementos, compostos ou organismos que possam prejudicar a saúde do homem, de animais e da vegetação pode ocorrer tanto no meio urbano ou rural e é umas das grandes preocupações do mundo moderno.
Quando a contaminação não tem origem natural, provocada por constituintes dissolvidos de minerais das rochas e dos solos, ela é proveniente de atividades humanas e acabam atingindo os mananciais.
Alguns compostos químicos presentes nas águas subterrâneas podem denunciar contaminação. Existe, por exemplo, uma variação dos teores de nitratos que não tem relação direta com as características das rochas que compõem os diferentes reservatórios subterrâneos.
Se os teores de nitratos das águas de poços excedem o limite recomendado, quase sempre delatam que os poços estão contaminados pela atividade humana. Isso acontece pela proximidade de fossas negras ou mesmo de estábulos na zona rural, além da possibilidade de existir contaminação por meio de fertilizantes agrícolas.
A presença em excesso de nitrato nas águas pode causar, principalmente, duas doenças graves: a metamoglobinemia (também conhecida como a síndrome do bebê azul) e o câncer gástrico.
A restauração de aquíferos contaminados, ou de determinados volumes de águas armazenados nos reservatórios subterrâneos, somente acontece quando ocorre a sua integral reparação e as águas subterrâneas voltarem a apresentar os mesmos parâmetros de qualidade química natural, sem apresentar vestígios de contaminação de origem antrópica.
O tratamento dos solos e das águas é bastante complexo e uma das formas para se tentar trazê-la mais próxima das condições naturais é através da remediação. A remediação consiste em retirar ou atenuar a concentração do contaminante do solo. Ela é feita com o emprego de diversos métodos de engenharia, para que a concentração seja reduzida a limites predeterminados na avaliação de risco da saúde humana, apoiado na legislação vigente.
De um modo geral, pode-se dizer que os métodos de remediação incluem várias etapas. A escavação, a remoção e a destinação do solo contaminado; o bombeamento e o tratamento das águas superficiais e subterrâneas; a extração de vapores do solo; a construção de barreiras reativas permeáveis; a oxidação química e a redução química in situ e a biorremediação, entre outras etapas. A biorremediação é uma técnica de remediação e se baseia na utilização de micro-organismos na degradação dos contaminantes existentes no solo e nas águas. Esses microrganismos podem ser adicionados ao ambiente contaminado ou estimulados ao crescimento por meio de nutrientes.
No caso específico das águas subterrâneas, “Na remoção de nitratos utiliza-se uma coluna de troca iônica. A resina permuta o nitrato presente na água pelos ions cloreto. Quando a resina deixa de fazer a permuta iônica, a mesma é regenerada e volta a estar operacional. A regeneração é realizada pela colocação de uma solução salina com cloreto de sódio, sendo que na coluna os ions nitrato são novamente substituídos pelo ion cloreto, sendo os nitratos eliminados através do fluxo de saída. Depois de uma lavagem final para remover o excesso de sal, o aparelho fica automaticamente pronto para ser utilizado. O processo realiza-se de forma automática, tendo os serviços apenas têm que assegurar que o tanque da salmoura é mantido com sal nas quantidades adequadas ao bom funcionamento do sistema.” [1]
Por outro lado, “Diversas técnicas para remediação/remoção do nitrato têm sido desenvolvidas e aplicadas ao tratamento in situ das águas subterrâneas, bem como aquelas utilizadas em sistemas de tratamento de água. Há técnicas que foram concebidas com o intuito de reduzir a concentração de nitrato mediante os processos de desnitrificação química ou biológica, em que o nitrato (NO3-) é convertido a gás nitrogênio (N2). Outras foram geradas para remover o nitrato da água e concentrá-lo em um fluxo de resíduos que, por sua vez, precisam ser dispostos adequadamente (…)”.
Atualmente, as técnicas mais utilizadas são divididas em dois grupos principais: in situ (p.e. barreiras reativas, técnicas biológicas e eletroquímicas) e ex situ (p.e. troca iônica, osmose reversa, eletrodiálise, redução catalítica). (…)”. [2]
Além disso, “A eliminação do nitrato das águas subterrâneas após sua extração pode ser conduzida a partir de filtração por osmose reversa. Entretanto, tal solução é bastante dispendiosa do ponto de vista financeiro, o que limita a sua utilização. Por esta razão, a maior parte das soluções propostas se baseia no tratamento in situ do nitrato, a partir da sua redução para N2 em processo conhecido como desnitrificação. (…)”. [3]
Pelo exposto, pode-se dizer que a presença dos nitratos nas águas subterrâneas ocorrem de maneira localizada e devido a má construção ou da deficiente manutenção dos poços tubulares e, grosso modo, não provocam uma contaminação generalizada dos reservatórios de águas subterrâneas (ou aquíferos), desde que logo identificada, sendo que as técnicas de remediação/remoção podem e devem ser aplicadas para cada caso específico.
“É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve.” (Victor Hugo)
Fontes
[1] Brasileiro, L.C.P.B. 2016. Controlo da qualidade do abastecimento público de água no Conselho da Guarda. Desinfecção de água de fontanários por lâmpadas UV – caso específico. Relatório de Projeto. Licenciatura em Energia e Ambiente. IPG. Politécnico da Guarda.
[2] CERH (Conselho Estadual de Recursos Hídricos). 2019. Nitrato nas águas subterrâneas: desafios frente ao panorama atual / São Paulo. Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Câmara Técnica de Águas Subterrâneas; Claudia Varnier (coord.). – São Paulo: SIMA / IG, 2019. 128p. (versão online). ISBN: 978-85-87235-25-1
[3] Stradioto, M.R.; Teramoto, E.H.; Chang, H.K. 2019. Nitrato em águas subterrâneas no Estado de São Paulo. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 40(3), 1-12, 2019.
* Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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