Agricultura urbana e a alimentação na Economia Circular
Agricultura urbana e a alimentação na Economia Circular
Você já se perguntou de onde vem a comida que vai parar no seu prato? Se aquilo que você come vem de perto ou não? Se é mesmo saudável ou fresco?
Neste 16 de Outubro, comemora-se o Dia da Alimentação e resolvemos trazer algumas reflexões sobre a temática em relação com a circularidade
Por Fabricio Junqueira
Você já se perguntou de onde vem a comida que vai parar no seu prato? Se aquilo que você come vem de perto ou não? Se é mesmo saudável ou fresco? De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os alimentos in natura, ou minimamente processados, são a base ideal de uma alimentação adequada. Eles são obtidos diretamente de plantas ou animais, com o mínimo ou nenhum tipo de processamento.
Ao sairmos em busca desses ingredientes nas compras, nossa preocupação deve se estender para além do sabor e da qualidade. Ponderamos o preço dos produtos, a distância até o local de compra, o tempo de deslocamento, o que engloba a emissão de carbono neste transporte, e diversos outros fatores que fazem parte da equação de um consumo mais sustentável. Estes são somente alguns dos muitos aspectos que nos possibilitam pensar a relação entre alimentação e Economia Circular.
Agricultura urbana e a circularidade
Mas de que forma podemos, efetivamente, agir nessa direção no nosso dia a dia? A Economia Circular aponta cada vez mais para alternativas viáveis, que são detentoras de oportunidades em se tratando de um futuro sem lixo, mais saudável e mais sustentável. Um exemplo prático desta relação é a agricultura urbana e as hortas urbanas – que vêm ganhando espaço nos últimos anos. Mais que uma solução para garantir alimentos frescos e de qualidade, produzidos bem próximos de nossas cozinhas. Pode-se considerar essa prática como uma verdadeira revolução comunitária.
Para a jornalista e ambientalista Claudia Visoni, fundadora da União de Hortas Comunitárias de São Paulo e cofundadora da Frente Alimentar, a agricultura urbana é uma potência e, por isso, é importante caracterizá-la bem.
“Há uma confusão entre o que é agricultura urbana e periurbana e hortas urbanas. Este é um dos pontos principais. Agricultura urbana e periurbana são agricultores profissionais que vivem na cidade. Enquanto as hortas comunitárias seriam muito mais um paisagismo comestível, um local de educação ambiental, educação nutricional, fortalecimento comunitário, oásis urbano, lugar de contemplação. Ali nem sempre se pratica economia, mas existem casos e casos”, afirma.
Um deles é o projeto Frente Alimenta que, segundo Visoni, alinha alimentação e outros princípios da Economia Circular. Eles entregam frutas, verduras e legumes sem agrotóxicos em cozinhas comunitárias em áreas de alta vulnerabilidade social em São Paulo; e apoiam pequenos agricultores agroecológicos urbanos e rurais da região, gerando renda para trabalhadores em situação de vulnerabilidade e contribuindo para a regeneração de ecossistemas e a proteção das fontes de água.
O surgimento do projeto coincidiu com o início da pandemia de Covid-19, que agravou a insegurança alimentar nas periferias de São Paulo e afetou os pequenos agricultores agroecológicos.
“A iniciativa surgiu como uma resposta emergencial para ajudar quem estava passando necessidade por causa da pandemia. Logo no começo, ativistas bancavam as ações por conta própria. O Instituto Kairós se tornou parceiro em 2012 e nosso foco passou a ser as cozinhas comunitárias. Hoje, a Frente Alimentar fornece alimentos saudáveis e melhorando a qualidade de vida dos beneficiários e incentivando a agricultura urbana em São Paulo, que possui um enorme potencial de produção”, explica Visoni.
A Frente Alimenta ainda oferece apoio técnico a hortas urbanas, capacitação para cozinheiras comunitárias e investimentos em equipamentos e infraestrutura. Em 2022, a iniciativa entregou 29 toneladas de alimentos em cozinhas comunitárias, preparou 111 mil refeições, distribuiu 2 mil cestas agroecológicas e beneficiou 6 cozinhas e 10 comunidades. “Tudo isso é feito, ainda, pensando em não gerar ou, ao menos, reduzir, a geração de lixo. Alimentos produzidos localmente não só dispensam embalagens – como absorvem grande quantidade de resíduo orgânico na fabricação de adubo e até materiais de difícil descarte como restos de madeira, que são usados na delimitação de canteiros”, ressalta a ambientalista.
Além de tudo isso, a produção agrícola nas cidades também minimiza a necessidade de transporte de alimentos a longas distâncias, reduzindo a pegada de carbono e o desperdício associado, mas para Visoni, sem o apoio do poder público, isso é difícil de ser feito. “É essencial que o poder público apoie o crescimento da agricultura nas áreas urbanas. Além de contribuir para a conservação de espaços públicos e reduzir a criminalidade, a agricultura urbana promove uma vida local mais vibrante e ajuda a conter o avanço descontrolado da mancha urbana, reduzindo a demanda por transporte”.
A agricultura urbana não apenas nos coloca em contato direto com a origem dos alimentos, mas também se alinha perfeitamente com os princípios da Economia Circular, inclusive, no aspecto social e pessoal. “Ela pode gerar emprego e renda, promover o renascimento da vida comunitária, oferecer lazer gratuito e melhorar a saúde física e mental das pessoas. Além disso, proporciona uma educação ambiental prática e nutricional, fortalece a segurança alimentar, integra agricultores e consumidores, e valoriza os saberes tradicionais de cultivo. Em um momento de polarização social, a agricultura urbana nos lembra da nossa interconexão com a natureza e a importância de reconstruir pontes entre as pessoas”, finaliza Visoni.
Circularidade nas casas e embalagens
Ao falarmos sobre economia circular na alimentação, não podemos deixar de mencionar a importância de reduzir o desperdício e repensar o ciclo de vida dos alimentos. Isso inclui a maneira como lidamos com resíduos e embalagens. A busca por alimentos não embalados, ou que utilizem embalagens sustentáveis, em conjunto com a redução do desperdício são elementos-chave desta equação.
“Ao olharmos para o nosso prato de comida, todos os dias, devemos celebrar. Ele é resultado do trabalho de dezenas, centenas de pessoas em parceria com o ambiente. Conhecer cada melhor toda essa cadeia, da produção ao eventual descarte, deve nos fazer refletir sobre questões éticas relacionadas à disponibilidade, ao acesso e, ao mesmo tempo, a todo o desperdício que ainda existe”, comenta o coordenador pedagógico do Movimento Circular, Professor Edson Grandisoli.
Afinal, a circularidade não se limita apenas à produção de alimentos, mas também ao que fazemos com as sobras de comida e embalagens após o consumo. A adoção de práticas de “lixo zero” em nossas casas e o apoio a iniciativas de reciclagem e reutilização de embalagens contribuem significativamente para a construção de uma economia mais circular e sustentável.
“Podemos e devemos fazer melhores escolhas todos os dias. É um aprendizado permanente na direção de zerar a quantidade de resíduos que produzimos e garantir acesso a alimentação saudável e de qualidade para todos. Ou seja, uma alimentação circular enquanto garantia de qualidade ambiental e direito humano”, finaliza Grandisoli.
Portanto, à medida que celebramos o Dia da Alimentação, vale a pena refletir sobre como nossas escolhas alimentares e práticas diárias podem desempenhar um papel fundamental na promoção da circularidade, tornando nossa relação com a comida mais saudável, sustentável e consciente.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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