Gaia pede atenção às Mudanças Climáticas

 

Gaia pede atenção às Mudanças Climáticas, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

As consequências provocadas pelo aquecimento global são claras e visíveis, parte da humanidade já passou por esses fenômenos extremos em suas vidas

As mudanças climáticas são previstas pelo mundo da ciência desde o século passado. Na década de 70, e sobretudo pela teoria de Gaia, do cientista inglês James Lovelock, ele dizia que a Terra se comportava como se fosse um ser vivo capaz de regular a sua própria temperatura, assim como os corpos vivos são capazes de regular automaticamente a própria temperatura. Esse fenômeno se chama “homeostase”.

Ele dizia que Gaia – expressão originária dos gregos para designar a Terra -, pela interação dos oceanos com a parte rochosa, com a atmosfera e a vida, promoviam um ambiente para a própria sobrevivência da vida na face da Terra. Assim é Gaia, se comportando como se fosse um ser vivo, regulando a temperatura em favor da vida, mas tendo em sua própria regulação da temperatura a vida como um dos fatores que ajudam nessa regulagem.

A teoria de Gaia hoje é aceita em grande parte do mundo da ciência, mas com um detalhe: Lovelock dizia que a Terra como um planeta já de 4,6 bilhões de anos, é um planeta envelhecido. Ainda mais, a ação do ser humano na face da Terra estava modificando a capacidade que a Terra tem de regular a sua própria temperatura.

Em seu livro “A vingança de Gaia”, o cientista Lovelock dizia que o planeta ia reagir às ações do humano para se defender e defender a própria vida. O que temos hoje são os fenômenos extremos da Mudança Climática global, que já estão acontecendo. O fato público mais recente é as elevação da temperatura muito além daquele 1,5o que os cientistas diziam que seria suportável, e já colocando a elevação acima de 2,5º em algumas cidades, até 4º em outras, inclusive entre essas cidades muitas são brasileiras, sobretudo as capitais do Norte, como Manaus, Belém, Porto Velho, Macapá. Portanto, o fenômeno já está acontecendo e as consequências são cada vez mais claras e mais perceptíveis

O clima sempre mudou, porém, a atividade antrópica moderna com seu padrão energético baseado em combustíveis fósseis, provocou o colapso do sistema Terra, gerando mudanças bruscas, aceleradas e imprevisíveis no clima devido ao aquecimento global.

As consequências provocadas pelo aquecimento global são claras e visíveis, parte da humanidade já passou por esses fenômenos extremos em suas vidas. Você tem regiões com secas muito mais prolongadas, em outros lugares com chuvas muito mais intensas, tempestades, ampliações de ciclones e furacões cada vez com mais intensidade. Esse é o caso do ciclone que se abateu especialmente no Rio Grande do Sul, ou as nevascas que também tem relação com as mudanças globais, ondas de calor cada vez mais intensas como agora no Brasil, em níveis praticamente insuportáveis para muitas formas de vida, inclusive para as vidas humanas.

O derretimento das geleiras, que para nós vai ter consequências sérias, como é o caso do derretimento das geleiras dos Andes, porque vai influenciar o volume de água da bacia amazônica, também dos rios que desaguam dos Andes em direção à Bacia do Prata. No primeiro momento você vai ter mais água, mas no futuro teremos secas, eliminação de rios e diminuição do volume d’água das bacias amazônicas e com isso a elevação dos oceanos. Então, os alagamentos nas cidades baixas vão aumentar sob a influência da elevação dos oceanos.

Além disso, tem toda a parte da vida humana, a tragédia socioambiental como é o caso do que aconteceu no Ciclone do Rio Grande do Sul, que levou embora as casas, os animais, a produção, os bens que as famílias tinham dentro das casas.

Os principais responsáveis pelas mudanças climáticas são aqueles que emitem os gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente quem emite o gás carbônico (CO2) e o gás metano (CH4). O CO2, emitido pela queima de combustíveis fósseis, libera o CO2 que antes estava preso debaixo da terra, principalmente a queima do petróleo. Uma vez queimado viram gás e vão para a atmosfera. É como se colocasse um cobertor em cima da Terra, o calor do sol entra, mas não sai, então se provoca um efeito tipo panela de pressão. Outras causas também são as queimadas e derrubadas de florestas, além da criação intensiva de animais que produzem o metano. Esses são os principais fatores mundiais para aumento dos gases de efeito estufa e por consequência de todas as mudanças climáticas.

O Papa Francisco debate muito sobre as Mudanças Climáticas na Laudato Si’. O Papa fala que as responsabilidades variam desde uma ecologia do cotidiano, do que podemos fazer dentro de casa, com nossos cuidados com a água, energia, com as plantas, ambiente da casa, do bairro, da cidade, no saneamento das cidades, enfim, essa ecologia que está ao nosso alcance no dia a dia, mas que devemos nos estender até a uma ecologia global. O Papa diz que tem níveis de responsabilidade, como a dos países com toda sua legislação, que devem proteger as suas florestas, o seu solo, uma política de combustível que está em andamento no mundo inteiro com a energia verde, como tal Hidrogênio Verde, até chegarmos a uma governança global do clima, que o Papa diz ser um “bem comum”.

Esse novo combustível, o Hidrogênio Verde, é um desafio, porque para você produzir esse novo combustível, é necessário ter energia limpa, como são consideradas a energia do sol e a energia dos ventos que no Brasil temos em abundância na região Nordeste. Mas, temos imensos problemas com os impactos que essas energias trazem nas comunidades. Então, nunca teremos uma energia totalmente limpa, teremos as energias que emitem menos CO2 e é por aí que a humanidade vai caminhando.

Hoje se fala muito nessa transição energética, um fator fundamental para mitigar as mudanças climáticas, mas talvez já seja tarde demais, porque as mudanças climáticas estão em ação. Grande parte da humanidade vai pagar um preço terrível e violento por essas mudanças que estão acontecendo. O mundo da ciência até agora parece passar a imagem, a impressão, de que é possível um certo controle sobre a reação de Gaia. Eu, pessoalmente, acho que não há como controlar esse fenômeno, e os cientistas também dizem que as mudanças climáticas que estão ocorrendo agora vão durar séculos, milênios, até que a Terra possa recuperar um equilíbrio novamente.

Relembramos que é um planeta envelhecido e que é um planeta com problemas da sua própria idade. A Teoria de Gaia, dá um exemplo a ser utilizado, se compararmos a vida da Terra com a vida de uma mulher que vai viver até os 100 anos. Nesse caso, a Terra já viveu por 80 anos. Então você coloca em milhões de anos, a Terra apresenta problemas de envelhecimento. Se você entende a Terra como um ser vivo, todo ser vivo nasce, cresce, se desenvolve, envelhece e… um dia morre. A Terra vai continuar por milhões e milhões de anos, a vida também, mas a previsão é que se torne mais hostil à vida e não terá mais a habitabilidade que possui hoje.

Enfim, há muito que ser corrigido e esclarecido nessa tal transição energética e nas medidas para amenizar o máximo possível os impactos das Mudanças Climáticas. Como diz o Papa Francisco, “se tardar mais, tarde demais”. E já passamos da hora há muito tempo!

* Roberto Malvezzi (Gogó), é especialista em temas socioambientais, membro da REPAM-Brasil.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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