A ASEAN e a América Latina em direções opostas na economia global
A ASEAN e a América Latina em direções opostas na economia global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
É preciso repensar a dinâmica interna da América Latina e Caribe e o posicionamento do continente no cenário global
A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Association of Southeast Asian Nations – ASEAN) é uma organização regional de países do sudeste asiático que foi criada, em 1967, por 5 países: Indonésia, Filipinas, Malásia, Singapura e Tailândia. Os principais objetivos da ASEAN-5 são acelerar o desenvolvimento econômico e social, apoiar a integração comercial e fomentar a paz e a estabilidade regional.
Os cinco países da ASEAN-5 possuem, em conjunto, uma população de 500 milhões de habitantes em 2023, número inferior aos 665 milhões de habitantes dos 34 países da América Latina e Caribe (ALC), compostos por: Antígua e Barbuda, Argentina, Aruba, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dominica, El Salvador, Equador, Granada, Guiana, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.
Em 1980, a população da ALC era de 362 milhões de habitantes, contra 258 milhões de habitantes do grupo de países da ASEAN-5. Entre 1980 e 2023, as duas população quase dobraram de tamanho.
Mas, em termos econômicos, as trajetórias dos dois grupos seguiram rumos opostos. A participação dos 33 países da ALC (o FMI não possui dados de Cuba) no PIB global era de 12% em 1980, enquanto a participação dos 5 países da ASEAN era de 3,2%.
Nas décadas seguintes a participação da ALC foi caindo e ficou em 7,2% em 2023 e deve ficar em 6,9% em 2028, enquanto a participação da ASEAN-5 chegou, respectivamente, a 5,3% e 5,7%, conforme o gráfico abaixo. Portanto, a ASEAN-5 ganha corpo na economia global, enquanto a ALC encolhe.
Participação da ASEAN-5 e da América Latina na economia mundial: 1980-2028
Fonte: FMI/WEO abril de 2023 https://www.imf.org/en/Home
A ALC que tinha uma renda per capita em preços correntes (em poder de paridade de compra – ppp) bem superior à renda per capita da ASEAN-5, mas será ultrapassada nos próximos 5 anos, conforme mostra o gráfico abaixo.
Em 1980, a ALC tinha uma renda per capita de US$ 11,8 mil, contra apenas US$ 3,8 mil da ASEAN-5. Mas em 2023 a diferença já havia caído muito, sendo US$ 15,8 mil para os latino-americanos e US$ 15,1 mil para os habitantes dos 5 países do sudeste asiático. Para 2028 o FMI estima que a renda per capita da ASEAN-5, de US$ 18,2 mil seja maior do que a da ALC de US$ 16,9 mil.
Renda per capita (em ppp) da ASEAN-5 e da ALC: 1980-2028
Fonte: FMI/WEO abril de 2023 https://www.imf.org/en/Home
Os fundamentos macroeconômicos dos países da ASEAN-5 são mais sólidos do que os da ALC. Os 5 países asiáticos possuem maior produtividade e competitividade internacional. Além de maior crescimento econômico, exportam mais e possuem uma inflação sobre controle. O gráfico abaixo mostra que desde 2010, a média da inflação tem ficado abaixo de 4% ao ano na ASEAN-5 e acima de 4% ao ano na ALC.
Inflação da ASEAN-5 e da ALC: 2000-2028
Fonte: FMI/WEO abril de 2023 https://www.imf.org/en/Home
O bom desempenho do desenvolvimento econômico da ASEAN-5, quando comparado com a ALC, tem vários motivos, mas um fator fundamental para a explicar o aumento da renda são as mais elevadas taxas de poupança e investimento.
O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que o nível de poupança, entre 1980 e 2028, ficou em 19% do PIB na ALC e em 29% na ASEAN-5. O nível médio dos investimentos ficou em 20% e 29%, respectivamente. As baixas taxas de poupança e investimento da ALC explicam, em grande parte, o baixo desempenho econômico e social da região. Acrescente-se que os níveis de poupança na ASEAN-5 estão acima dos investimentos na última década, enquanto a poupança interna está abaixo das taxas de investimento na ALC.
Portanto, os países da ALC recorrem com frequência à poupança externa e estão mais sujeitos às crises no balanço de pagamentos.
Taxa de investimento e poupança na ASEAN-5 e na ALC: 1980-2028
Fonte: FMI/WEO abril de 2023 https://www.imf.org/en/Home
A ASEAN-5 está aumentando a sua participação na economia global e, também, buscando se equilibrar entre as influências dos EUA, do G-7, da Índia e da China, para elevar a renda per capita e viabilizando a redução da pobreza na Indonésia e nas Filipinas. A Tailândia e Malásia já eliminaram a pobreza extrema e estão entrando para o clube dos países de alta renda. Singapura já tem uma renda per capita elevadíssima e é um país referência para todo o continente asiático e para o mundo.
A ALC, ao contrário, parece isolada, sem rumo definido e presa à armadilha da renda média e à estagnação secular.
O acordo do Mercosul com a União Europeia não tem avançado e o continente tem perdido espaço no comércio internacional para a China e outros Tigres asiáticos.
É preciso repensar a dinâmica interna da América Latina e Caribe e o posicionamento do continente no cenário global.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]