O Brasil tem déficit estrutural em transações correntes
O Brasil tem déficit estrutural em transações correntes, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Brasil tem produzido superávits crescentes na balança comercial, mas no balanço de pagamentos este superávit desaparece diante do déficit na conta de serviços
O economista Robin Brooks, economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças, disse que Brasil será a ‘Suíça da América Latina’, pois possui um superávit comercial muito elevado, em torno de US$ 60 bilhões. De fato, o Brasil tem batido recordes no saldo comercial.
Contudo, o economista considerou apenas o superávit comercial, que registra somente uma parte da história. A conta de transações correntes, inclui também outras transações de serviços e de finanças. O gráfico abaixo mostra que a Suíça possui elevados superávits em transações correntes, enquanto o Brasil tem déficits estruturais. Entre 1980 e 2028 a Suíça possui um superávit médio de 6,5% do PIB e o Brasil possui um déficit médio de 2,5% do PIB.
As estatísticas do setor externo do Banco Central do Brasil indicam que a conta de transações correntes do balanço de pagamentos foram deficitárias no primeiro quadrimestre de 2023.
O superávit na balança comercial foi de US$ 19,4 bilhões entre janeiro e abril de 2023. Mas a conta de serviços (turismo, transporte, lucros, juros, etc.) foi deficitária em US$ 33,1 bilhões. Por exemplo, em 4 meses, o Brasil gastou US$ 2,3 bilhões na conta viagens, conforme mostra o gráfico abaixo. No total a conta de transações correntes foi deficitária em US$ 13,7 bilhões.
Portanto, o Brasil tem produzido superávits crescentes na balança comercial, mas no balanço de pagamentos este superávit desaparece diante do déficit na conta de serviços. Assim, o país exporta – principalmente commodities – para pagar turismo, transporte internacional, lucros, juros e outros serviços. No total, a conta de transações correntes é negativa.
O déficit em transações correntes pode ser coberto pelas reservas internacionais ou pela entrada de investimentos diretos no país (IDP). Em 2022, os investimentos diretos ficaram em torno de US$ 80 bilhões. O Brasil continua dependendo da poupança externa para fechar seu balanço de pagamento.
Em termos de indicadores socioeconômicos e demográficos a diferença dos dois países é monstruosa. A Suíça tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 2021, de 0,962 (o mais elevado do ranking) e o Brasil está em 87º lugar, com IDH de 0,754. A expectativa de vida ao nascer em 2022 era de 84,3 anos para os suíços e de 73,4 para os brasileiros. A Suíça tem uma renda per capita (em poder de paridade de compra) de mais de US$ 70 mil e o Brasil de somente US$ 15 mil.
Ou seja, o grande superávit comercial do Brasil não significa que o Brasil vai se tornar uma Suíça e ter bons indicadores sociais e uma moeda forte e reconhecida em todo o mundo. O país continua muito dependente da entrada de investimentos diretos, isto é, da poupança externa.
Isto pode tornar o país muito vulnerável diante de uma eventual grande crise internacional, o que pode enfraquecer a moeda nacional (Real) e dificulta as tentativas de criar moedas comuns com seus parceiros comerciais.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), maio de 2022. (Colaboração de Francisco Galiza). Acesso gratuito em: https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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