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Exportação de commodities para a China e o futuro da Amazônia

 

lantação de soja próxima a Santarém, no Pará

Exportação de commodities para a China e o futuro da Amazônia

Exportação de soja e carne bovina para a China tem sido um dos principais motores do desmatamento brasileiro, apontam pesquisadores.

Por Lucas Guaraldo

Acordos de governança multissetorial privados são chave para remediar as pressões ambientais causadas pela exportação de commodities entre Brasil e China. Segundo pesquisadores, a construção conjunta de estruturas, regras e políticas de comércio entre empresas nacionais e internacionais do ramo agropecuário ajudaria a conter o desmatamento e a perda de biodiversidade na Amazônia e no Cerrado.

A análise consta no artigo “Governança Privada: Iniciativas Multissetoriais e Moratórias, publicado no livro “Desafios de Sustentabilidade da Agricultura Brasileira”. O capítulo foi escrito por André Guimarães, diretor executivo no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia); Paulo Moutinho, pesquisador sênior na instituição; e Marcelo Stabile, ex-pesquisador do instituto. O artigo apresenta e defende iniciativas conjuntas de empresas, nacionais e internacionais, do mercado agropecuário no combate ao desmatamento brasileiros e na construção de uma cadeia produtiva sustentável.

Os autores salientam que, desde a virada do milênio, os sistemas alimentares do Brasil e da China tornaram-se interligados e sua relação passou a representar um ponto fundamental para a economia de ambos os países. O comércio de carne e grãos entre China e Brasil, no entanto, também representa um dos principais motivadores de transgressões socioambientais nas fronteiras da soja brasileira e em muitas regiões produtoras de gado, tanto no Cerrado quanto na Amazônia.

Se a China adotasse legislações de diligência devida semelhantes às que estão em elaboração, ou já implementadas nos países ocidentais, isso poderia ter um impacto significativo no Brasil, dada a importância da China como cliente internacional. A exclusão de importantes cadeias de valor articuladas internacionalmente poderia fornecer um forte incentivo para a mudança comportamental em direção a práticas mais sustentáveis ​​no setor agropecuário brasileiro”, afirmam os pesquisadores em um trecho do artigo.

O impacto das exportações brasileiras de carne bovina para a China também parece estar concentrado em regiões marcadas por baixos níveis de conformidade legal e fiscalização pública. Dos 1.200 municípios brasileiros que abastecem o mercado chinês com carne bovina, só 25 já correspondem a cerca de 50% de todas as emissões associadas a esse tipo de exportação.

A fronteira amazônica

Nos últimos 50 anos, a produção agropecuária na Amazônia Legal se guiou por políticas públicas que estimulavam a expansão acelerada de novas fronteiras produtivas. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população da região passou de 7 milhões para quase 27 milhões no período. Além disso, a expansão agropecuária na região causou um aumento de 423% no rebanho bovino amazônico e de mais de 3000% na produção de grãos da região entre 1985 e 2021.

O crescimento agrícola na Amazônia contribuiu para que o Brasil se tornasse um dos maiores produtores mundiais. O avanço, porém, ocorreu às custas do alto desmatamento, ao mesmo tempo em que a concentração de renda e de terra também ficaram evidentes. Isso representa um dos desafios mais críticos para a agricultura brasileira: como conciliar a necessidade de produzir mais e a demanda por proteção ambiental necessária para evitar o agravamento da crise climática?”, diz outro trecho.

Embora o Código Florestal obrigue a preservação de pelo menos 80% da vegetação nativa das propriedades rurais na Amazônia, cerca de 78 milhões de hectares foram desmatados até 2021, principalmente para a abertura de pastagens. A derrubada de vegetação nativa, lembram os autores, também vem acompanhada de incêndios, degradação florestal e conflitos socioambientais.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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