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As lições que o Brasil pode aprender com a Tailândia

 

As lições que o Brasil pode aprender com a Tailândia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Brasil e Tailândia avançaram na transição demográfica e no desenvolvimento econômico, mas o crescimento brasileiro ficou abaixo da média mundial e o tailandês ficou acima

A Tailândia (conhecida anteriormente como Sião) é um país asiático situado no centro da península da Indochina e península Malaia. Faz fronteira ao norte com Mianmar e Laos, a Leste com Laos e Camboja, ao sul pelo Golfo da Tailândia e da Malásia e a oeste o Mar de Andamão.

Suas fronteiras marítimas incluem o Vietnã, no Golfo da Tailândia, a Indonésia e a Índia. O país é uma monarquia constitucional, desde 1946. Cerca de 75% da população é etnicamente tailandesa, 14% são de origem chinesa e 3% são etnicamente malaia. A religião principal é o budismo, praticado por cerca de 85% da população.

Em 1950, a população da Tailândia era de 20,4 milhões de habitantes, cerca de 2,6 vezes menor do que a população de 53,9 milhões de habitantes do Brasil, segundo a Divisão de População da ONU. Em 2023 a população da Tailândia passou para 71,8 milhões e a do Brasil passou para 216 milhões (diferença de 3 vezes).

A população tailandesa chegará ao pico em 2029 com 72 milhões de habitantes e a população brasileira chegará ao pico em 2047 com 231 milhões de habitantes. Em 2100, o Brasil com 184 milhões de habitantes terá uma população 4 vezes maior do que os 44,6 milhões de habitantes da Tailândia (os números brasileiros podem mudar um pouco depois da divulgação dos dados do censo 2022).

A Tailândia tem uma área de 513 mil km2 (um pouco menor do que a área de Minas Gerais) e uma densidade demográfica de 140 habitantes por km2 em 2023. O Brasil tem uma área de 8,5 milhões de km2 (5º maior país em extensão territorial) e uma densidade demográfica de 26 habitantes por km2 em 2023. O Brasil é um país, quantitativamente, muito maior do que a Tailândia, mas o país asiático tem apresentado melhores indicadores econômicos e sociais nas últimas décadas.

Em termos demográficos, os dois países estão avançados na transição demográfica, mas as transformações populacionais tailandesas foram mais rápidas do que as brasileiras e a Tailândia, que era muito mais pobre do que o Brasil, atualmente já apresenta uma renda per capita mais elevada e uma economia mais produtiva e competitiva. Por exemplo, na média dos últimos 10 anos a Tailândia registrou um maior volume de exportações e uma menor dependência de exportações de commodities.

O gráfico abaixo apresenta as taxas de fecundidade total (TFT) do Brasil e da Tailândia entre 1950 e 2028 com dados da Divisão de População da ONU e a renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) com dados do Projeto Maddison (para o período 1950-2018) e do FMI (de 2019 a 2028).

Nota-se que as mulheres tailandesas tinham mais filhos que as brasileiras e a transição da fecundidade começou um pouco mais tarde, porém o ritmo de queda foi mais rápido, com a TFT da Tailândia mantendo bem abaixo da brasileira. A TFT era de 6,1 filhos por mulher no Brasil na década de 1950 e de 6,3 filhos por mulher na Tailândia. Em 1990, a TFT tinha caído para 2,9 filhos no Brasil e 2,09 filhos na Tailândia que, desde então, tem mantido taxas abaixo do nível de reposição e com 1,33 filhos por mulher atualmente.

No Brasil, a TFT chegou ao nível de reposição em 2003 e encontra-se atualmente a 1,7 filhos por mulher.

Em 1950 a renda per capita era de US$ 2,3 mil no Brasil e de US$ 1,3 mil na Tailândia. Entre 1950 e 1980 o Brasil manteve uma renda per capita o dobro da renda tailandesa. Mas a partir de 1981 o quadro mudou e a Tailândia passou a apresentar crescimento econômico muito maior, ultrapassando definitivamente a renda per capita brasileira a partir de 2016. Na atual década, a performance tailandesa se ampliou. A renda é atualmente maior na Tailândia e a desigualdade de renda é menor, com índice de Gini de 0,489 no Brasil (uma das maiores desigualdades do mundo) e de 0,350 na Tailândia.
taxa de fecundidade e renda per capita brasil tailândia

 

A rápida transição demográfica, gerou uma rápida mudança na estrutura etária que viabilizou o surgimento de um bônus demográfico na Tailândia e que foi bem aproveitado em função das políticas públicas efetivadas. Além do alto crescimento da renda, houve avanços significativos na escolaridade, com anos médios de educação de 8,6 anos para as mulheres e 8,8 anos para os homens na Tailândia em 2021 e de 8,3 anos e 7,9 anos, respectivamente, no Brasil.

Com maior renda, maior nível de escolaridade e menor concentração de renda não é de se surpreender com o fato de que a Tailândia tenha conseguido eliminar a pobreza extrema. A rápida transição da fecundidade foi fundamental para o avanço econômico e social da Tailândia. As famílias passaram a ter menos filhos, mas filhos com maior qualidade de vida.

O gráfico abaixo, do site Our World in Data, mostra a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, de US$ 2,15 ao dia, para o mundo, Brasil e Tailândia, entre 1981 e 2020. Observa-se que a extrema pobreza estava acima de 35% no mundo, em 1990, enquanto no Brasil e na Tailândia estava em torno de 25% em 1981. Nos últimos 40 anos a extrema pobreza caiu para 9% no mundo e para 5% no Brasil. Mas a Tailândia conseguiu zerar a extrema pobreza a partir de 2011.
população abaixo da linha de pobreza brasil e tailândia

 

O avanço econômico e social da Tailândia pode ser comprovado pelo avanço do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conforme mostra o gráfico abaixo. O IDH da Tailândia estava abaixo do IDH do mundo e do Brasil em 1990 e no ano 2000. Mas, nos demais anos do século XXI, o desenvolvimento humano avançou em ritmo mais acelerado na Tailândia, que a partir de 2019, passou a frequentar o grupo superior do ranking do IDH (Very High Human Development).

idh brasil tailândia

 

O bom desempenho do desenvolvimento social da Tailândia, quando comparado com o Brasil, tem vários motivos. Mas um fator que ajuda a explicar o aumento da renda e a redução da pobreza são as mais elevadas taxas de poupança e investimento. O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que o nível de poupança, entre 1980 e 2028, ficou em 17% do PIB no Brasil e em 28% na Tailândia, e o nível médio dos investimentos 19% e 28%, respectivamente. As baixas taxas de poupança e investimento do Brasil explicam, em grande parte, o baixo desempenho econômico e social. As taxas da Tailândia são menores do que na Coreia do Sul, por exemplo, mas bem acima das taxas brasileiras.

taxas de poupança e investimento brasil e tailândia

 

Em síntese, ambos os países avançaram na transição demográfica e no desenvolvimento econômico, mas o crescimento brasileiro ficou abaixo da média mundial e o tailandês ficou acima. O Brasil tem uma economia cada vez mais próxima da estagnação e há décadas está preso na armadilha da renda média. Já a Tailândia que era um país pobre, passou a ser um país de renda média, com alta taxa de atividade no mercado de trabalho, baixo desemprego e baixa inflação. Com esforço, pode caminhar para o clube dos países de alta renda. Por exemplo, a expectativa de vida ao nascer está em 80 anos na Tailândia, em 2023, acima da expectativa de vida dos EUA.

Os avanços tailandeses são expressivos. Não obstante, o país tem um histórico democrático frágil e um regime monárquico que tem sido alvo de protestos. A oposição democrática da Tailândia conquistou uma vitória expressiva nas eleições gerais que ocorreram no dia 14 de maio de 2023, marcando uma rejeição do eleitorado aos militares que dominam a política do país desde o golpe de 2014.

Os desafios da Tailândia para continuar avançando em qualidade de vida da população são enormes, incluindo o envelhecimento populacional. Mas, do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, o Brasil tem muito a aprender com a Tailândia.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A população da Tailândia em 2100, Ecodebate, 14/06/2013
http://www.ecodebate.com.br/2013/06/14/a-populacao-da-tailandia-em-2100-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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