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Editorial

Extrativismo é um modelo de desenvolvimento insustentável

 

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Extrativismo é um modelo de desenvolvimento insustentável

O extrativismo consiste na exploração intensiva dos recursos naturais, como minerais, petróleo, madeira, água e biodiversidade, sem considerar os impactos ambientais e sociais dessa atividade.

Por Henrique Cortez

O modelo de desenvolvimento baseado no extrativismo é ambientalmente insustentável por várias razões e, por isto, esse modelo é criticado por diversos movimentos e organizações que defendem a necessidade de descolonizar o modelo de produção e buscar alternativas ao desenvolvimento que respeitem a diversidade e a sustentabilidade da vida

O modelo extrativista gera uma série de problemas, tais como:

Degradação dos ecossistemas e perda da biodiversidade. O extrativismo provoca o desmatamento, a erosão do solo, a contaminação da água e do ar, a redução dos habitats e a extinção de espécies. Esses efeitos comprometem o equilíbrio ecológico e os serviços ambientais que sustentam a vida humana e animal. Por exemplo, a mineração de ouro na Amazônia causa a destruição da floresta, a poluição dos rios com mercúrio e o deslocamento de comunidades indígenas. A exploração de petróleo no pré-sal gera o risco de vazamentos que podem afetar a fauna e a flora marinhas. A extração de madeira ilegal contribui para o aquecimento global e a perda de espécies endêmicas.

Dependência econômica e vulnerabilidade social. O extrativismo cria uma situação de dependência dos países que adotam esse modelo em relação aos mercados internacionais, que determinam os preços e a demanda dos recursos naturais. Além disso, o extrativismo gera uma concentração de renda e de poder nas mãos de poucos atores, que se beneficiam da exploração dos recursos em detrimento das populações locais, que sofrem com a pobreza, a exclusão, a violação dos direitos humanos e a falta de participação política. Por exemplo, a exportação de soja e carne bovina para países como China e Estados Unidos gera lucros para os grandes produtores rurais, mas aumenta o desmatamento, o conflito agrário e a violência no campo. A extração de diamantes na África financia grupos armados que cometem atrocidades contra as populações civis. A exploração de gás na Bolívia gerou uma crise política e social que levou à queda do presidente Evo Morales.

Inviabilidade a longo prazo. O extrativismo é um modelo que se baseia na exploração de recursos finitos e não renováveis, que se esgotam com o tempo. Isso significa que esse modelo não é capaz de garantir o desenvolvimento sustentável, que é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras. Por exemplo, o carvão, o petróleo e o gás natural são fontes de energia fósseis que emitem gases de efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas. O cobre, o ferro e o alumínio são metais que demandam muita energia e água para serem extraídos e processados. A água doce é um recurso essencial para a vida que está sendo escasso em muitas regiões do mundo.

É importante e necessário dar destaque especial à tragédia Yanomami causada pelo garimpo ilegal.

A tragédia do povo Yanomami é uma história marcada pela violência, exploração e desrespeito aos direitos humanos. O garimpo ilegal de ouro na região tem causado desmatamento, poluição dos rios, violência e doenças entre os povos originários. Há denúncias de estupro, assassinato e desaparecimento de crianças indígenas relacionadas ao garimpo ilegal. Além disso, o garimpo ameaça a cultura ancestral e a sobrevivência dos Yanomami, que vivem em harmonia com a natureza há séculos. Mais do que uma demonstração das consequências do extrativismo predatório, é importante e necessário que esta tragédia humanitária, à beira do genocídio do povo Yanomami, não seja esquecida

Portanto, é preciso buscar alternativas ao modelo de desenvolvimento baseado no extrativismo, que sejam mais respeitosas com o meio ambiente e com as pessoas. Algumas dessas alternativas são:

Uma das alternativas ao modelo de desenvolvimento baseado no extrativismo é o pós-extrativismo, que propõe uma transição para uma economia mais diversificada, que não dependa exclusivamente da exportação de matérias-primas, mas que valorize também os setores produtivos locais, a soberania alimentar, a agroecologia, a economia solidária, a educação e a cultura. O pós-extrativismo também implica em uma mudança de paradigma, que reconheça os limites ecológicos do planeta e os direitos da natureza, que promova a participação democrática e a justiça social, que respeite os saberes e as cosmovisões dos povos originários e tradicionais, e que questione o conceito de progresso baseado no crescimento econômico ilimitado.

Outra alternativa ao modelo de desenvolvimento baseado no extrativismo é o decrescimento, que defende uma redução do consumo e da produção nos países ricos, para permitir uma distribuição mais equitativa dos recursos e uma melhoria da qualidade de vida de todos. O decrescimento não significa um retrocesso ou uma negação do desenvolvimento, mas sim uma crítica ao modelo capitalista e à ideologia do desenvolvimentismo, que impõem uma lógica de acumulação e competição insustentável. O decrescimento propõe uma sociedade mais simples, frugal e solidária, que valorize o bem-viver em harmonia com a natureza e com os outros seres humanos.

Além dessas alternativas, também podem ser citadas:

– A transição para uma economia verde e circular, que priorize o uso eficiente e racional dos recursos naturais, a redução do consumo e do desperdício, a reciclagem e a reutilização dos materiais, a geração de energia limpa e renovável e a criação de empregos verdes.

– A valorização da diversidade cultural e biológica, que reconheça o papel dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros grupos tradicionais na conservação dos recursos naturais e na promoção do desenvolvimento local. Esses grupos possuem saberes ancestrais e práticas sustentáveis que devem ser respeitados e valorizados.

– A democratização da gestão ambiental, que envolva a participação efetiva da sociedade civil na tomada de decisões sobre o uso dos recursos naturais e na fiscalização das atividades extrativistas. Isso implica em fortalecer os mecanismos de controle social, transparência e accountability nos âmbitos local, nacional e internacional.

Essas são apenas algumas das alternativas ao modelo de desenvolvimento baseado no extrativismo que vêm sendo debatidas e experimentadas por diversos movimentos e organizações em todo o mundo.

As alternativas apontam para a possibilidade de construir um futuro mais justo, democrático e sustentável para todos.

Não é simples nem fácil, mas é possível e necessário.

Henrique Cortez, ambientalista, jornalista, editor do portal EcoDebate

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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