Ibama não autoriza Petrobras explorar Foz do Amazonas
Ibama não autoriza Petrobras explorar Foz do Amazonas, artigo de Leonardo Sanches Previti
A negativa do pedido de licença é alento para o futuro da Amazônia e do planeta
Resumo: O artigo aborda as mudanças climáticas como um fenômeno em curso e urgente, que coloca em risco a sobrevivência da floresta amazônica e de seus habitantes. O autor critica o modelo econômico baseado no extrativismo industrial e defende a busca por novos rumos de desenvolvimento sustentável, que valorizem a biodiversidade e a igualdade social.
Na noite do dia 17 de maio, o IBAMA divulgou um parecer técnico negando o pedido de licença feito pela Petrobras para exploração de petróleo na foz do Amazonas. A decisão tem um efeito imediato importante, já que havia uma pressão considerável de diversos agentes pelo deferimento da licença. Ela merece ser analisada sob as diferentes perspectivas envolvidas para entender o paradoxo que o Governo Federal vem enfrentando, já que é representativa de um dilema ainda maior, de abrangência global.
Afinal, os benefícios previstos pelos investimentos justificariam os riscos e impactos inerentes à exploração de petróleo?
Os defensores da exploração alegam, corretamente, que a região Norte é uma das mais desassistidas do país, com uma economia de baixa complexidade, sujeita à informalidade de outras atividades predatórias como garimpo e desmatamento. De fato, a profissionalização de uma mão-de-obra local e a receita dos royalties poderiam ensejar um ciclo virtuoso que traria mais dinamismo aos estados afetados. Além disso, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, alega que a empresa está comprometida com a transição energética, buscando expandir os investimentos em energia limpa, mas, como este é um fenômeno em curso, o petróleo e gás ainda terão uma importância estratégica nas próximas décadas.
É frustrante discutir a questão baseada nestas platitudes, pois as mudanças climáticas também são um fenômeno em curso, talvez o desafio mais urgente para esta e as próximas gerações, que, no entanto, não está sendo enfrentado com a agilidade devida. Não custa lembrar que a queima de combustíveis fósseis é a principal fonte de gases de efeito estufa e é um contrassenso pensar na solução futura investindo naquilo que é a maior causa do problema.
O mundo já aqueceu cerca de 1,1oC desde o início da Revolução Industrial, e, hoje, galopamos para ultrapassar em breve o limite de 1,5oC. Caso isso ocorra, haverá um impacto significativo e irreversível sobre a floresta amazônica, reduzindo seu regime de chuvas, aumentando a mortalidade de árvores, gerando uma perda inimaginável de biodiversidade e afetando a produção agropecuária. Se hoje os estados do Norte convivem com um baixo nível de desenvolvimento social, a situação será ainda pior sob a ação destes eventos.
A situação atual exige respostas mais criativas e inovadoras, já que o modelo econômico baseado no extrativismo industrial, seja de petróleo, minérios, madeira etc, provou-se insustentável e disfuncional.
O Brasil tem o privilégio de contar com uma região de importância global como a Amazônia em que ainda não houve a consolidação de uma economia baseada no modelo atual.
Nosso desafio – e responsabilidade – é o de apontar novos rumos de desenvolvimento para o mundo, mais sintonizados com os conceitos de sustentabilidade, igualdade social e proteção da biodiversidade.
Por Leonardo Sanches Previti – Engenheiro Civil do Centro de Pesquisas – Divisão de Ensaios e Análises – do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]