Eletrificação de ônibus no Brasil: desafios e oportunidades
Ônibus elétrico da empresa Higer. Curitiba, 13/09/2022. Foto: Ricardo Marajó/SMCS
Eletrificação de ônibus no Brasil: desafios e oportunidades
A eletrificação das frotas de ônibus no Brasil é uma tendência que pode trazer benefícios ambientais, econômicos e sociais para as cidades
Resumo: Eletrificação de frotas de ônibus pode ser porta de entrada para eletromobilidade no Brasil. No entanto, o custo elevado dos veículos elétricos, a falta de incentivos governamentais e a infraestrutura inadequada para a recarga das baterias são alguns dos obstáculos que precisam ser superados. Algumas experiências bem-sucedidas em capitais como São Paulo e Curitiba mostram que é possível avançar na transição energética do transporte público. O Brasil já conta com fabricantes nacionais e estrangeiros de ônibus elétricos e híbridos, que podem atender à demanda crescente por esse tipo de veículo. A eletrificação das frotas de ônibus no Brasil é uma oportunidade para melhorar a qualidade do ar, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a mobilidade urbana sustentável.
Por Yuri Ferraz Lima
Os ônibus elétricos podem ser a porta de entrada dos brasileiros à eletromobilidade e as cidades podem ganhar muito com a eletrificação das suas frotas de ônibus. Em cidades como São Paulo e Curitiba, o avanço da eletrificação do transporte público continua: com cada vez mais investimentos sendo realizados neste segmento. Porém, o país ainda carece de uma política nacional para o incentivo, principalmente das cidades do interior.
Mas por qual razão a eletrificação das cidades é importante? Para Ricardo David, sócio-diretor da Elev, empresa especializada em soluções para o segmento da eletromobilidade. “A principal porta de entrada para a população para os automóveis elétricos será por meio dos coletivos. Deste modo, a transformação do modal buscada pelas capitais brasileiras é algo necessário e faz parte de uma realidade que se expandirá por todo o país”, afirmou o executivo.
Porém, enquanto nas capitais o diálogo sobre a importância da eletrificação das frotas, no interior ainda há pouco investimento na conversão. Porém, o cenário pode ser promissor. Para David, as atuais ações nas capitais poderão se tornar exemplos para outros municípios do Brasil. “Principalmente por se tratar de uma transformação significativa, é necessário utilizar como exemplo modelos que já deram certo em outros municípios”, afirmou o executivo.
Mesmo com o avanço de projetos em prol da eletromobilidade, o envelhecimento da frota de automóveis e o valor dos veículos no Brasil ainda é um impeditivo para a popularização dos automóveis particulares elétricos e híbridos no país. Esse cenário pode ser visto claramente no mais recente estudo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que mostrou que os veículos com mais de 12 anos foram os mais vendidos no Brasil no último ano. Além disso, o automóvel mais barato entre os elétricos ainda está na média dos R$ 145 mil.
Esse cenário também pode ser visto nos ônibus utilizados nos municípios do país. Os dados são da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) mostram que os ônibus estão com uma idade média de seis anos, considerada a mais alta desde 2012.
Segundo David, esse cenário é um alerta para a importância da eletrificação e modernização do transporte público brasileiro, até como forma dos municípios economizarem e diminuírem os valores de tarifa. “Quando falamos dos automóveis elétricos nós estamos falando em dois pontos de economia. O primeiro é relacionado a tração, onde a energia elétrica pode ser muito mais econômica que a gasolina e o diesel e outro ponto é na manutenção, muito mais barata que a dos veículos movidos à combustão, principalmente pela quantidade menor de componentes necessários em um veículo elétrico. Isso reflete diretamente no preço das passagens para o consumidor final”, explica Ricardo David.
O especialista explica que, no total, os elétricos possuem cerca de 20% das peças de um carro à combustão e que a manutenção mensal e a troca e reposição de peças é significativamente menor. Já no quesito combustíveis, a economia é de 84% em um carro elétrico. Além disso, os veículos a combustão emitem gases poluentes que contribuem para a poluição do ar e a mudança climática. Estudos também apontam que a exposição prolongada à poluição do ar pode aumentar o risco de doenças respiratórias, cardiovasculares e até mesmo câncer. Nesse aspecto, a eletrificação das frotas de ônibus pode, até mesmo, ser vista como uma política de saúde pública.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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