EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

População da Coreia do Sul de 1950 a 2100

 

População da Coreia do Sul de 1950 a 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A Coreia do Sul está mudando. O decrescimento populacional e a descarbonização da economia poderão diminuir a pressão sobre os serviços ecossistêmicos

A Península Coreana está localizada em uma área de fronteira entre 3 grandes potências econômicas: China, Rússia e Japão. O povo coreano tem uma longa história de independência, mas, entre 1910 e 1945 ficou sob domínio japonês. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a península foi dividida em duas áreas, uma sob influência dos Estados Unidos e a outra sob influência da União Soviética. Em 25 de junho de 1950, a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul, dando início à Guerra da Coreia, que provocou grande sofrimento do povo coreano e agravou a situação de pobreza. O armistício de 1953 dividiu a península ao longo da Zona Desmilitarizada, em torno do paralelo 38º como linha divisória.

Nos últimos 70 anos, a Coreia do Sul apresentou um grande desenvolvimento econômico e teve uma das transições demográficas mais rápidas do mundo. Atualmente, tem a menor taxa de fecundidade da comunidade internacional. Consequentemente, o país tem uma dinâmica demográfica com grandes transformações na estrutura etária e vai enfrentar um enorme envelhecimento populacional no século XXI.

A Coreia do Sul tem uma área de 100,2 mil km2, uma população de 51,8 milhões de pessoas e uma densidade demográfica de 523 habitantes por km2 em 2022. Para comparação, a Coreia do Norte tem uma área de 120,5 mil km2, uma população de 26 milhões de pessoas e uma densidade demográfica de 217 habitantes por km2.

A Coreia do Sul tinha 20,1 milhões de habitantes em 1950, chegou ao pico de 51,9 milhões em 2020 e já começou a decrescer, devendo diminuir para 24,1 milhões em 2100, segundo as projeções médias divulgadas pela Divisão de População da ONU (revisão 2022). Portanto, o país deverá reduzir pela metade até o final do século (conforme o gráfico abaixo, painel do lado esquerdo). O outro gráfico (à direita) mostra a população em idade de 15-59 anos que era de 10 milhões de pessoas em 1950, atingiu o pico de 35 milhões na década passada e deve voltar para aos mesmos 10 milhões em 2100 (na projeção média).

população total e população em idade ativa na coreia do sul

 

Evidentemente, uma redução da força de trabalho pela metade, em relação ao valor máximo, representará um grande desafio para os objetivos de manutenção das atividades econômicas. Porém, a redução da população em idade ativa (PIA) não é um entrave escatológico, pois a Coreia do Sul possui altas taxas de poupança e investimento que permitem renovar o parque produtivo do país, avançando com a ciência e a tecnologia e permitindo que o conjunto da força de trabalho fique mais produtiva, inclusive a população idosa.

Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida. As taxas de fecundidade (gráfico da esquerda) estavam em torno de 6 filhos por mulher em meados do século passado, mas caiu rapidamente nas décadas seguintes, com a TFT passando de 6 para 2 filhos por mulher no espaço de 20 anos (uma das mais rápidas transições da fecundidade do mundo). Em 2021 a TFT ficou em 0,88 filho, a mais baixa da comunidade internacional. Porém, espera-se uma pequena recuperação ao longo do atual século. A expectativa de vida ao nascer da Coreia do Sul que estava em torno de 30 anos em 1950 teve uma grande elevação nas décadas seguintes até ficar acima de 80 anos em 2019, não teve queda durante a pandemia e deve ultrapassar 90 anos até 2100.

taxa de fecundidade e expectativa de vida na coreia do sul

 

A consequência da queda da fecundidade e do aumento da expectativa de vida é a mudança na estrutura etária, com a diminuição dos grupos jovens e o aumento da proporção dos grupos mais idosos. O gráfico abaixo (da esquerda) mostra a população de 0 a 14 anos da Coreia do Sul entre 1950 e 2100, que era de 8,5 milhões em 1950, chegou a 14 milhões no início da década de 1970 e deve ficar pouco acima de 2 milhões de jovens em 2100. Já o número de idosos (gráfico da direita) cresceu, passando de cerca de 1 milhão em meados do século passado para mais de 20 milhões em 2060 e deve ficar em torno de 12 milhões em 2100.

população jovem e população idosa na coreia do sul

 

Esta mudança da estrutura etária, provocada pelo avanço da transição demográfica (queda nas taxas de mortalidade e natalidade) se expressa na transformação da pirâmide populacional, estreitando a base e alargando o topo entre 1950 e 2100, conforme mostrado nos gráficos abaixo. A pirâmide etária da Coreia do Sul de 1950 tinha uma base larga e um topo estreito, devido às altas taxas de natalidade e mortalidade. Alguns dentes na área esquerda da pirâmide (homens) refletiam os impactos da Segunda Guerra. Existia uma alta razão de dependência de jovens e uma baixa proporção de pessoas em idade ativa.

Mas a partir da década de 1960, as taxas de fecundidade caíram, reduzindo a proporção de jovens e aumentando a proporção de pessoas em idade de participar da força de trabalho, como mostrado na pirâmide de 2022. Isto gerou o 1º bônus demográfico que ajudou o país a reduzir a pobreza e a incrementar o desenvolvimento econômico. Mas no restante do século o predomínio será do envelhecimento populacional e a pirâmide etária de 2100 mostra um estreitamento significativo da parte de baixo da estrutura etária.

pirâmides populacionais na coreia do sul

 

A Coreia do Sul terá uma população menor e uma estrutura etária mais envelhecida, mas tem investido na construção de uma população mais saudável, com maiores níveis educacionais, mais qualificada e mais adaptada à tecnologia e à sociedade da informação e do conhecimento. Portanto, ao invés de pensar em manter o incremento populacional, o país está se preparando para crescer economicamente com uma força de trabalho mais produtiva e o aproveitamento do 2º e 3º bônus demográfico. Com menor volume populacional, a Coreia se prepara não apenas para garantir maior qualidade de vida de seus habitantes, mas também se prepara para lidar com as questões ecológicas.

Indubitavelmente, a nova dinâmica demográfica no pós-Guerra ajudou a acelerar o bom desempenho econômico. A mudança da estrutura etária reduziu a razão de dependência após 1960, que atingiu o menor valor ao redor de 2010, gerando um bônus demográfico (com uma pessoa dependente para cada duas pessoas em idade de trabalhar). Mas a razão de dependência já começou a aumentar e deve ficar acima de 140 na segunda metade do atual século, ou seja, vai haver muito mais pessoas dependentes do que pessoas em idade ativa, conforme mostra o gráfico.

230508e taxa de dependência na coreia do sul

 

A decolagem da economia da Coreia do Sul ocorreu na fase de expansão do bônus demográfico e na formação de famílias menores que favoreceram o aumento das taxas de poupança. O Produto Interno Bruto (PIB) representava apenas 0,6 % do PIB global em 1980 e passou para mais 1,6 % do PIB global nos anos 2000, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo).

A renda per capita da Coreia do Sul (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de cerca de US$ 2,2 mil em 1980, abaixo da renda per capita mundial. Mas o alto crescimento ao longo de 40 anos fez a renda per capita sul coreana (US$ 53 mil) ficar bem acima da média mundial e se aproximar da renda per capita dos EUA em 2022. Para 2026, o FMI estima uma renda per capita de US$ 65 mil para a Coreia do Sul e de US$ 24,3 mil no mundo, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito).

participação do pib da coreia do sul no pib global

 

A Coreia do Sul, em cerca de 40 anos, deixou de ser um país de renda baixa e se tornou uma nação de renda muito alta. Um grande desafio futuro virá do envelhecimento populacional, pois a Coreia tem uma idade mediana de 44 anos em 2022, passará para uma idade mediana de impressionantes 59 anos em 2100, constituindo uma sociedade plenamente envelhecida.

O outro grande desafio advém da área ecológica, pois o sucesso econômico sul coreano aconteceu em meio ao retrocesso ambiental. A Coreia do Sul tinha uma Pegada Ecológica per capita de 0,79 hectares globais (gha) em 1961 e uma Biocapacidade per capita de 1,32 gha. Portanto havia superávit ambiental. Porém, com o intenso desenvolvimento econômico, a Biocapacidade foi reduzida e a Pegada Ecológica subiu consistentemente para 6,32 gha em 2018, elevando o déficit ecológico para 888%, conforme mostra a figura abaixo.

pegada ecológica e biocapacidade da coreia do sul

 

A Coreia do Sul é um grande produtor e exportador de produtos manufaturados e tem uma economia muito avançada tecnologicamente. A capital sul-coreana, Seul, é uma megalópole muito rica e abriga indústrias poderosas e inovadoras que conquistaram o mundo. Somente a sua área metropolitana de Seul abrigue quase 25 milhões de habitantes – praticamente a metade da população da Coreia do Sul. Mas há um novo fator demográfico que se chama “Kwichon”, ou literalmente “retorno ao rural”.

A Coreia do Sul está mudando. O decrescimento populacional e a descarbonização da economia poderão diminuir a pressão sobre os serviços ecossistêmicos. Se houver menor Pegada Ecológica e maior eficiência produtiva e energética, o padrão de vida humano e ambiental melhorará ao longo do século XXI.

A ideia do crescimento exponencial e infinito já foi superada e ganha corpo a ideia do progresso com decrescimento demoeconômico. O livro “Less is more: Degrowth Will Save the World” de Jason Hickel, que fornece o argumento mais persuasivo e abrangente em favor do “decrescimento”, defendendo uma redução planejada do uso de energia e recursos para trazer a economia de volta ao equilíbrio com o mundo vivo de uma forma segura, justa e equitativa. A Coreia do Sul pode estar na vanguarda desse processo de decrescimento com prosperidade, que pode reconfigurar o futuro do século XXI.

Resumo:

O texto aborda a história e a demografia da Península Coreana, destacando a divisão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. O autor explica que a península foi ocupada pelo Japão até 1945, quando foi dividida em duas áreas de influência: uma dos Estados Unidos e outra da União Soviética. Em 1950, ocorreu a Guerra da Coreia, que separou definitivamente os dois países ao longo do paralelo 38º. Desde então, a Coreia do Sul se desenvolveu economicamente e socialmente, mas enfrenta um rápido envelhecimento populacional. A Coreia do Norte, por sua vez, permanece isolada e pobre. O texto apresenta dados sobre a área, a população e a densidade demográfica dos dois países, além de projeções para o século XXI.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referência:
ALVES, JED. Parceria Econômica Global Abrangente (RCEP) e a trilateral China-Japão-Coreia do Sul, Ecodebate, 15/10/2020
https://www.ecodebate.com.br/2020/01/15/parceria-economica-global-abrangente-rcep-e-a-trilateral-china-japao-coreia-do-sul-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Jason Hickel. Less is more: Degrowth Will Save the World, Cornerstone Digital, 2020

 

[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]