A Índia emergente e o Brasil submergente
A Índia emergente e o Brasil submergente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas
A Índia já foi palco de uma das civilizações mais criativas e prósperas do mundo. Mas, nos últimos séculos, o gigante do Sul da Ásia ficou para trás em relação ao mundo Ocidental e em relação ao seu ainda mais gigantesco vizinho chinês. A despeito do tamanho, a Índia é considerada uma nação de renda baixa (inferior a US$ 10 mil).
Contudo, a Índia está a caminho de se tornar uma nação de renda média e já é a terceira maior economia do mundo (atrás apenas da China e dos EUA), quando se considera a renda em poder de paridade de compra. Embora a Índia tenha enormes desafios para vencer a pobreza, a fome e a degradação ambiental, o país tem se destacado nos indicadores econômicos. A Índia se tornou o país mais populoso do mundo em abril de 2023 e possui a maior população em idade produtiva da comunidade internacional.
O contraste com o Brasil é gritante. O gráfico abaixo mostra a participação da economia brasileira e indiana no PIB global entre 1980 e 2028. Nota-se que, em 1980, o PIB brasileiro representava mais de 4% do PIB mundial e o PIB indiano menos de 3% do PIB global. Mas a partir do início dos anos de 1990, a Índia ultrapassou o Brasil e foi deixando para trás o “gigante” da América do Sul.
Atualmente, o PIB do Brasil representa menos de 3% do PIB global e o PIB da Índia representa mais de 7%. Em algum momento da década de 2030, o PIB da Índia deve alcançar 10% do PIB global, enquanto a economia brasileira deve encolher para menos de 2%. Portanto, não é incorreto dizer que a Índia é um país emergente (cresce mais do que a média mundial) e o Brasil é um país submergente (cresce menos do que a média global).
Os dados do FMI mostram que a Índia tem um desempenho econômico muito acima do brasileiro. O gráfico abaixo mostra as taxas anuais de crescimento do PIB em 4 décadas. O Brasil só apresentou taxas ligeiramente superiores às indianas nos anos de 2000 e 2008. Em 2020, durante a pandemia da covid-19 a recessão foi maior na Índia, mas nos anos seguintes o país asiático se recuperou, enquanto o Brasil patina.
Em 1980, o Brasil tinha uma renda per capita de US$ 11,4 mil e a Índia uma renda de US$ 1,2 mil (uma diferença de 9,4 vezes), conforme mostra o gráfico abaixo com dados do FMI de 1980 a 2028, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp). Em 1990, a diferença tinha caído para 6 vezes. Em 2023, a renda brasileira ficou estimada em US$ 15,2 mil e da Índia em US$ 7,4 mil.
Fazendo uma projeção até 2045, considerando um crescimento médio do PIB per capita de 0,7% ao ano para o Brasil e de 4,2% ao ano na Índia, os dois países teriam renda, respectivamente, de US$ 18 mil e US$ 19 mil. Ou seja, a renda per capita da índia ultrapassaria a renda brasileira em 2043.
É claro que toda projeção está sujeita à alteração, dependendo da dinâmica econômica nacional e internacional, mas os dados parecem indicar que a Índia está superando a “armadilha da pobreza”, enquanto o Brasil está preso à “armadilha da renda média”.
A figura abaixo mostra que a China deve contribuir com 22,6% do crescimento global no quinquênio 2023-28 e a Índia vem logo em seguida com 12,9%. Os EUA aparecem em 3º lugar, com 11,3% e o Brasil com uma contribuição de apenas 1,7% para o crescimento global. É cada vez menor o peso do Brasil na economia internacional e a política externa brasileira precisa levar estes dados em consideração.
Mas como mostrei no artigo “A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais”, publicado no Portal Ecodebate (Alves, 10/08/2022): “A Índia já é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa e ocupa o 2º lugar quando se considera as emissões por área. Como se projeta grande crescimento demoeconômico nas próximas décadas, a perspectiva é que os problemas ambientais do país se agravem bastante no médio e longo prazo.
A Índia já sofre com os eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e ondas letais de calor. Não será fácil resolver de forma simultânea os problemas sociais e ambientais. Mas, com certeza, o aprofundamento da transição demográfica deve ajudar a mitigar as crises e a facilitar a adaptação para o novo cenário da crise climática e ambiental global”.
Artigo publicado na revista Plos Climate (29/04/2023) diz: “Devido aos encargos sem precedentes na saúde pública, agricultura e outros sistemas socioeconômicos e culturais, as ondas de calor induzidas pelas mudanças climáticas na Índia podem impedir ou reverter o progresso do país no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS)”
Em síntese, o Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas.
Porém, em um futuro não muito distante, a crise climática e ambiental pode retroceder o desenvolvimento ou colocar uma significativa limitação para o bem-estar humano em todos os países do mundo.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais, Ecodebate, 10/08/2022 https://www.ecodebate.com.br/2022/08/10/a-india-como-o-pais-mais-populoso-do-mundo-e-com-enormes-desafios-ecossociais/
Ramit Debnath, Ronita Bardhan, Michelle L. Bell. Lethal heatwaves are challenging India’s sustainable development, Plos Climate, April 19, 2023
https://journals.plos.org/climate/article?id=10.1371/journal.pclm.0000156
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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