População da Tanzânia de 1950-2100
População da Tanzânia de 1950-2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Tanzânia tem um padrão de consumo baixo e tinha superávit ambiental até a virada do milênio, mas passou a ter déficit nos anos 2000
A Tanzânia, ou República Unida da Tanzânia, está localizada no leste da África, fazendo fronteira com muitos países: Uganda, Quênia, Moçambique, Malawi, Zâmbia, Burundi, Ruanda, República Democrática do Congo e a leste pelo Oceano Índico. A Tanzânia é montanhosa, abriga uma grande floresta no Nordeste, onde se localiza o Monte Kilimanjaro e abriga três dos Grandes Lagos da África. A Tanzânia possui uma área de 945 mil km2 e uma densidade demográfica de 74 habitantes por km2 em 2022, menor do que a densidade da China (149 hab/km2) e maior do que a densidade brasileira (26 hab/km2).
A Tanzânia tinha 7,6 milhões de habitantes em 1950, saltou para 65 milhões em 2022 e deve atingir 250 milhões em 2100 (como mostra o gráfico abaixo do painel da esquerda). A população da Tanzânia em idade ativa, de 15-59 anos, deu um salto de cerca de 3,9 milhões de pessoas em meados do século passado para cerca de 33 milhões em 2022 e deve atingir algo como 145 milhões de pessoas no final do atual século. Portanto, a Tanzânia terá uma grande necessidade de geração de emprego nas próximas 8 décadas (conforme mostra o gráfico abaixo, no painel da direita).
Os gráficos seguintes mostram a evolução das taxas de fecundidade e a expectativa de vida. A Tanzânia tinha uma média acima de 6 filhos por mulher durante quase toda a metade do século passado. A transição da fecundidade começou tardiamente e a taxa de fecundidade ainda é elevada, em torno de 5 filhos por mulher. A taxa de reposição deve ser alcançada somente em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da esquerda).
A expectativa de vida ao nascer, que estava em torno de 40 anos em 1950, subiu nos anos seguintes e teve uma queda nos anos 80 e 90 e chegou a 65 anos em 2020. Houve uma queda em decorrência da pandemia. Na projeção média da Divisão de População da ONU a expectativa de vida ao nascer, para ambos os sexos, deve ficar em torno de 80 anos em 2100 (como mostra o gráfico acima, painel da direita).
Mesmo com uma lenta transição demográfica já se nota uma alteração na estrutura etária da Tanzânia, pois a população jovem de 0-14 anos vai apresentar um decrescimento só no final do século XXI, como mostra o gráfico abaixo (painel da esquerda). Já o número de idosos (gráfico da direita) cresceu lentamente entre 1950 e 2050 e deve acelerar o crescimento na segunda metade do século XXI.
A lenta mudança da estrutura etária tem mantido as pirâmides etárias da Tanzânia com uma base larga, conforme mostrado nos gráficos abaixo. A pirâmide etária de 1950 tinha o modelo clássico de estrutura rejuvenescida e se manteve mais ou menos assim até 2022. Assim, o país mantém uma alta razão de dependência de jovens e uma baixa proporção de pessoas em idade ativa. Se a queda da fecundidade se aprofundar poderá haver o aproveitamento do 1º bônus demográfico, que é uma condição essencial para a redução da pobreza e o a melhoria do padrão de vida da população. A pirâmide de 2100 vai apresentar uma leve redução da base e um crescimento do meio da distribuição etária.
A Tanzânia terá uma situação demográfica favorável à oferta de força de trabalho no restante do século XXI, pois a razão de dependência vai diminuir de cerca de 100 na década de 1980 para cerca de 60 entre 2060 e 2090, como mostra o gráfico abaixo. Se a economia reagir e conseguir gerar grande quantidade de emprego, a Tanzânia poderá avançar no processo de desenvolvimento humano. Mas se a economia fracassar, o país terá uma bolha de jovens, que na falta de perspectivas de mobilidade social ascendente, poderá criar instabilidade política e anomia social.
A Tanzânia manteve uma participação no PIB global em torno de 0,08 e 0,1% nas duas últimas décadas do século passado. Nos anos 2000 houve um maior crescimento econômico e o PIB da Tanzânia alcançou o patamar de 0,12% do PIB global em 2020, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo). A renda per capita da Tanzânia (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de apenas US$ 580 em 1980, bem abaixo da renda per capita mundial. Nos anos 2000 a renda cresceu até US$ 3,3 mil em 2022 e deve chegar a US$ 4,1 mil em 2026, para uma renda média global de US$ 25 mil, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito).
A Tanzânia tem um padrão de consumo baixo e tinha superávit ambiental até a virada do milênio, mas passou a ter déficit nos anos 2000. Segundo o Instituto Global Footprint Network a Tanzânia tinha, em 1964, uma Pegada Ecológica per capita de 1,55 hectare global (gha) e uma Biocapacidade per capita de 2,73 gha. Em 2018, a Pegada Ecológica per capita passou para 1,17 gha e a Biocapacidade per capita caiu para 0,98 gha. Assim, o déficit ecológico per capita ficou em 0,19 gha, conforme mostra a figura abaixo.
Assim como a maioria dos países da África Subsaariana, a Tanzânia precisa avançar na transição demográfica para reduzir a pobreza e evitar o aumento do déficit ecológico. Somente aproveitando a estrutura etária favorável do bônus demográfico a Tanzânia conseguirá garantir maior bem-estar humano e ambiental.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico da Etiópia: a “China da África”? Ecodebate, 30/01/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/01/30/crescimento-demoeconomico-da-etiopia-a-china-da-africa-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Vinicius Assis. Na Etiópia, a guerra que ninguém vê, #Colabora, 15/03/2022
https://projetocolabora.com.br/ods16/na-etiopia-a-guerra-que-ninguem-ve/
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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