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Cerrado perde água em 66% das regiões hidrográficas

 

Cerrado perde água em 66% das regiões hidrográficas

7 das 10 áreas protegidas mais afetadas pela perda de água no Cerrado em 2022 estão no Tocantins-Araguaia, segundo MapBiomas Água

Reservatórios para geração de energia instalados no Cerrado brasileiro fecharam 2022 com a maior superfície de água dos últimos 10 anos: 16,2% acima da média histórica. Já dentro de áreas protegidas, a cobertura de água diminuiu em 66% das regiões hidrográficas do bioma, sendo que 7 das 10 mais afetadas estão no Tocantins-Araguaia.

Os dados são da nova coleção do MapBiomas Água, com destaques para o Cerrado publicados em parceria com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) nesta quinta-feira (16).

Na conta geral da cobertura de água no bioma, que considera a adição de 2021 e 2022 na série temporal de mapas desde 1985, a perda na maioria das áreas protegidas foi balanceada pela cheia nos reservatórios de hidrelétricas. O resultado é que, em 2022, o Cerrado teve a maior superfície de água dos últimos 38 anos: 11% acima da média histórica. A área total ocupada pela água chegou a 0,8% do bioma no último ano, ou 1,6 milhões de hectares.

“Na última década, as áreas de agricultura irrigada no Cerrado cresceram em torno de 85% e, apesar do pico mapeado em 2022, a superfície de água esteve abaixo da média histórica em todo esse período. O avanço da agropecuária sobre os remanescentes de vegetação nativa e a intensificação na demanda por recursos hídricos podem afetar negativamente a recarga dos aquíferos e da maior parte das regiões hidrográficas do Brasil”, diz Joaquim Pereira, pesquisador no IPAM.

Os três reservatórios que tiveram o maior ganho de superfície de água entre 1985 e 2022 estão na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia. São eles: Usina Hidrelétrica Serra da Mesa (com mais 50,6 mil hectares de superfície de água); UHE Luís Eduardo Magalhães (mais 24,8 mil ha) e UHE Estreito (mais 18,9 mil ha). Outros dois reservatórios com ganho expressivo estão na região hidrográfica do Paraguai, a UHE Manso (mais 13,4 mil ha), e do São Francisco, a UHE Três Marias (mais 10,6 mil ha).

Das dez áreas protegidas mais afetadas pela perda de água nos últimos 38 anos, sete também estão no Tocantins-Araguaia: Parque Nacional do Araguaia (perdeu 36%, ou 3,6 mil hectares de sua superfície de água); Parque Estadual do Cantão (-24%, ou 3,1 mil ha); Parque Estadual do Araguaia (-22%, ou 2,3 mil ha); Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins (-81%, ou 1,2 mil ha); Refúgio da Vida Silvestre Corixão da Mata Azul (-36%, ou 900 ha); Reserva Extrativista Lago do Cedro (-29%, ou 300 ha); e Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (-87%, ou 200 ha).

localização das áreas protegidas no cerrado que mais perderam superfície de água

Localização das áreas protegidas no Cerrado que mais perderam superfície de água entre 1985 e 2022. (Fonte: IPAM/MapBiomas Água)

 

“A perda de água em áreas protegidas afeta principalmente a vazão dos rios de importância local e ecossistemas como os campos úmidos e as veredas. É um tipo de desmatamento silencioso, pois, além de diminuir a disponibilidade hídrica, altera a estrutura da vegetação e torna essas áreas mais vulneráveis a incêndios destrutivos e à arenização”, explica Dhemerson Conciani, pesquisador no IPAM.

Especialistas avaliam que o maior volume de chuvas pode explicar os resultados. Em 2022, a precipitação no Cerrado ficou acima da média histórica em 5 das 9 regiões hidrográficas. As regiões hidrográficas Atlântico Nordeste Ocidental e Parnaíba tiveram os maiores aumentos, respectivamente, 17,8% e 11,9% acima das médias históricas anuais. Ambas estão localizadas entre os estados Maranhão, Piauí e Tocantins.

“Apesar do pontual aumento de chuvas e, consequentemente, da cobertura de água no Cerrado em 2022, não há previsão para estabilidade na segurança hídrica no bioma. Conservar os remanescentes de vegetação nativa no Cerrado é essencial para a manutenção dos recursos hídricos, ainda mais em um contexto de mudanças climáticas, no qual eventos extremos são mais frequentes e intensos, como as secas severas”, conclui Julia Shimbo, pesquisadora no IPAM e coordenadora científica na iniciativa MapBiomas.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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