A população da Síria de 1950 a 2100
A população da Síria de 1950 a 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Síria é um país do Oriente Médio, localizado na Ásia Ocidental, fazendo fronteira com o Líbano e o Mar Mediterrâneo a oeste; a Jordânia ao sul, Israel ao sudoeste, Iraque ao leste e Turquia ao norte. A Síria está em uma posição geográfica estratégica, pois situada entre o Egito e a Mesopotâmia, possuindo uma civilização rica e de longa história. A capital Damasco está entre as cidade mais antigas do mundo. A Síria tem uma área de 185 mil km2, possuindo uma densidade de 118 habitantes por km2 em 2022. A título de comparação, o Brasil tem uma densidade de 26 hab/km2.
A renda per capita (em ppp) da Síria estava em torno de US$ 6,4 mil em 2010 e o país vinha crescendo em termos econômicos e populacionais na primeira década do século XXI, embora fosse um país de renda média. Contudo, a queda da produção de petróleo e a seca foram fatores detonadores do colapso atual. A arrecadação do governo caiu e puxou a economia para baixo. Ao mesmo tempo as condições climáticas reduziram a produção agrícola, inviabilizando a sobrevivência das populações rurais que tiveram que se mudar para as grandes cidades.
A Guerra na Síria começou em 2011, dentro do contexto das revoltas da Primavera Árabe, quando houve uma série de protestos contra o governo de Bashar al-Assad, gerando fome, sofrimento incalculável do seu povo, a destruição quase completa da infraestrutura e uma grande degradação do meio ambiente. Houve grande aumento da mortalidade e da emigração, o que provocou redução do volume populacional. Mas o ritmo do crescimento populacional já foi retomado, de acordo com as novas projeções da ONU.
A população síria cresceu na segunda metade do século XX, diminuiu após a guerra, mas já voltou a crescer, conforme mostra o gráfico abaixo (painel do lado esquerdo) que traz a evolução da população total da Síria de 1950 a 2100. A população síria era de 3,5 milhões de habitantes em 1950, chegou ao montante de 22,7 milhões de habitantes em 2011, caiu para 18,9 milhões em 2017, voltando a aumentar e já atingindo 23,2 milhões de habitantes em 2023. As projeções da Divisão de População da ONU mostram diversos cenários demográficos para o restante do século, mas a projeção média (a mais provável) indica uma estabilidade de cerca de 40 milhões de habitantes na segunda metade do século XXI.
O outro gráfico acima (painel do lado direito) mostra a evolução da população de 15 a 59 anos. A população em idade ativa era de menos de 2 milhões de pessoas em 1950, chegou a 14 milhões em 2010 caiu para 10 milhões de pessoas em 2017 e deve oscilar em torno de 25 milhões na segunda metade do atual século (na projeção média). Desta forma, a Síria terá uma ampliação da força de trabalho, mas carecerá reestruturar a economia para gerar oportunidades de empregos. Evidentemente, será difícil impulsionar a economia diante do isolamento internacional do país.
Os gráficos abaixo mostram a evolução da taxa de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida. A Síria tinha uma TFT de quase 8 filhos por mulher em meados do século passado e caiu para algo em torno de 3 filhos por mulher na última década. Somente após 2050 o TFT deve ficar abaixo do nível de reposição (como mostra o gráfico abaixo, painel da esquerda). A expectativa de vida ao nascer da Síria estava acima de 45 anos na década de 1950 e chegou a 75 anos em 2010 e caiu para menos de 65 anos durante o auge da guerra. A expectativa de vida voltou a subir, caiu durante a pandemia, mas deve se recuperar e ultrapassar 80 anos em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da direita).
O aprofundamento da transição demográfica implica diminuição dos grupos jovens e de aumento da proporção dos grupos mais idosos. O gráfico abaixo (da esquerda) mostra que a população síria de 0 a 14 anos estava em torno de 1 milhão de jovens entre 1950 e 1990, chegou a 8 milhões, voltou a subir e deve apresentar ligeiro decrescimento na segunda metade do atual século. O número de idosos (gráfico da direita) era de menos de 370 mil pessoas de 60 anos e + de idade em 1950, já superou 2 milhões e deve atingir mais de 12 milhões de idosos em 2100.
O decrescimento populacional é o resultado do aprofundamento da transição demográfica e da transformação da estrutura etária. Os gráficos abaixo mostram o estreitamento da base e o alargamento do topo das pirâmides populacionais da Síria entre 1950 e 2100. A pirâmide etária de 1950 tinha uma base larga e um topo estreito, devido às altas taxas de natalidade e mortalidade.
A pirâmide populacional de 2023 mostra uma redução do tamanho dos grupos etários de 5 a 15 anos, refletindo a alta emigração e a rápida queda nas taxas de fecundidade que ocorreu durante a guerra, mas já apresenta uma certa recuperação no último quinquênio. Já a pirâmide de 2100 tem uma forma mais parecida com um retângulo. Desta forma, a Síria vai experimentar um envelhecimento populacional mais moderado que outros países.
A mudança na estrutura etária gera efeitos diferenciados na razão entre a população em idade ativa e inativa ao longo do tempo. O gráfico abaixo mostra a razão de dependência da população síria de 1950 a 2100. Nota-se que havia cerca de 110 pessoas consideradas dependentes para cada 100 pessoas em idade produtiva na segunda metade do século XX. A razão caiu para 70 antes da guerra e voltou para 90 depois da guerra. Em 2030 deve atingir o nível mais baixo (50 pessoas) e vai subir daí em diante.
O crescimento econômico da Síria de 1960 a 2010 aumentou a sobrecarga ambiental. Segundo o Instituto Global Footprint Network, a Síria tinha, em 1961 uma Pegada Ecológica per capita de 0,98 hectares globais (gha) e uma Biocapacidade per capita de 1,22 gha. Portanto havia superávit ambiental. Mas com o crescimento econômico a Pegada Ecológica per capita passou para 2,23 gha, embora tenha caído para 1,34 gha em 2018. A Biocapacidade per capita caiu de 1,22 gha em 1961 para 0,49 gha em 2018. Assim, o déficit ecológico per capita cresceu bastante a despeito de toda a crise econômica, embora tenha caído após o início da guerra, conforme mostra a figura abaixo.
As tendências populacionais indicam que a Síria ainda poderá aproveitar o 1º bônus demográfico nas próximas décadas, mas a crise econômica, a reconstrução do país e os desafios ambientais são desafios que os sírios terão que enfrentar.
Os últimos anos têm sido de retrocessos econômicos e sociais para o povo sírio. É enorme o número de pessoas que necessitam de ajuda humanitária. Para complicar, um terremoto primário de magnitude 7,8 atingiu a Turquia e a Síria no dia 06 de fevereiro de 2023 deixando mais de 30 mil mortos (nos dois países, na primeira semana de resgate) e causando imensos prejuízos econômicos e sociais.
O regime ditatorial dificulta a recuperação do país e a retomada do desenvolvimento humano. A Síria é governada pela família Al-Assad desde a década de 1970 de maneira incrivelmente autoritária. Bashar al-Assad assumiu o país em 2000, após a morte de seu pai, Hafez al-Assad. No índice da democracia da revista britânica The Economist, a Síria apresenta os piores indicadores de liberdade política e alto nível de corrupção. Em termos de liberdades políticas, a Síria fica à frente apenas da República Centro Africana, Coreia do Norte, Myanmar e Afeganistão, considerados os países mais fechados e despóticos do mundo. A Síria não tem problema de envelhecimento populacional, mas enfrenta um sério problema para renovar sua estrutura política antidemocrática e carcomida.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. O colapso da Síria: pico do petróleo e pico demoeconômico, Ecodebate, 30/03/2016
http://www.ecodebate.com.br/2016/03/30/o-colapso-da-siria-pico-do-petroleo-e-pico-demoeconomico-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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