O número de nascimentos no Brasil em 2022 foi o menor em 70 anos
O número de nascimentos no Brasil em 2022 foi o menor em 70 anos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O país terá uma grande mudança na estrutura etária, com estreitamento da base e alargamento do topo da pirâmide populacional
A população brasileira estava pouco acima de 50 milhões de habitantes em 1950, passou para cerca de 215 milhões em 2022, deve atingir o pico de 231 milhões em 2047 e decrescer para algo em torno de 184 milhões de habitantes em 2100.
Conforme mostra o gráfico abaixo, com dados das projeções da Divisão de População da ONU, o número de nascimentos estava em 2,5 milhões de bebês em 1950, atingiu o pico de 4 milhões na média anual no quinquênio 1981-85 e se manteve pouco acima de 3 milhões de bebês no quinquênio 2011-15. A partir de 2016, o número de nascimento ficou abaixo de 3 milhões e sofreu uma abrupta diminuição durante a pandemia da covid-19. Ao mesmo tempo, o número de mortes que estava abaixo de 1 milhão de óbitos na metade do século passado foi subindo lentamente, ultrapassou 1,3 milhão de óbitos no quinquênio 2015-2019 e deu um salto para mais de 1,7 milhão durante a pandemia.
Portanto, a variação vegetativa da população (nascimentos – óbitos) cresceu até cerca de 3 milhões de pessoas em 1985 e, desde então, iniciou uma fase de desaceleração que atingirá o crescimento zero em 2046 e decrescimento no período de 2047 a 2100. Na segunda metade do século XXI, o número de nascimentos ficará abaixo de 2 milhões e o número de óbitos ficará acima de 2 milhões e, por conseguinte, a população brasileira perderá cerca de 1 milhão de pessoas ao ano.
O gráfico abaixo, com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, mostra que o número de nascimentos diminuiu e o número de óbitos aumentou durante a pandemia da covid-19. Consequentemente, a variação vegetativa ficou abaixo de 1 milhão de pessoas em 2021. Em 2022, o número de óbitos diminuiu em relação ao auge do ano anterior e a variação vegetativa voltou a ultrapassar a marca de 1 milhão de pessoas.
O fato é que o número de nascimentos no Brasil, em 2022, foi menor do que o número de nascimentos de 1952. O número de bebês retrocedeu ao nível de 70 anos atrás. E, evidentemente, não se trata de algo excepcional, mas o início de uma nova tendência. Ou seja, por volta de 2030 até 2100, o número de nascimentos anuais no Brasil será sempre menor do que o montante ocorrido em meados do século passado e o montante de óbitos será cada vez maior, a despeito do aumento da expectativa de vida ao nascer. O 1º bônus demográfico chegará ao fim entre 2035 e 2040.
Portanto, o país terá uma grande mudança na estrutura etária, com estreitamento da base e alargamento do topo da pirâmide populacional. A dinâmica demográfica brasileira será caracterizada por um rápido e profundo envelhecimento da população e pela redução do volume da população. Para garantir o progresso econômico, social e ambiental o Brasil precisará contar com o 2º bônus demográfico (chamado bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).
Durante mais de 500 anos o Brasil registrou uma população em constante crescimento, mas a partir da segunda metade do século XXI experimentará o decrescimento demográfico. O país enfrentará novos desafios, mas também novas oportunidades.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), maio de 2022. (colaboração de Francisco Galiza)
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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