Impactos humanos superam os processos naturais na Amazônia
Impactos humanos superam os processos naturais na Amazônia
Mudança na Amazônia por ação humana é milhares de vezes mais rápida que os processos naturais
Um estudo realizado por 19 cientistas, 11 deles brasileiros, evidencia de maneira inédita o impacto da ação humana na degradação da Amazônia.
Dados compilados a partir do Painel Científico para a Amazônia (SPA, na sigla em inglês) mostram que as taxas das mudanças causadas por humanos avançam centenas a milhares de vezes mais rápido do que os processos naturais (climáticos e geológicos) da região. O resultado da pesquisa foi divulgado no site da revista americana Science e é capa da versão impressa da publicação.
O geólogo Pedro Val é um dos autores brasileiros do artigo. Professor-assistente do Queens College, em Nova York, e especialista no passado geológico da Amazônia, foi Pedro Val quem sugeriu a comparação entre a escala de tempo geológica e a das atividades antrópicas, e quantificou a diferença do ritmo de avanço de cada uma das ações.
“Para que possamos criar medidas de conservação, não podemos velejar às cegas. É preciso entender a velocidade da degradação do ambiente. Para isso, precisamos saber qual é a velocidade em que os diferentes sistemas naturais operam. A revisão que publicamos dá o primeiro passo nessa comparação na Amazônia e soa um alarme de que precisamos imediatamente parar o desmatamento e mergulhar fundo na quantificação dos diferentes processos naturais em todas as esferas”, explica Val, que já foi apoiado pelo Instituto Serrapilheira em um projeto que investigava o passado geológico da Amazônia a partir do DNA de peixes.
De acordo com os pesquisadores, entre os maiores agentes da destruição do habitat amazônico estão desmatamento, queimadas, erosão do solo, barragem de rios e desertificação por mudanças climáticas. O estudo salienta que as mudanças causadas por humanos no bioma afetam o continente num prazo de décadas a séculos — enquanto os processos naturais geológicos ocorridos na Amazônia levam milhões de anos para impactar o restante da América do Sul.
Os pesquisadores reafirmam que a degradação dos ambientes amazônicos está acontecendo em um ritmo sem precedentes, ao qual as espécies, os povos e os ecossistemas da região não estão conseguindo responder de maneira adaptativa. Eles alertam que políticas para evitar os piores cenários precisam ter início imediatamente, e que é urgente ter vontade política e liderança para agir.
Referência:
Human impacts outpace natural processes in the Amazon
Science – 27 Jan 2023 – Vol 379, Issue 6630
DOI: 10.1126/science.abo5003
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Do Instituto Serrapilheira, in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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