Degradação generalizada da Amazônia seria uma catástrofe global
Degradação generalizada da Amazônia seria uma catástrofe global
Tragédia anunciada: destruição da Amazônia será “catastrófica” para o planeta, alertam cientistas
Revisão da literatura científica reafirma alerta sobre a necessidade urgente de frear o desmatamento da floresta. Estudos com autores brasileiros são destaque na revista Science desta semana
Texto: Herton Escobar
Arte: Rebeca Fonseca
Jornal da USP
Para aqueles que ainda têm dúvidas sobre a importância da Floresta Amazônica para o futuro da espécie humana no planeta, um novo artigo científico traz uma mensagem muito clara: “Do ponto de vista climático, a degradação generalizada da Amazônia seria uma catástrofe global irreversível”, escrevem os autores, sem meias palavras, na edição desta semana da revista Science.
Segundo os pesquisadores, muito além dos impactos diretos sobre a própria floresta, ou sobre a própria região amazônica, o colapso do bioma teria o poder de desencadear alterações climáticas brutais em todo o planeta, com “consequências catastróficas para o bem-estar humano”, incluindo insegurança hídrica e alimentar, migrações em massa e instabilidade política.
O trabalho é assinado por 19 pesquisadores, de seis países, incluindo três autores da USP. Trata-se de uma revisão — ou seja, um artigo em que os autores analisam toda a literatura científica disponível para rascunhar hipóteses e derivar conclusões a respeito de um determinado tema. E as conclusões, nesse caso, são assustadoras. Segundo os cientistas, a Amazônia está muito próxima de sofrer um colapso do seu sistema hidrológico, que resultará na substituição de suas vastas florestas tropicais por uma cobertura vegetal muito mais seca, semelhante a uma savana degradada. Mesmo nas áreas que não forem desmatadas, essa degradação resultará em emissões massivas de gás carbônico para a atmosfera, que agravarão ainda mais as mudanças climáticas globais.
“As principais mensagens desta revisão são que múltiplas mudanças graves na Amazônia, impulsionadas por atividades humanas modernas, estão acontecendo rápido demais para a sobrevivência de suas espécies e ecossistemas, e que o desmatamento generalizado da Amazônia seria uma catástrofe irreversível para o sistema climático global”, escrevem os pesquisadores.
“É uma realidade triste, mas uma realidade verdadeira”, disse ao Jornal da USP o climatologista Carlos Nobre, pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e autor sênior do trabalho. O artigo aparece como um dos destaques de capa da Science, ao lado de outro estudo liderado por brasileiros, que também alerta para os perigos globais da degradação florestal na Amazônia (mais detalhes abaixo).
“Acho que muita gente ainda não se deu conta do risco que estamos correndo”, disse ao Jornal da USP a professora Lúcia Lohmann, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências (IB) da USP, que também assina a revisão. “Esta talvez seja a última década que temos para reverter esse cenário”, alerta ela.
O artigo chama atenção para o fato de que os impactos cumulativos das atividades humanas sobre a Amazônia estão erodindo o equilíbrio ecológico do bioma num ritmo muito mais acelerado do que qualquer fenômeno natural do passado, impedindo que suas espécies e seus ecossistemas tenham a possibilidade de se adaptar a essas mudanças. Mudanças que ocorriam ao longo de milhares de anos agora estão ocorrendo no prazo de décadas. “É uma transformação tão rápida que não existe nenhuma chance de o sistema se adaptar”, pontua Nobre. Os principais impactos considerados na análise incluem desmatamento, queimadas, erosão do solo, represamento de rios e o ressecamento (“aridificação”) dos ecossistemas florestais, causado pelas mudanças climáticas globais — que também são consequência da interferência humana nos sistemas naturais da Terra.
Cerca de metade da chuva que cai sobre a Amazônia é gerada pela sua própria vegetação, por meio da evapotranspiração das plantas (que “reciclam” a água da chuva e a devolvem para a atmosfera na forma de vapor). Quanto menor a cobertura vegetal, portanto, menor a quantidade de água disponível no sistema para manter o equilíbrio ecológico da floresta. Em outras palavras, à medida que o desmatamento avança pela região, a floresta vai ficando cada vez mais seca, até deixar de ser floresta. “Além de um certo limite, o desmatamento e a aridez regional ficarão presos em um ciclo vicioso, que levará a uma transformação descontrolada de exuberantes florestas tropicais em paisagens agrícolas degradadas, semelhantes a savanas”, escrevem os pesquisadores.
Degradação
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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