As 5 capitais brasileiras com decrescimento populacional entre 2010 e 2022
As 5 capitais brasileiras com decrescimento populacional entre 2010 e 2022, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
As principais capitais brasileiras provavelmente continuarão crescendo na atual década, mas o decrescimento populacional deve acontecer na década de 2030
O IBGE divulgou no dia 28 de dezembro de 2022 a prévia da população dos municípios, dos estados e do país com base nos dados coletados pelo Censo Demográfico até o dia 25 de dezembro. O levantamento indicou 207.750.291 milhões de habitantes em 2022. Cerca de 2.300 municípios apresentaram população menor em 2022 em relação a 2010. Porém, estes números não representam o resultado final.
A coleta do censo prosseguirá nos meses de janeiro e fevereiro de 2023 e alguns números das estimativas municipais enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), provavelmente, deverão ser revisados.
A tabela abaixo mostra as 5 capitais brasileiras com decrescimento populacional entre 2010 e 2022, segundo a divulgação da prévia do censo 2022 realizada pelo IBGE no dia 28 de dezembro do ano passado.
A coluna (A) mostra a população segundo o censo de 2010 e a coluna (B) mostra a soma da população recenseada em 2010 com o crescimento vegetativo do período de referência dos censos 2010 e 2022, segundo as estatísticas vitais do SIM (mortalidade) e SINASC (natalidade) do Ministério da Saúde. A coluna (C) mostra a população estimada na prévia do censo 2022. A coluna (C-B) mostra o decrescimento absoluto do período de 12 anos considerando a prévia do censo 2022 e a soma dos dados de 2010 com o crescimento vegetativo do período. Na última coluna apresentamos o decrescimento relativo.
A maior queda absoluta ocorreu na cidade de Salvador, que tinha uma população de 2,68 milhões de habitantes em 2010 e caiu para 2,61 na prévia de 2022, uma redução de 65 mil habitantes. Se considerarmos o crescimento vegetativo, a queda foi de 271.272 habitantes. Em termos relativos a redução foi de 9,4% no período.
A segunda maior queda absoluta foi registrada na cidade do Recife, que tinha uma população de 1,54 milhão de habitantes em 2010 e caiu para 1,49 milhão na prévia de 2022, uma redução de 43 mil habitantes. Se considerarmos o crescimento vegetativo, a queda foi de 157.149 habitantes. Em termos relativos a redução foi de 9,5% no período.
A terceira maior queda absoluta foi registrada na cidade de Belém, que tinha uma população de 1,39 milhão de habitantes em 2010 e caiu para 1,38 milhão na prévia de 2022, uma redução de 26 mil habitantes. Se considerarmos o crescimento vegetativo, a queda foi de 121.521 habitantes. Em termos relativos a redução foi de 9,7% no período.
A quarta maior queda absoluta foi registrada na cidade de Natal, que tinha uma população de 804 mil habitantes em 2010 e caiu para 752 mil na prévia de 2022, uma redução de 51,8 mil habitantes. Se considerarmos o crescimento vegetativo, a queda foi de 125.328 habitantes. Em termos relativos a redução foi a maior entre as capitais, com diminuição de 14,3% no período de 2010 a 2022
A menor queda absoluta foi registrada na cidade de Porto Alegre, que tinha uma população de 1,409 milhão de habitantes em 2010 e caiu para 1,404 milhão na prévia de 2022, uma redução de 5,1 mil habitantes. Se considerarmos o crescimento vegetativo, a queda foi de 71.829 habitantes. Em termos relativos a redução foi de 4,9% no período de 2010 a 2022
Evidentemente, as prefeituras das cidades que tiveram decrescimento populacional em relação ao censo de 2010 estão reclamando dos números divulgados pelo IBGE da prévia do censo 2022. Para complicar a queda foi ainda maior em relação às estimativas populacionais de 2021. Normalmente, para atualizar os dados durante a década posterior ao censo demográfico recorre-se às projeções populacionais. Nas últimas projeções realizadas pelo IBGE (de 2018) a metodologia utilizada implica tomar como base a população recenseada em 2010 (e conciliada com o censo de 2000) aplicando-se a probabilidade de sobrevivência projetada para o período intercensitário e estimando a população de 0 a 10 anos a partir das taxas projetadas de fecundidade para o período.
Mas na falta da Contagem Populacional de 2015 e com as alterações da dinâmica demográfica nos últimos anos no Brasil, com a ocorrência da pandemia da covid-19, as projeções de 2018 ficaram desatualizadas e super enumeradas. Portanto, as estimativas municipais divulgadas pelo IBGE em 2021 apresentaram números acima da realidade demográfica da maioria dos municípios. Com a realização do censo 2022 esta defasagem ficou evidente. Desta forma, a metodologia mais adequada é comparar os dados da prévia do censo de 2022 com os dados do censo de 2010 acrescido do crescimento vegetativo (como apresentado na tabela acima). Mas para efeito de comparação vamos apresentar em seguida os gráficos da evolução da população das cinco capitais, entre 1872 e 2022.
A cidade de Salvador, primeira capital do Brasil, tinha uma população de 129,1 mil habitantes nos cinquenta anos da Independência do Brasil (ficava atrás apenas da cidade do Rio de Janeiro). Passou para 205,8 mil em 1900, 417,2 mil em 1950, 2,44 milhões no ano 2000 e 2,68 milhões em 2010 (terceira cidade mais populosa do país, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro). A população de Salvador cresceu 21 vezes entre 1972 e 2010. E embora as estimativas de 2021 tenham indicado 2,9 milhões de habitantes, a prévia do censo 2022 indicou “apenas” 2,61 milhões de habitantes, o que significa 289 mil pessoas a menos do que a estimativa de 2021 e 65 mil pessoas a menos do que o censo 2010.
Em um cenário de migração zero, a população de Salvador deveria estar em torno de 2,88 milhões de habitantes em 2022 (que seria a soma da população de 2010, sem qualquer subenumeração, e o crescimento vegetativo do período). Portanto, o número mais realista seria uma população soteropolitana menor que estimativa de 2021, mas maior do que o número apresentado pela prévia do censo 2022.
A figura abaixo mostra a pirâmide populacional da cidade de Salvador, sobreposta à pirâmide brasileira, segundo dados do censo de 2010 do IBGE. Nota-se que a estrutura etária de Salvador é mais envelhecida do que a pirâmide nacional, porém o percentual de jovens de 0 a 14 anos é maior do que o percentual da população idosa (60 anos e mais). Portanto, a população de Salvador deve continuar crescendo pelo menos até o fim da década de 2020 e um decrescimento entre 2010 e 2022 não tem muito fundamento na dinâmica demográfica, a não ser que tenha havido uma grande emigração na cidade (o que parece não ser o caso). Sem dúvida, Salvador já cresce menos do que os municípios da região metropolitana, mas um decrescimento entre 2010 e 2022 não estava previsto nas projeções demográficas.
A cidade do Recife tinha uma população de 116,7 mil habitantes em 1872, nos cinquenta anos da Independência do Brasil. Caiu para 113,mil em 1900, deu um salto para 417,2 mil em 1950, chegou a 1,4 milhão no ano 2000 e atingiu 1,54 milhão em 2010. A população do Recife cresceu 13 vezes entre 1972 e 2010. E embora as estimativas de 2021 tenham indicado 1,66 milhão de habitantes, a prévia do censo 2022 indicou “apenas” 1,49 milhão de habitantes, o que significa 166 mil pessoas a menos do que a estimativa de 2021 e 43 mil pessoas a menos do que o censo 2010.
A cidade de Porto Alegre tinha uma população de 44 mil habitantes em 1872, passou para 73,7 mil em 1900, chegou a 394,2 mil em 1950, deu um salto para 1,36 milhão no ano 2000 e atingiu 1,409 milhão em 2010. A população de Porto Alegre cresceu 32 vezes entre 1972 e 2010. E embora as estimativas de 2021 tenham indicado 1,49 milhão de habitantes, a prévia do censo 2022 indicou “apenas” 1,404 milhão de habitantes, o que significa 88 mil pessoas a menos que em 2021 e 5 mil pessoas a menos do que em 2010.
A cidade de Belém tinha uma população de 61 mil habitantes em 1872, passou para 96,6 mil em 1900, chegou a 254,9 mil em 1950, deu um salto para 1,28 milhão no ano 2000 e atingiu 1,39 milhão em 2010. A população de Belém cresceu 23 vezes entre 1972 e 2010. E embora as estimativas de 2021 tenham indicado 1,506 milhão de habitantes, a prévia do censo 2022 indicou “apenas” 1,37 milhão de habitantes, o que significa 139 mil pessoas a menos que em 2021 e 26 mil pessoas a menos do que em 2010.
A cidade de Natal tinha uma população de 20 mil habitantes em 1872, caiu para 16 mil em 1900, chegou a 103,2 mil em 1950, deu um salto para 709,5 mil no ano 2000 e atingiu 803,7 mil em 2010. A população de Natal cresceu 39 vezes entre 1972 e 2010. E embora as estimativas de 2021 tenham indicado 897 mil habitantes, a prévia do censo 2022 indicou “apenas” 752 mil habitantes, o que significa 145 mil pessoas a menos que em 2021 e 52 mil pessoas a menos do que em 2010, uma diferença muito grande.
Evidentemente, os números da prévia do censo 2022 precisam ser avaliados e atualizados até março de 2023. Ao mesmo tempo existem municípios que apresentaram crescimento acima da média nacional. Reportagem de Rone Carvalho, publicada no Diário da Região (07/01/2023), mostra que os prefeitos da região Noroeste de São Paulo estão satisfeitos com os números da prévia do censo 2022. Todavia, até o final do recenseamento os números gerais devem ser revisados e é fundamental que se chegue a um nível de cobertura que seja o mais próximo possível da realidade.
As principais capitais brasileiras provavelmente continuarão crescendo na atual década (a exceção deve ser Porto Alegre), mas o decrescimento populacional deve acontecer na década de 2030.
Por enquanto, todo esforço deve ser feito para completar de maneira adequada o censo 2022, para que o país tenha os dados corretos para servir de base para as políticas públicas e para o planejamento dos investimentos da iniciativa privada.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
IBGE. Prévia da População dos Municípios com base nos dados do Censo Demográfico 2022 coletados até 25/12/2022, divulgação em 28 de dezembro de 2022
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/22827-censo-demografico-2022.html?edicao=35938&t=resultados
ALVES, JED. Qual o tamanho da população brasileira atual? Ecodebate, 25/08/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/08/25/qual-o-tamanho-da-populacao-brasileira-atual/
ALVES, JED. O resultado da prévia do censo 2022 para o Brasil, regiões e Unidades da Federação, Ecodebate, 06/01/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/01/06/resultado-da-previa-do-censo-2022-para-o-brasil/
ALVES, JED. Uma avaliação da prévia do censo 2022 para o Brasil, regiões e Unidades da Federação, Ecodebate, 09/01/2023 https://www.ecodebate.com.br/2023/01/09/uma-avaliacao-da-previa-do-censo-2022-para-o-brasil-regioes-e-unidades-da-federacao/
ALVES, JED. As 3 cidades fluminenses com maior decrescimento populacional entre 2010 e 2022, Ecodebate, 13/01/2023 https://www.ecodebate.com.br/2023/01/13/as-3-cidades-fluminenses-com-maior-decrescimento-populacional-entre-2010-e-2022/
Nota da redação: Sobre análises da demografia brasileira recomendamos que leiam, também:
A população das capitais brasileiras entre 2010 e 2022
Qual o tamanho da população brasileira atual?
Uma avaliação da prévia do censo 2022
Resultado da prévia do censo 2022 para o Brasil
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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Excelente este numero do boletim, com informações preciosas sobre população brasileira . Incrível o crescimento populacional pós 1940… a Era Vargas, cujo fim querem celebrar… !
o nosso país com quase 10 milhões de desempregados e quase metade dos trabalhadores recebendo até um salário mínimo que mal dá pra pagar um aluguel é até justo que as pessoas não queiram mais ter filhos.