Importância das pontes de dossel para conservação de mamíferos arborícolas
Importância das pontes de dossel para conservação de mamíferos arborícolas
Pontes de dossel – estruturas de travessia artificiais e naturais sobre infraestrutura linear – são cada vez mais implementadas para ajudar a resolver o problema de fragmentação de habitat
Estradas e outras formas de infraestrutura linear humana são uma importante fonte de mortalidade direta para a vida selvagem. Eles representam ameaças substanciais aos ecossistemas globais por meio de colisões com veículos e bissecção de habitats, causando isolamento de populações de animais em ambos os lados.
Tal isolamento pode levar à perda de acesso a recursos importantes, como comida, abrigo e parceiros e, eventualmente, ao declínio substancial das espécies.
Os impactos sobre os mamíferos terrestres são profundos, mas em muitas partes do mundo, muitas espécies são parcial ou totalmente arborícolas ou arbóreas, e sua aversão a descer ao solo torna o impacto das estradas ainda mais pronunciado.
Pontes de dossel – estruturas de travessia artificiais e naturais sobre infraestrutura linear – são cada vez mais implementadas por cientistas e profissionais da conservação para ajudar a resolver esse problema de fragmentação de habitat.
Os 23 estudos de caso revisados por pares sobre pesquisas em 14 países incluídos na edição de dezembro da Folia Primatologica ilustram a crescente sofisticação da pesquisa de pontes de dossel com o crescente interesse dos pesquisadores em testar projetos inovadores e métodos de monitoramento.
Este novo corpo de literatura contribuirá substancialmente para a compreensão das pontes dossel, incluindo o uso de diferentes designs, custos envolvidos e materiais pelas espécies. Essas melhorias e a transferência de conhecimento entre as equipes de pesquisa permitirão que a implementação de pontes de dossel seja ampliada globalmente e o desafio de uma rede rodoviária crescente ter soluções de mitigação para espécies arbóreas.
CITAÇÕES
“Projetar e implementar pontes que os animais usarão pode ser extremamente desafiador. À medida que o sistema rodoviário global explode, é o momento perfeito para conservacionistas e profissionais aprenderem uns com os outros para implementar com mais eficiência soluções que funcionem”. – Tremaine Gregory, editor principal, coautor de três publicações e ecologista conservacionista do Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute
“Esta edição especial apresenta novos insights de pesquisadores e profissionais de todo o mundo que podem orientar mudanças importantes para a conservação de espécies arbóreas. Essa gama de informações é um avanço relevante para a ciência e para a gestão do desenvolvimento de estradas de forma mais sustentável para a vida selvagem.” – Fernanda Abra, coeditora, coautora de duas publicações e pós-doutoranda no Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute
Referências:
Rush hour: arboreal mammal activity patterns in natural canopy bridges in the Peruvian Amazon
Folia Primatologica
https://doi.org/10.1163/14219980-20211209Canopy bridges: preventing and mitigating anthropogenic impacts on mantled howler monkeys (Alouatta palliata palliata) in Costa Rica
Folia Primatologica
https://doi.org/10.1163/14219980-20211006A review of the application of canopy bridges in the conservation of primates and other arboreal animals across Brazil
Folia Primatologica
https://doi.org/10.1163/14219980-20211210
Resumo: O Brasil é conhecido como um país de alta biodiversidade, mas, ao mesmo tempo, possui uma extensa rede rodoviária que ameaça sua vida selvagem e seus ecossistemas. Os impactos de estradas e ferrovias sobre vertebrados têm sido amplamente documentados, e a discussão sobre a implementação de medidas de mitigação para a fauna terrestre aumentou na última década.
Os animais arborícolas são especialmente afetados pela perda direta de indivíduos devido a colisões animal-veículo e pelo efeito barreira, pois a maioria das espécies arbóreas, principalmente as estritamente arbóreas, evita descer ao solo para se deslocar na paisagem.
Aqui nós resumimos e revisamos as informações sobre pontes suspensas existentes em todo o Brasil, considerando as iniciativas de pontes suspensas artificiais e naturais implementadas principalmente em projetos rodoviários e ferroviários.
Um total de 151 pontes de dossel foram identificadas em todo o país, 112 das quais são estruturas feitas pelo homem de diferentes materiais, enquanto as 39 restantes são pontes de dossel naturais. Encontramos pontes de dossel em três dos seis biomas, com maior número na Mata Atlântica e Amazônia, os biomas mais florestados.
A maioria das pontes de dossel está em áreas protegidas (76%) e os primatas são os táxons-alvo mais comuns para a implementação de pontes de dossel.
Nosso estudo é o primeiro mapeamento biogeográfico e revisão de pontes de dossel para a conservação da vida selvagem arbórea em um país megadiverso. Sintetizamos o conhecimento disponível sobre pontes suspensas no Brasil e destacamos lacunas que devem ser abordadas em pesquisas futuras e projetos de monitoramento.
Autores
Fernanda Zimmermann Teixeira (1), Lucas Gonçalves da Silva (2) (3), Fernanda Abra (4) (5) (6), Clarissa Rosa (7), Gerson Buss (8), Marcello Guerreiro (9), Edson Rodrigues Costa (10), Aline Souza de Menezes Medeiros (10), Marcelo Gordo (10) e Helio Secco (11) (12)
Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
MCTI Instituto Nacional da Mata Atlântica (Brasil)
Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília (Brasil)
National Zoo and Conservation Biology do Smithsonian (EUA)
ViaFAUNA Estudos Ambientais (Brasil)
Instituto Pró-Carnívoros, Atibaia (Brasil)
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Biodiversidade (Brasil)
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Centro Nacional de Pesquisa e
Conservação de Primatas Brasileiros (Brasil)
Concessionária Arteris Fluminense (Brasil)
Laboratório de Biologia da Conservação, Projeto Sauim-de-Coleira, Departamento de Biologia, Universidade Federal do Amazonas, CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior) (Brasil)
Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade, Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
FALCO Ambiental Consultoria (Brasil)
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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