Impactos dos plásticos nos oceanos
A fotógrafa Caroline Power disse que uma ilha de resíduos de plástico que ela documentou recentemente era “pequena em comparação com as dos oceanos Atlântico e Pacífico”. As consequências ambientais de tanto plástico, no entanto, ainda são devastadoras. Foto de Caroline Power, in Phys.org
Impactos dos plásticos nos oceanos, artigo de Filippo Mario Nazareno Gomes Fogaccia
Atingindo a fauna marinha, o plástico acaba invadindo de maneira drástica o homem por meio da alimentação
A palavra plástico deriva do grego plastikos, “próprio para ser moldado ou modelado”, elemento que surgiu com o objetivo de substituir materiais de origem animal pouco flexíveis e não moldáveis, como o marfim dos elefantes. Nesse contexto, em meados de 1900, surge a baquelite, o primeiro plástico sintético, material que ganhou o mercado e é usado até hoje em uma série de processos industriais, pois possui aspecto leve, resistente e versátil.
Graças as suas qualidades, o plástico modificou e melhorou muito a vida do homem, que passou a utilizá-lo em diversos segmentos. Práticos, duráveis e relativamente baratos, eles se tornaram parte do nosso dia a dia. Todas as coisas com as quais temos contato em nosso cotidiano, exceto comida, água e ar, contêm plástico na sua constituição. Observe bem: hoje em dia, quase tudo é embalado em plástico, no entanto, ao serem descartados, esses materiais se tornam um problema muito grande por conta de uma das suas maiores virtudes: a durabilidade. Esses materiais são, em sua maioria, resistentes à decomposição por micro-organismos, isso devido a uma série de fatores: dureza, absorção limitada de água e tipo de estrutura química.
Os plásticos são polímeros, ou seja, moléculas grandes, formadas pela ligação química de milhares de moléculas menores, os monômeros. Ainda que os polímeros usados comercialmente possuam componentes como plastificantes, pigmentos, antioxidantes e lubrificantes, que deixam o material suscetível ao ataque microbiano, a decomposição que ocorre é irrelevante. O que se constata é que, depois de descartado, o plástico permanece sem se degradar durante décadas, ou mesmo séculos, agravando o problema do descarte de lixo, uma das mais sérias complicações da sociedade atual.
Quando descartados incorretamente, os materiais plásticos causam grandes impactos no meio ambiente, especialmente no marinho. Como esses produtos demoram muito para se decompor, eles são inicialmente descartados no continente e acabam sendo direcionados aos rios e mares. A quantidade de plástico gerada é enorme, cerca de 8 milhões de toneladas entram nos oceanos por ano. Estudos apontam que, se continuarmos a produzir materiais plásticos no ritmo atual, em 2050, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.
Acumulados em determinados pontos dos oceanos e mares, em regiões conhecidas como “ilhas de plástico”, o material é levado por conta da ação das correntes marítimas, resultantes dos ventos e do movimento de rotação da Terra. Atualmente, existem cinco principais pontos em que ocorrem o acúmulo desses detritos: Atlântico Norte, Atlântico Sul, Índico, Pacífico Norte e Pacífico Sul.
Essa montanha de plástico provoca o desequilíbrio de ecossistemas marinhos e compromete a sobrevivência de animais marinhos, já que esses seres consomem produtos plásticos, pois os confundem com alimentos. Esses produtos, além de tóxicos, não são digeridos e acumulam-se no estômago desses animais, o que pode impedir a ingestão de comida, perfurar a parede do estômago e causar a morte.
Atingindo a fauna marinha, o plástico acaba invadindo de maneira drástica o homem por meio da alimentação. Nesse sentido, o microplástico tem grande responsabilidade, pois é ingerido por peixes, moluscos e outros animais marinhos e entram na cadeia alimentar até chegarem ao consumidor final, os humanos. Uma vez que eles chegam ao intestino, liberam toxinas e aditivos químicos causadores de doenças graves, como o câncer.
A passagem de microplásticos nessa cadeia alimentar tem mais um agravante: a biomagnificação, processo em que ocorre o aumento na concentração de um contaminante (ou seja, microplásticos ou aditivos) em um organismo em comparação com a concentração em seu consumidor. Assim, nós, predadores, possuímos maiores concentrações de microplásticos no organismo do que os peixes, por exemplo.
Para minimizar as diversas formas de agressão causadas pelo descarte de plásticos ao meio ambiente, os materiais biodegradáveis se apresentam como uma proposta interessante, pois, ao contrário dos plásticos sintéticos derivados do petróleo, os biodegradáveis deterioram-se com relativa facilidade, integrando-se totalmente à natureza. Além dos plásticos biodegradáveis, a reciclagem tem sido uma alternativa muito utilizada, embora tenha enfrentado resistência do próprio ser humano por conta de fatores como dificuldade de separação dos materiais e alto custo, que gera baixo interesse de empresas no processo de reciclagem de seus resíduos.
Preservar o meio ambiente é algo que deve estar sempre em prioridade na visão do homem moderno, não apenas pelo apelo ao bem-estar das gerações futuras, mas, sim, pela manutenção da vida, que é o nosso bem mais precioso e que está sendo descartado sem precedentes quando jogamos fora uma embalagem plástica apenas porque seu tamanho não serve aos nossos propósitos corriqueiros.
Filippo Mario Nazareno Gomes Fogaccia é professor de Química do Colégio Presbiteriano Mackenzie — Higienópolis, coordenador de Vestibulares e professor do Curso MackVest.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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