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São Gonçalo tem decrescimento populacional pelo terceiro ano consecutivo

 

São Gonçalo tem decrescimento populacional pelo terceiro ano consecutivo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A cidade de São Gonçalo, é o segundo município mais populoso do estado do Rio de Janeiro e teve um grande crescimento nos últimos 50 anos.

A população gonçalense era de 430 mil habitantes em 1970, passou para 891 mil no ano 2000 (dobrou de tamanho em 30 anos) e chegou a 999,7 mil habitantes em 2010, segundo os censos demográficos do IBGE.

De acordo com as estimativas municipais do IBGE, a população de São Gonçalo estaria em 1.084,8 milhão em 2019 e, sem incorporar o efeito da pandemia da covid-19, estaria em 1.098,4 milhão de habitantes em 2021. O número mais atualizado será divulgado após a conclusão do censo demográfico 2022.

Mas há outros dados sobre registros civis para os anos mais recentes. O Portal da Transparência do Registro Civil fornece dados de nascimentos e de mortes, mas não os dados sobre migração que só estarão disponíveis após a publicação dos resultados do censo demográfico de 2022, do IBGE. Desta forma, o gráfico abaixo mostra o número de nascimentos e óbitos e a variação vegetativa em São Gonçalo, para os anos de 2018 a 2022. São Gonçalo tinha crescimento vegetativo antes de 2020.

Nota-se que o número de nascimentos estava pouco acima de 7 mil bebês entre 2018 e 2020 e ficou abaixo de 7 mil em 2021 e 2022, refletindo a queda das taxas de natalidade durante a pandemia (pode refletir também um aumento de uma certa evasão de registros de nascimentos que são contabilizados em outros municípios, como a cidade do Rio de Janeiro e Niterói). O número de mortes que estava em torno de 6,6 mil óbitos em 2018 e 2019, passou para 8,3 mil em 2020, 9,3 mil em 2021 e é estimado em 7,7 mil em 2022. Consequentemente, São Gonçalo apresentou declínio vegetativo (nascimentos – mortes) nos 3 últimos anos.

nascimentos óbitos e variação vegetativa são gonçalo

A situação de São Gonçalo não é única. A cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, também apresentou decrescimento demográfico entre 2020 e 2022 , sendo a única capital do país registrando taxa negativa no período. A cidade do Rio de Janeiro, capital fluminense, apresentou decrescimento demográfico em 2021.

No Estado do Rio de Janeiro, as projeções populacionais do IBGE indicam que as curvas de nascimentos e óbitos estão programadas para se encontrar em 2040, com números de nascimentos e óbitos em torno de 180 mil, conforme mostra o gráfico abaixo. A partir daí as curvas se invertem e o estado do Rio de Janeiro iniciará um processo de decrescimento populacional estrutural no restante do século. A estimativa é que haverá 153 mil nascimentos e 231 óbitos, com redução vegetativa anual de 78 mil pessoas em 2060.

nascimentos e óbitos do estado do rio de janeiro

De fato, a pandemia da covid-19 antecipou as tendências. Os registros da pandemia mostram que o estado do Rio de Janeiro já registrou cerca de 80 mil mortes da covid-19 e também houve uma redução do número de nascimentos, pois muitas mulheres e casais adiaram suas decisões reprodutivas em função da gravidade do quadro pandêmico.

No caso da cidade de São Gonçalo, com o fim da pandemia, pode ser que haja uma diminuição no número de mortes e um aumento do número de nascimentos nos próximos anos (de 2023 a 2030). Mas também pode ser que o início do decrescimento demográfico já tenha começado e, talvez, indicando que o fim do crescimento da população gonçalense já teve início e irá se aprofundar ao longo do restante do século.

Outra característica que foi muito citada no período eleitoral se refere à presença de evangélicos na cidade. Muitos jornalistas falaram que a cidade de São Gonçalo é a cidade mais evangélica do país (e até do mundo). Mas isto carece de verdade e pode ser classificado na categoria de fake news.

Segundo o censo demográfico de 2010 (último dado disponível) a população de São Gonçalo era de 999,7 mil habitantes, com 325,3 mil se declarando evangélicos (das diversas denominações). No mesmo ano de 2010, a cidade do Rio de Janeiro, com 6,3 milhões de habitantes, tinha 1,47 milhão de evangélicos (23,4%). A cidade de São Paulo com 11,3 milhões de habitantes tinha 2,49 milhões de evangélicos (22.1%). A cidade de Guarulhos com 1,22 milhão de habitantes, tinha 346,5 mil evangélicos (28,4%). Portanto, a maior cidade fluminense tem um número muito maior de evangélicos do que a segunda maior cidade fluminense, assim com as cidades de São Paulo e até Guarulhos.

A tabela abaixo mostra que o percentual de católicos caiu de 49,3% para 41,8% em São Gonçalo entre 2000 e 2010, enquanto o percentual de evangélicos (26,5% para 32,5%) e outras religiões (5,5% para 8,2%) aumentou e o percentual de pessoas que se declaram sem religião se manteve mais ou menos estável (em torno de 18%). Assim como o Brasil, a cidade de São Gonçalo está passando pelo fenômeno da transição religiosa e isto ocorre com mais rapidez nas gerações mais jovens.

Percentagem de pessoas, por grupos de idade e segmentos religiosos, São Gonçalo: 2000 e 2010

Total e grupos etários

Católica

Evangélica

Outras

Sem religião

2000

2010

2000

2010

2000

2010

2000

2010

Total

49,3

41,8

26,5

32,5

5,5

8,2

18,7

17,5

0-14

44,7

37,8

28,5

36,3

4,8

6,8

22,1

19,1

15-64

50,4

41,9

25,7

31,6

5,6

8,4

18,3

18,1

65 – +

55,9

51,0

27,5

30,9

6,7

9,2

9,9

9,0

Fonte: Censos demográficos do IBGE de 2000 e 2010

Porém, existem diversas cidades fluminenses mais avançadas na transição religiosa. Por exemplo, em 2010, o percentual de evangélicos era de 46,2% em Paty do Alferes, de 44% em Seropédica, de 42,8% em Queimados, de 36,9% em Nova Iguaçu e de 36,8% em Duque de Caxias.

Portanto, São Gonçalo não é a cidade com maior número de evangélicos, nem em termos absolutos e nem em termos relativos. E como a população gonçalense já se estabilizou e está inclusive em decrescimento vegetativo é exagero considerar a cidade como a “capital” evangélica do país.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

CAVENAGHI, S. ALVES, JED. A Dinâmica da Fecundidade no Rio de Janeiro: 1991-2000. A ENCE aos 50 anos: um olhar sobre o Rio de Janeiro / Escola Nacional de Ciências Estatísticas. – Rio de Janeiro: IBGE, 2006. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv31839.pdf

ALVES, JED. Dinâmica demográfica fluminense, pandemia e o decrescimento populacional, Ecodebate, 02/08/2021 https://www.ecodebate.com.br/2021/08/02/dinamica-demografica-fluminense-pandemia-e-o-decrescimento-populacional/

ALVES, JED. Cidades fluminenses com decrescimento populacional em 2021, Ecodebate, 12/01/2022

https://www.ecodebate.com.br/2022/01/12/cidades-fluminenses-com-decrescimento-populacional-em-2021/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022

https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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