A população de Cuba de 1950 a 2100
A população de Cuba de 1950 a 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Pegada Ecológica per capita de Cuba é menor do que a do Brasil, mas também a Biocapacidade
“Las ideas se discuten y se combaten, no se encarcelan”
Pablo Milanés (1943-2022)
Cuba é um dos países do continente americano mais avançados na transição demográfica e já tinha bons indicadores populacionais, antes mesmo da Revolução Cubana de 1959, pois tinha menores taxas de mortalidade infantil e maior nível de expectativa de vida ao nascer. Com uma área de 111 mil km2, Cuba possui uma densidade demográfica de 105 habitantes por km2 em 2022, menor do que a densidade do Haiti (420 hab/km2) e bem superior à densidade brasileira (26 hab/km2).
A população de Cuba era de 5,9 milhões de habitantes em 1950 e chegou ao pico populacional de 11,34 milhões de habitantes em 2016. Desde 2017 a população cubana já está decrescendo e atingiu 11,22 milhões em 2022. A redução vai continuar no restante do século até atingir 6,5 milhões de habitantes em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, no painel da esquerda).
A população cubana em idade ativa, de 15-59 anos, era de 3,4 milhões de pessoas em 1950, chegou a 7,4 milhões em 2008 e vai decrescer até 3 milhões de pessoas em 2100. Portanto, a população em idade ativa em Cuba em 2100 será menor do que aquela de 1950, conforme mostra o gráfico abaixo (painel da direita).
Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida ao nascer. Cuba tinha uma TFT abaixo de 4 filhos por mulher em meados do século passado, quando a média da América Latina estava acima de 6 filhos por mulher. Houve um pequeno aumento da fecundidade no início da Revolução Cubana, mas uma queda rápida em seguida. A TFT ficou abaixo do nível de reposição em 1978 e se manteve entre 1,5 e 1,6 filhos por mulher na virada do milênio. Em 2022 a TFT está em 1,45 filhos e deve ficar em 1,6 filhos por mulher no restante do século (gráfico abaixo, painel da esquerda).
A expectativa de vida ao nascer em Cuba estava em 60 anos em 1950, quando a média da América Latina estava abaixo de 50 anos. A expectativa de vida subiu até 78 anos em 2019, caiu durante a pandemia da covid-19, mas já está se recuperando e deve se aproximar de 90 anos em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da direita).
O resultado inexorável da transição demográfica é a mudança na estrutura etária. A população cubana de 0 a 14 anos estava pouco acima de 2 milhões de jovens em 1950, chegou a 3,5 milhões na década de 1970 e já se encontra abaixo do nível observado na metade do século passado. Segundo a projeção média da Divisão de População da ONU os jovens de 0-14 anos deve ficar abaixo de 1 milhão de pessoas em 2100, valor mais da metade abaixo daquele de 1950, como mostra o gráfico abaixo (painel da esquerda). Já o número de idosos (gráfico da direita) continua crescendo, a despeito da queda da população total e deve atingir o pico de 3,5 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade em meados do atual século. O número de idosos deve ficar em torno de 3 milhões de pessoas em 2100.
A pirâmide etária de 1950 tinha o modelo clássico de estrutura rejuvenescida com uma base larga e cada grupo etário mais jovem maior que o grupo anterior. A pirâmide de 2022 já mostra todo o processo de queda da natalidade e os “dentes” da pirâmide refletem as flutuações nas taxas de fecundidade nos últimos 70 anos. Na pirâmide de 2100 terá uma forma mais próxima de um retângulo, mas com uma base muito estreita em decorrência da baixa taxa de fecundidade, conforme mostra a figura abaixo.
A razão de dependência de Cuba mostra que o momento mais favorável do bônus demográfico foi de 1990 a 2020, com menos de 60 pessoas em idade dependente para cada 100 pessoas em idade ativa, como mostra o gráfico abaixo. Atualmente a razão de dependência já está aumentando e ficará acima de 100 em meados do atual século e em torno de 120 dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa em 2100. Portanto, a melhoria do padrão de vida em Cuba vai depender do aumento da produtividade da força de trabalho.
Em termos econômicos, Cuba tem ficado atrás de países que tinham renda menor na metade do século passado. Considerando os 4 países do gráfico abaixo, percebe-se que Cuba tinha uma renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp), em 1952, de US$ 2,8 mil, superior à renda do Brasil US$ 2,4 mil, de Singapura US$ 2,3 mil e de Taiwan US$ 1,6 mil. Porém esta realidade mudou radicalmente ao longo das décadas seguintes.
Taiwan passou por grande transformação depois da Revolução Comunista na China continental em 1949 e se tornou lar das forças capitalistas que se refugiaram na ilha. Cuba passou por uma revolução socialista em 1959. No mesmo ano, Singapura conseguiu a independência do Império Britânico. O Brasil viveu conjunturas políticas diferenciadas após a Segunda Guerra Mundial, embora tenha se mantido como um país capitalista periférico.
Singapura e Taiwan adotaram um modelo de desenvolvimento baseado na promoção das exportações (Export led growth), enquanto o Brasil adotou o modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações e Cuba adotou um modelo socialista com controle estatal dos meios de produção. O gráfico abaixo mostra que Singapura já tinha passado o Brasil na década de 1960, o Brasil passou Cuba na década de 1970 e Taiwan passou o Brasil na década de 1980. Em 2018, último dado disponível, Cuba tinha uma renda de US$ 8,3 mil, o Brasil tinha uma renda de US$ 14 mil, Taiwan de US$ 44,7 mil e Singapura de US$ 68,4 mil.
Mesmo com baixo nível de consumo, Cuba possui déficit ambiental. A Pegada Ecológica per capita de Cuba é menor do que a do Brasil, mas também a Biocapacidade. Cuba já tinha déficit ambiental em 1961 e ampliou este déficit até o final da década de 1980. Mas com o fim da União Soviética houve uma grande crise econômica e a Pegada Ecológica foi bastante reduzida. Mesmo assim, a Pegada Ecológica cubana ficou em 1,76 hectares globais em 2018 para uma Biocapacidade de 0,77 gha. Assim, Cuba tem um déficit ambiental per capita de 1 gha e um déficit relativo de 129%.
Cuba é um país de renda baixa que conseguiu garantir diversos direitos de cidadania. Porém, a estagnação econômica e uma estrutura política autoritária dificulta a busca de soluções para enfrentar os problemas sociais e ambientais.
Cuba tem conquistas sociais inegáveis, mas possui uma economia frágil. Ou seja, o país não possui uma base econômica que viabilize novas conquistas humanas. Cuba é uma sociedade excessivamente subsidiada e dependente do Estado, com baixa liberdade individual. Parece que a Revolução Cubana chegou a um beco sem saída.
A passagem do furacão Ian, no final de setembro de 2022, deixou a ilha totalmente às escuras, destruindo ainda casas, edifícios e comércios, principalmente na região de Pinar del Río. As crises econômica e ambiental tem aumentado a emigração. Nos últimos dois anos têm crescido os protestos de rua contra a situação econômica e a falta de oportunidade de melhoria social.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A população de Cuba em 2100, Ecodebate, 19/10/2012
http://www.ecodebate.com.br/2012/10/19/a-populacao-de-cuba-em-2100-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Singapura e Taiwan deixam Brasil e Cuba para trás, Ecodebate, 13/07/2022
https://www.ecodebate.com.br/2022/07/13/singapura-e-taiwan-deixam-brasil-e-cuba-para-tras/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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