A Índia ultrapassou a União Europeia nas emissões de CO2
A Índia ultrapassou a União Europeia nas emissões de CO2, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O fato é que as emissões de carbono continuam aumentando, tornando cada vez mais difícil deter o aquecimento global e colocar em prática os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris, de 2015.
“Estamos na autoestrada rumo ao inferno climático e com o pé no acelerador”
António Guterres, na abertura da COP27
A Índia vai se tornar o país mais populoso do mundo em 2023, ultrapassando a China. Mas antes mesmo deste marco demográfico, a Índia já ultrapassou a União Europeia (27 países) nas emissões de CO2 em 2022.
O gráfico abaixo mostra as emissões de carbono da União Europeia (27 países) e da Índia de 1880 a 2022, com dados do The Global Carbon Project. Em 1880, a União Europeia emitia 174 vezes mais que a Índia. No final do século XIX, a relação era de 60 vezes. Em 1950, a União Europeia emitia 21 vezes mais que a Índia e, no ano 2000, caiu para 3,7 vezes. Nas últimas décadas as emissões totais da União Europeia se reduziram enquanto as emissões da Índia continuaram subindo e o gigante asiático ultrapassou o montante de emissões dos 27 países europeus.
Evidentemente, a Índia possui emissões per capita bem abaixo das emissões per capita dos europeus. Mas como a Índia possui 1,4 bilhão de habitantes e a União Europeia 450 milhões de habitantes, o país do sul da Ásia, com mais do triplo da população da União Europeia, teve um volume maior de emissões de carbono decorrente da queima de combustíveis fósseis em 2022.
Quando se considera também as emissões decorrentes do uso da terra, a diferença aumenta, pois a União Europeia tem emissões negativas atualmente e a Índia tem emissões acima de zero. Desta forma, considerando a soma das emissões advindas dos combustíveis fósseis e do uso da terra, a União Europeia emitiu 2,60 bilhões de toneladas de carbono e a Índia emitiu 2,79 bilhões de toneladas em 2021. Considerando os dois componentes, a Índia ultrapassou as emissões da União Europeia desde 2019.
O mundo vive uma emergência climática. A temperatura da Terra já subiu mais de 1º C desde o início da Revolução Industrial e o ritmo do aquecimento global tem se acelerado. Uma temperatura de 1,5º C acima do nível médio do século passado pode ser atingida na atual década de 2020 e a marca de 2º C (prevista como limite máximo do Acordo de Paris) pode ser atingida até meados do século XXI.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou de aproximadamente 277 partes por milhão (ppm) em 1750, no início da era industrial, para cerca de 410 ppm em 2019. O aumento de CO2 atmosférico acima dos níveis pré-industriais foi causado, inicialmente, pela liberação de carbono na atmosfera do desmatamento e outras atividades de mudança no uso da terra. Embora as emissões de combustíveis fósseis tenham começado antes da era industrial, elas só se tornaram a fonte dominante de emissões antropogênicas para a atmosfera por volta de 1950 e sua participação relativa continuou a aumentar até o presente.
Os países ricos e desenvolvidos foram os principais responsáveis pelas emissões de CO2 no século XX e, sem dúvida, responderam pelas maiores emissões históricas de gases de efeito estufa (GEE). Contudo, o crescimento demoeconômico dos países de renda média e baixa fez com que as nações do “Terceiro Mundo” passassem a liderar as emissões no século XXI. Os países em desenvolvimento, fora da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), liberaram mais do dobro das emissões dos países pertencentes à OCDE.
Indubitavelmente, são os países desenvolvidos (da OCDE) os principais responsáveis pelas emissões históricas, especialmente da queima de hidrocarbonetos. Porém, os países em desenvolvimento passaram a emitir mais do que os países ricos no século XXI e continuam aumentando o desmatamento. Esta realidade tem provocado divergências sobre como lidar com as “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”.
Na COP27 foi aprovado um fundo de “Perdas e Danos”, visando garantir dinheiro a ser utilizado para remediar os danos e as perdas causados pelo clima nos países em desenvolvimento mais vulneráveis. Contudo, não há consenso quais são os países que devem receber os recursos e quais os países que devem pagar pelos prejuízos. Também não há consenso sobre o tamanho do orçamento. É evidente que os países ricos devem ajudar os países pobres a vencer a pobreza e proteger o meio ambiente. Mas os países em desenvolvimento de renda média também precisam fazer sua parte.
O fato é que as emissões de carbono continuam aumentando, tornando cada vez mais difícil deter o aquecimento global e colocar em prática os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris, de 2015. Os países ricos da OCDE, embora sejam responsáveis pelas maiores emissões históricas, já estão diminuindo as emissões correntes, embora precisem acelerar a meta de carbono zero. Já os países em desenvolvimento (fora da OCDE) enfrentam o desafio de reduzir a pobreza, mas sem tornar mais grave a crise climática e ambiental.
O mundo precisa tirar o pé do acelerador do crescimento demográfico e econômico, revertendo a elevação da Pegada Ecológica global. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e necessita reduzir o processo de degradação dos ecossistemas, reduzir as desigualdades sociais e evitar o desequilíbrio climático.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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