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OMS: E a saúde do Planeta?

 

artigo de opinião

OMS: E a saúde do Planeta?

Já temos na questão do meio ambiente, em toda sua amplitude, conceitos praticamente universais na defesa do ar, do solo, da água, dos ecossistemas, dos limites biofísicos do planeta

Luís Mir*

Gilberto Natalini**

Marcus Eduardo de Oliveira***

O conceito clássico da epidemiologia sobre saúde coletiva está estabelecido há muito tempo: indivíduo saudável, família saudável, bairro saudável, cidade saudável. Mas é necessário expandir, transpor esses limites, incluir nesse critério de saúde pública, o planeta. Sim, ele necessita também ser saudável para poder conviver com pessoas saudáveis. Não há planeta saudável sem humanidade saudável, e vice-versa.

A questão transcende a fronteira epidemiológica e entra no campo de preservação do lar comum de todos. Claro que a prevenção e o cuidado com a saúde do planeta começam no plano individual. Está comprovado científica e ambientalmente que o Sistema Terra não mais suportará pressões antropogênicas.

Por isso, a pergunta obrigatória: e a OMS, no cuidado com a saúde do planeta? Em que grau está a sua intervenção e qual a expansão que deve ter? Temos já uma política de prevenção global da OMS na vacinação. Graça a ela, milhões foram salvos, e cada vez mais as vacinas se tornam um indicador de primeira grandeza e excelência na saúde mundial.

Precisamos entronizar, consolidar, a saúde pública nacional como integrante da saúde mundial. E isso exige que a OMS reveja sua postura de observadora dos quadros nacionais (o que faz regularmente) com uma política interveniente e decisiva em termos de saúde mundial como fruto de grandes consensos regionais. Temos que propor à OMS que ela estabeleça o conceito de saúde pública do planeta.

Temos um exemplo disso, a questão da saúde mundial. No conflito no Iraque entre iraquianos, curdos, turcos, foram suspensas as campanhas de vacinação por risco total à vida das equipes. Foi necessária uma negociação das partes em conflito por parte de várias potências mundiais também envolvidas no conflito para que se suspendessem as hostilidades para poder fazer a vacinação das populações, principalmente as infantis. Havia o temor de que o vírus da pólio, que foi detectado circulando na região, migrasse para todo o mundo. Tivemos um clima de terror.

Já temos na questão do meio ambiente, em toda sua amplitude, conceitos praticamente universais na defesa do ar, do solo, da água, dos ecossistemas, dos limites biofísicos do planeta. A FAO, por exemplo, na área de alimento, cumpre seu papel, nem sempre reconhecido e acatado. Mas na questão da saúde pública a ação da OMS é compartimentada, excessivamente regionalizada.

Claro que há uma barreira que parece insuperável: os interesses nacionais falsamente abrigados sob a égide da soberania nacional. O que, convenhamos, é uma estupidez: depois da invenção dos mísseis intercontinentais, os ICBM, soberania nacional é um conceito de demagogos. Aperta-se o botão, seja em Washington ou Moscou, agora Pequim também, e São Paulo e o Rio de Janeiro se evaporam nuclearmente em minutos. Como dizia Tolstói, tudo que é local é universal. Não existe planeta sem as aldeias, não existem aldeias sem o planeta. É necessário que a OMS estabeleça uma década de discussão sobre a saúde do planeta (pensando notadamente em fatores que ajudam a construir o equilíbrio da natureza), assim como já fez com o Tabagismo, Alcoolismo, Trauma, etc.

Sem que nos acusem de confabular com o catastrofismo, as palavras de Bruno Latour permanecem atuais: “Ou mantemos as condições que tornam a vida habitável para todos, ou então não merecemos continuar vivendo”.

E sem que se caia no risco de parecermos românticos, o outro nome disso é um processo claro de avanço civilizatório. Poderíamos chamar isso de diversidade de laços sociais ou, da gestão democrática da sociedade.

(*) Médico Pesquisador e Professor

(**) Médico e Ambientalista

(***) Economista e Ativista Ambiental

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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