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Artigo

Um chamamento ao exercício da cidadania ambiental

 

cuidando da Terra

Um chamamento ao exercício da cidadania ambiental, artigo de Berenice Gehlen Adams

Temos sim, o desejo utópico de que o Brasil (e outros países mundo afora) possa vir a ser um país sustentável, porque é o que queremos e o que idealizamos

Este é um convite para uma breve reflexão, partindo da frase há tempos, dita pelo saudoso Millôr Fernandes (foi escritor, jornalista, cartunista, humorista e dramaturgo brasileiro), que bem reflete situações contraditórias que vivenciamos:

“Sentado nesta cadeira de madeira

em frente a esta mesa de madeira

cercado de elefantes de madeira

e com o lápis de madeira na mão,

vou começar um artigo cínico

defendendo a preservação das florestas”.

(Millôr Fernandes)

O conflito que Millôr apresenta, em forma de cinismo, é o que sentimos, também, uma vez que é impossível viver sem provocar impactos ambientais, e cientes disso, seguimos buscando promover mudanças que se evidenciam necessárias, diante do caos ambiental que se acentua, para vislumbrarmos a sustentabilidade planetária.

Entende-se que um espaço ambientalmente saudável e sustentável, tanto natural quanto construído, é um lugar arejado, bem distribuído, que respeite tudo e todos, incluindo os recursos ambientais, e que favoreça uma integração minimamente equilibrada das ações humanas com o ambiente.

Para que possamos transformar o nosso entorno, o ambiente onde vivemos, onde habitamos – que é por onde devemos começar esta transformação – em um espaço saudável e sustentável, precisamos, inicialmente, agir com moderação, no consumo, nas atitudes, nas ações, tendo consciência de que todo tipo de excesso gera desperdício. A partir de uma mudança pessoal, podemos ir além para transformar o ambiente social, auxiliando na criação de instrumentos que impeçam abusos empresariais e comerciais, que atuam de forma danosa e que nos fazem sentir como formiguinhas lutando contra gigantes. É imprescindível, também, cobrar coerência das ações políticas com as questões ambientais.

Muitas práticas “tradicionais” de educação ambiental que abordam reciclagem de lixo, plantio de árvores, direitos do cidadão por um ambiente saudável, comemorações em datas especiais, etc, não promovem mudanças efetivas por que são ações pontuais. Trabalhar o tema resíduos, sem abordar o consumo, não promove uma mudança de postura. Da mesma forma se abordamos o tema reciclagem, sem trabalhar a finitude dos recursos naturais, não promoveremos uma aprendizagem significativa. O plantio de árvores, na maioria das vezes é puramente simbólico, e outras vezes as pessoas nem sequer conhecem a árvore que estão plantando – e, em muitos casos, são inadequadas – mas ainda pensamos que é melhor assim do que nada fazer. Os erros ensinam também, e se as pessoas são movidas por um ideal maior, elas aprenderão e aprimorarão suas ações, se tiverem oportunidade e se forem alertadas e incentivadas para isso.

Temos sim, o desejo utópico de que o Brasil (e outros países mundo afora) possa vir a ser um país sustentável, porque é o que queremos e o que idealizamos. Quando redescobrirmos o Brasil como uma potência turística e com uma riqueza natural e humana sem igual, quando houver mais investimento em educação e em saneamento básico, aí será possível vislumbrar esse Brasil sustentável. Para isto, será preciso mobilização da sociedade, vontade política, normas ambientais rígidas para os setores de produção e comercialização, leis aplicáveis e fiscalização, incentivo à agricultura familiar, educação ambiental, saneamento básico, erradicação da pobreza… Só para começar…

Ao nos depararmos com tantas situações diversas e contraditórias, por vezes, nos sentimos imobilizados pelo fato de não sabermos por onde começar. Basta dar o primeiro passo, que é o da disposição para mudança, ou seja, querer mudar. O segundo passo é refletir sobre hábitos e atitudes, delimitar objetivos, perceber as lacunas existentes no nosso entorno, e o terceiro passo é buscar parcerias, planejar ações e executá-las com persistência e perseverança. A partir daí, começamos a abrir mão de certos confortos e de certas facilidades com consciência. Aos poucos tomamos gosto por estas mudanças e vamos expandindo-as para todos os setores de nossas vidas.

Não é preciso voltar ao primitivismo para termos uma vida sustentável, precisamos sim, mudar o que prejudica a nossa saúde e a saúde do planeta. A moderação em nossas atitudes e ações, termos mais contato com ambientes naturais, participarmos de ações e de mobilizações, são aspectos fundamentais, não para mudanças pontuais, mas para promovermos mudanças significativas.

Cabe salientar, também, nesta reflexão, a importância das nossas escolhas, e do exercício de cidadania através daqueles que nós elegemos para nos representar na seara política. É imprescindível que votemos em pessoas que tenham objetivos claros, e que abracem as questões socioambientais, para incentivar mais e mais ações que levem em conta o meio ambiente em sua totalidade.

Se tivermos a consciência de que o verdadeiro exercício da cidadania abarca a colaboração para a minimização dos impactos que provocamos ao ambiente, o respeito a todas as formas de vida, então, vamos optar por quem melhor irá nos representar.

Mudar não é fácil, mas nunca mudaremos sem tentar.

Fecho esta reflexão com uma frase de Cecília Meireles (foi jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira):

“Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar.” (Cecília Meireles)

* Berenice Gehlen Adams – Pedagoga, especialista em Educação Ambiental, editora responsável da revista Educação Ambiental em Ação: www.revistaea.org, diretora da Apoema Cultura Ambiental: www.apoema.com.br .

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

 

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