A população da Indonésia de 1950 a 2100
A população da Indonésia de 1950 a 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Indonésia tem conseguido reduzir a percentagem da população vivendo em situação de pobreza, mas, ao mesmo tempo, tem aumentado os problemas ambientais.
A Indonésia é o quarto país mais populoso do Planeta e o maior país muçulmano do mundo. Com uma área de 1,9 milhão de km2, possui uma densidade de 144 habitantes por km2 em 2022. A título de comparação, o Brasil tem uma densidade de 26 hab/km2 e a Rússia de apenas 9 hab/km2.
A população da Indonésia era de 70 milhões de habitantes em 1950, chegou a 200 milhões em 1996, alcançou 275 milhões em 2022, deve atingir o pico populacional em 2061, com 319 milhões, devendo apresentar um decrescimento, na hipótese média, para 297 milhões de habitantes em 2100. Na hipótese mais alta da projeção a população indonésia pode chegar a 450 milhões e na hipótese baixa pode diminuir para 200 milhões de habitantes em 2100 (conforme mostra o gráfico abaixo, no painel da esquerda). A população da Indonésia em idade ativa, de 15-59 anos, deu um salto de cerca de 40 milhões de pessoas em meados do século passado para cerca de 200 milhões em 2022, mas deve atingir diminuir para 160 milhões de pessoas no final do atual século. (gráfico do painel da direita).
Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade e a expectativa de vida. A Indonésia tinha uma média de cerca de 6 filhos por mulher em meados do século passado. A taxa de fecundidade começou a cair fortemente a partir da década de 1970 e atingiu o nível de reposição em 2022 e deve se manter abaixo de 2 filhos por mulher no restante do século (Gráfico abaixo, painel da esquerda).
A expectativa de vida ao nascer, que estava em torno de 40 anos em 1950, cresceu nos anos seguintes, embora tenha tido uma grande queda na década de 1960 e chegou a 70 anos em 2019. Houve nova queda em função da pandemia da covid-19, mas segundo a projeção média da Divisão de População da ONU a expectativa de vida ao nascer, para ambos os sexos, deve ficar pouco acima de 80 anos em 2100 (como mostra o gráfico acima, painel da direita).
O resultado da transição demográfica já se manifesta na estrutura etária com a diminuição do montante da população jovem de 0-14 anos que deve cair de 70 milhões atualmente para menos de 50 milhões no final do século, como mostra o gráfico abaixo (painel da esquerda). Já o número de idosos (gráfico da direita) tem crescido nos últimos 70 anos e deve se acelerar nas próximas décadas, devendo atingir 90 milhões em 2100.
A mudança da estrutura etária fica evidente nas pirâmides etárias da Indonésia, conforme mostrado nos gráficos abaixo. A pirâmide etária de 1950 tinha o modelo clássico de estrutura rejuvenescida e se modificou nas décadas seguintes com redução proporcional dos grupos etários mais jovens e uma elevação dos grupos em idade produtiva. Isto tem favorecido o 1º bônus demográfico que tem ajudado o país a reduzir a pobreza e a incrementar o desenvolvimento econômico. Esta fase favorável deve permanecer até meados do atual século.
A Indonésia ainda está em meio do processo da transição demográfica. Isto significa que a razão de dependência ainda está caindo, como mostra o gráfico abaixo. Existiam pouco mais de 90 pessoas consideradas dependentes em meados da década de 1960 para cada 100 pessoas em idade produtiva. Esta razão tem caído e deve chegar no nível mais baixo, em torno de 57 dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa até 2030. Em 2100, a projeção média indica uma razão de dependência abaixo de 90, ou seja, uma proporção menor de pessoas dependentes em relação ao início da década de 1970.
A Indonésia tem apresentado um crescimento econômico acima da média mundial. O país tinha cerca de 1,5% do PIB global em 1980 e já chegou a 2,5%, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo). Como a população indonésia é cerca de 3% da população global, isto significa que a renda per capita é menor que a média mundial. A renda per capita da Indonésia (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de apenas US$ 1,3 mil em 1980, cerca da metade da renda per capita mundial. Nas décadas seguintes a renda cresceu até US$ 14,5 mil em 2022, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito). A Indonésia é um país emergente, pois a cada ano diminui a diferença em relação à média internacional.
A Indonésia tinha um grande superávit ambiental no século passado, mas passou a apresentar déficit ecológico no século XXI. Segundo o Instituto Global Footprint Network a Indonésia tinha, em 1961, uma Pegada Ecológica per capita de 1,47 hectares globais (gha) e uma Biocapacidade per capita de 2,73 gha. Portanto, o sinal era verde. Mas com o elevado crescimento demográfico e econômico a Pegada Ecológica per capita passou para 1,72 gha e a Biocapacidade per capita caiu para 1,24 gha em 2018. Assim, o déficit ecológico per capita passou para 0,50 gha, o que representa um déficit relativo de 30%, conforme mostra a figura abaixo.
A Indonésia tem conseguido reduzir a percentagem da população vivendo em situação de pobreza, mas, ao mesmo tempo, tem aumentado os problemas ambientais. A cidade de Jacarta está afundando e o governo já tem um plano para construir uma nova capital. O desmatamento tem aumentado a emissão de CO2 e o país enfrenta dificuldades para cumprir o prometido no Acordo de Paris. O desafio da Indonésia é o mesmo da Índia e de outros países em desenvolvimento que necessitam melhorar o padrão de vida da população, mas sem agravar os problemas ecológicos.
A Indonésia será sede da 17ª Cúpula do G20, em novembro de 2022. A reunião ocorrerá na ilha de Bali e deve contar com a presença de Vladimir Putin da Rússia e de Xi Jinping da China. A pauta de problemas globais é enorme – mudanças climáticas, pandemias, insegurança alimentar e guerra nuclear. Os desafios globais exigem uma resposta global e uma melhor governança global. Mas reunir uma resposta eficaz será impossível se a comunidade internacional continuar dependente das instituições e processos ultrapassados ??que foram estabelecidos após a Segunda Guerra Mundial. Sem dúvida, haverá muito a ser discutido na Cúpula do G20 em novembro, incluindo as questões demográficas, quando a população mundial chegar a 8 bilhões de habitantes em 15 de novembro de 2022.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A população da Indonésia em 2100, Ecodebate, 11/10/2012
http://www.ecodebate.com.br/2012/10/11/a-populacao-da-indonesia-em-2100-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Jacarta está afundando e pode ficar rapidamente debaixo d’água, Ecodebate, 28/09/2012
https://www.ecodebate.com.br/2018/03/19/jacarta-esta-afundando-e-pode-ficar-rapidamente-debaixo-dagua-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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