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Calor recorde aumenta o recuo do gelo marinho

 

Calor recorde aumenta o recuo do gelo marinho

O recente colapso de uma geleira de 1.100 km2 na Antártica surge em um momento de recordes de altas temperaturas e constitui um sintoma de um planeta que sofre uma crise climática, segundo especialistas.

PNUMA

A plataforma de gelo conhecida como Conger, que se separou do lado oriental da Antártida em março, é a nova vítima do aumento das temperaturas nos polos terrestres. Especialistas dizem que quanto mais as regiões polares se aquecerem, maior é a chance de derretimento, o que pode elevar o nível do mar e inundar comunidades costeiras.

“A concentração atual de gases de efeito estufa é maior que em qualquer outro momento da história humana. É um sinal muito preocupante”, explica Pascal Peduzzi, Diretor da GRID-Geneva, parte da Divisão de Ciência do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

A temperatura média na estação meteorológica Vostok, no centro da Antártida, em março, normalmente é de -53°C. Mas entre 16 e 20 de março deste ano, por volta da época em que supõe-se que a plataforma de gelo tenha despencado, a temperatura estava, em média, 35°C mais quente, atingindo um valor ameno para a Antártida de -18°C em 17 de março. A onda de calor é parte de uma tendência de aquecimento que está sendo observada globalmente.

A perda de gelo marinho indica um clima que está ficando cada vez mais quente e não está em equilíbrio. Tore Furevik, Centro de Meio Ambiente e Sensoriamento Remoto de Nansen

As imagens de satélite, referentes a cinco décadas atrás, mostram que o gelo marinho em ambos os polos está recuando. Em 21 de fevereiro de 2022, o gelo marinho antártico, até recentemente estável, atingiu seu menor volume desde o início das avaliações, em 1979.

A situação é muito mais dramática no lado oposto do planeta. Quarenta anos atrás, o gelo marinho no Ártico tinha normalmente de três a quatro metros de espessura. Hoje, está em torno de 1,5 metros, de acordo com o relatório Foresight Brief, uma publicação recente do PNUMA. Um gelo mais fino e uma maior abertura da água levam à maior absorção da luz solar e ao aumento do derretimento no verão. Desde 1979, cerca de 50% da cobertura de gelo marinho que permanece na época do verão foi perdida.

“Houve uma perda significativa de gelo marinho, especialmente nos últimos 20 anos”, afirma Tore Furevik, diretor do Centro de Meio Ambiente e Sensoriamento Remoto de Nansen e co-autor do Foresights Brief. “A perda de gelo marinho indica um clima que está ficando cada vez mais quente e não está em equilíbrio, A única maneira de deter essa tendência é reduzindo as emissões de gases de efeito estufa”.

O derretimento do gelo marinho provoca mudanças no ecossistema marinho, na circulação oceânica e em eventos climáticos. Tanto no Ártico quanto na Antártida, o aquecimento da água do oceano contribui para o derretimento das camadas de gelo. Enquanto o derretimento do Ártico não leva a um aumento significativo do nível do mar, pois o gelo já está na água, o derretimento do gelo da Groenlândia ou da Antártida acontecerá enquanto ele estiver em terra.

 

Pictures of ice from above
Uma série de quatro imagens de satélite captam a dramática desintegração dos mais de 1.000 km2: Plataforma de gelo de Conger na Antártida Oriental. Foto: NASA Earth Observatory/Cover Ima via Reuters Connect

 

A chave para conter o derretimento do gelo marinho e das camadas de gelo é a mitigação da mudança climática e a limitação dos aumentos de temperatura de acordo com o Acordo de Paris. Como parte do pacto, os Estados membros se comprometeram a limitar o aquecimento global em até 2°C, e de preferência abaixo de 1,5°C, em comparação com os níveis pré-industriais. Se o mundo cumprir suas promessas atuais relacionadas ao clima, o planeta ainda aquecerá pelo menos 2,7°C até o final do século, adverte o Relatório sobre a Lacuna de Emissões do PNUMA. Já o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que a média de aquecimento global será de 3,2°C até 2100.

“Precisamos levar a crise climática mais a sério. Temos menos de oito anos para reduzir nossas emissões pela metade. Isso não vai acontecer sem uma grande reconfiguração dos principais setores”, defende Peduzzi.

O PNUMA propôs a chamada Solução de Seis Setores para a crise climática. Essa abordagem tem como foco reduzir as emissões de gases de efeito estufa seis segmentos: energia, indústrias, agricultura e alimentos, florestas e uso da terra, transportes, construção e cidades. O relatório descreve como esses seis setores conseguem reduzir mais de 30Gt de emissões e, com isso, ajudam a manter o aumento da temperatura em conformidade com o Acordo de Paris.

As Nações Unidas também lançaram a campanha ActNow, que orienta as pessoas sobre as escolhas individuais que podem fazer para limitar o aquecimento global e reduzir a mudança climática.

Em março de 2022, o PNUMA lançou uma versão atualizada de sua plataforma de dados, informações e conhecimentos chamada World Environment Situation Room, disponível em inglês. Há um módulo dedicado à mudança climática, que inclui gráficos atualizados diariamente sobre a extensão do Ártico e do gelo marinho antártico. A página também destaca anomalias térmicas e tem uma grande quantidade de dados que explicam e monitoram a mudança climática.

Neste mês, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, disse que “estamos em uma via rápida para o desastre climático”.

Peduzzi percebe que existe uma indiferença diante da mudança climática, pois muitas vezes as pessoas não se dão conta do enorme impacto que cada grau de aquecimento pode ter sobre o planeta. O especialista revela que: “A 1,5 °C, a elevação do nível do mar limita-se a 48 cm. A 3 °C, o nível do mar aumentaria sete metros e os ecossistemas marinhos poderiam entrar em colapso. A 4°C, os especialistas não sabem como a adaptação seria possível”.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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