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Artigo

A redução do eleitorado jovem no Brasil

 

A redução do eleitorado jovem no Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil está passando pela transição demográfica, que é a passagem de altas a baixas taxas de natalidade e mortalidade. Em consequência, o país também está passando por uma transição da estrutura etária, com redução do percentual de jovens e o aumento do percentual de idosos.

O gráfico abaixo mostra que, em 2010, o número de jovens de 16 a 24 anos era de 31,2 milhões (16% da população total), o número de adolescentes de 16 e 17 anos era de 6,9 milhões (3,5% do total) e o número de idosos de 60 anos e mais era de 20,9 milhões (representando 10,7% do total da população). Em 2020, o número de jovens de 16 a 24 anos caiu para 29,9 milhões (representando 14,1% da população total), sendo superado pelo número de idosos com 30,2 milhões (14,3% do total). Para 2060, as projeções do IBGE indicam 73,5 milhões de idosos de 60 anos e mais (32,2% da população total), 21,9 milhões de jovens de 16 a 24 anos (9,6% do total) e 4,8 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos (somente 2,1% do total populacional).

Portanto, a principal tendência demográfica do Brasil do século XXI é a redução da população jovem e o aumento da população de 60 anos ou mais de idade. O processo de envelhecimento populacional vai se aprofundar ano após ano e a pirâmide etária brasileira será marcada por uma proporção cada vez mais alta de pessoas idosas. Por conseguinte, os idosos terão um peso cada vez maior no eleitorado brasileiro.

percentagem de jovens e idosos na população brasileira

 

O gráfico abaixo, com dados do TSE, mostra que, em 2010, os jovens de 16-24 anos representavam 18,2% do eleitorado e os idosos de 60 anos e mais representavam 15,3%. Nas eleições de 2014 já houve uma reversão e os idosos passaram para 17% do eleitorado e os jovens passaram para 16,1%. Nas eleições gerais de 2018, os idosos chegaram a 18,6% do eleitorado e os jovens 15,3%. Para 2022, com dados até março, mostram os idosos de 60 anos e mais com 20,4% do eleitorado e os jovens de 16 a 24 anos com 13,3% do eleitorado total.

Já o número de adolescentes de 16 e 17 anos ficou em torno de 7 milhões de pessoas entre 2010 e 2015 e caiu para cerca de 6 milhões de pessoas em 2022. Estes jovens possuem idade para votar, mas o voto não é obrigatório e sim opcional. Desta forma, em 2013 havia 2,2 milhões de adolescentes registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que representava 32% do total de jovens nesta idade.

Nas últimas eleições presidenciais de 2018, havia 1,5 milhão de adolescentes de 16 e 17 anos registrados no TSE (no mês de março), o que representava 23,4% do total de jovens nesta idade. Já em 2022, o número de adolescentes registrados no TSE (em março) foi de 1,1 milhão, o que representa somente 17,1% do total de jovens nesta idade com o título de eleitor.

número e percentagem de jovens na população e no eleitorado

 

De fato, o número do grupo etário de jovens de 0 a 24 anos está diminuindo no Brasil desde a virada do século e, com certeza, continuará caindo nas próximas décadas em função das baixas taxas de fecundidade. O número de adolescentes brasileiros de 16 e 17 anos atingiu o maior valor no primeiro quinquênio da década passada (2011-2015) e, desde então, vem caindo ano a ano.

Portanto, seria normal a queda do número de eleitores de 16 e 17 anos. Porém, o que se vê é que o número de adolescentes registrados no TSE está caindo em maior proporção. Em 2013 havia 2,2 milhões de adolescentes com título de eleitor (representando 32% dos jovens na idade de 16 e 17 anos), mas em 2022 o número de adolescentes registrados no TSE em fevereiro estava em 835 mil e, depois de intensa campanha, o número de jovens de 16 e 17 anos com título eleitoral chegou a 1,05 milhão em março (o que representa somente 17,1% dos jovens nesta idade).

Em relação ao total do eleitorado, os adolescentes de 16 e 17 anos com título eleitoral eram 2,2 milhões em 2002 e representavam 1,9% do eleitorado brasileiro. Em 2022 são 1,05 milhão, representando somente 0,7% do eleitorado. Para efeito de comparação o número de idosos de 80 anos e mais de idade registrados no TSE, em 2002, eram de 1,6 milhão (número menor do que o de adolescentes), representando 1,4% do eleitorado total e, em 2022, o grupo 80 anos e + passou para 4,0 milhões de eleitores, representando 2,7% do eleitorado brasileiro. Isto quer dizer que já existem mais eleitores da quarta idade (80 anos e +) do que eleitores adolescentes (16-17 anos) no Brasil.

Em síntese, o número de adolescentes está diminuindo no Brasil e era de se esperar que houvesse também redução do número de eleitores nesta idade. Porém, a queda de jovens de 16 e 17 anos com título eleitoral vem diminuindo de forma dramática, provavelmente, indicando uma desilusão com a política partidária e eleitoral. Talvez a pandemia tenha contribuído para os jovens ficarem mais isolados e com menor interação social.

O fato é que grande parcela dos jovens questionam o sistema eleitoral e a representação política do país. As campanhas contra as urnas eletrônicas, a propagação de fake news e o questionamento sobre o processo eleitoral devem ter contribuído para afastar os jovens dos pleitos eleitorais. Indubitavelmente, existe uma tendência declinante na adesão à democracia para todos os grupos etários, mas entre os adolescentes, cujo voto é optativo, isto se reflete na menor taxa de registro eleitoral. Reverter este processo de descrença será fundamental para o fortalecimento da democracia brasileira.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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