Crise climática intensifica secas e enchentes
Crise climática intensifica secas e enchentes
A gestão de recursos hídricos assume um papel fundamental para garantir a segurança hídrica da população
Por Raisa Toledo
Em fevereiro, a ONU divulgou seu mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que aponta que, com a aceleração da crise climática, seus efeitos tendem a se intensificar em um menor período de tempo.
“Trabalhando com a estimativa de um aquecimento global de 1,5ºC, o previsto é que o número de pessoas impactadas pelas secas e enchentes resultantes aumente, o que coloca a população em situação de vulnerabilidade em um risco até três vezes maior”, explica Nicole Brassac de Arruda, bióloga e pesquisadora do Lactec, instituição de ciência e tecnologia (ICT) com sede em Curitiba.
Isso porque as mudanças climáticas têm impacto direto nos ciclos hidrológicos, influenciando na ocorrência de secas e de enchentes severas, frequentemente seguidas por deslizamentos. Com uma temperatura mais alta, mais água evapora e mais chuvas incidem em locais em que não eram tão frequentes. Isso afeta o balanço hídrico, pois se mais água está chegando a um determinado lugar, está fazendo falta em outros.
O Brasil já sente esses efeitos: só no ano de 2022, as chuvas já deixaram milhares de pessoas feridas e desabrigadas em pelo menos oito estados brasileiros. Os temporais ocorridos em Petrópolis, por exemplo, chamaram atenção com um saldo de cerca de 230 mortos e muitos desabrigados.
Segurança hídrica ameaçada
Com as mudanças no ciclo hidrológico, acendem-se algumas luzes de alerta. No Brasil e na América Latina, o IPCC prevê riscos para a segurança hídrica — que diz respeito à disponibilidade de água para satisfazer as demandas da população, das atividades econômicas e de conservação de ecossistemas —, para a segurança alimentar, já que as secas causam prejuízos às colheitas, e para a vida, ameaçada por fatores como inundações, erosões, deslizamentos, tempestades e elevação do nível do mar.
É nesse contexto que entra a necessidade de uma gestão de recursos hídricos eficaz, aponta Nicole: “Algumas dessas estiagens e enchentes constituem eventos fora da curva que destoam das séries históricas de dados que usamos para ações de gestão e planejamento. Mas é possível tentar prevê-los utilizando ferramentas de modelagem hidrológicas e meteorológicas e, assim, fazer um bom planejamento urbano do uso de água”.
As modelagens ajudam a traçar cenários e definir tendências de crescimento da população, de consumo de água e de perdas desse recurso natural, o que facilita o planejamento da quantidade de água, de reservatórios e de quais tipos de reservatórios são necessários para que a cidade não passe por escassez ao longo do tempo.
Além do uso da tecnologia, a especialista não descarta o impacto que podem ter as ações individuais dos mais de 7,6 bilhões de habitantes da Terra para a manutenção da segurança hídrica. “Se cada um medir um pouco melhor sua pegada hídrica e de carbono, teremos ações individuais que, somadas, acabam trazendo uma folga para esse sistema. Revisar nossas torneiras e sistemas hidráulicos, tomar banhos mais curtos e reutilizar a água são formas de reduzir o seu consumo, e água não consumida é água reservada para o futuro”, conclui.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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