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Estudos revelam as perdas de água em municípios paulistas

 

desperdício de água
Foto: EBC

Estudos revelam as perdas de água em municípios paulistas

A escassez e o racionamento de água não acontecem apenas por falta de chuvas, mas, também, estão relacionados às perdas de água no processo de distribuição.

Muita gente, no Brasil todo, sofre com a falta de água nas torneiras e com o esgoto a céu aberto. E diferente do que normalmente é divulgado à população, a escassez e o racionamento de água não acontecem apenas e necessariamente devido à falta ou pouca incidência de chuvas, mas estão relacionados também a outros fatores, dentre os quais, as perdas de água que ocorrem no processo de distribuição.

Por Silvia Giurlani

Diante disso, é insustentável que no país todo ainda persistam as perdas de água tratada que são da ordem de 51% em média (segundo o SNIS 2020 – água tratada x água consumida), chegando a superar 70% em algumas regiões. Inconformado com essa situação, Enéas Ripoli, sócio fundador das empresas Gestágua Consultoria em Perdas de Água e da SmartAcqua Soluções Tecnológicas, da qual é CTO, está realizando estudos que mostram as perdas de água em vários municípios e os ganhos que poderiam ser obtidos pelas empresas responsáveis pelo saneamento e para a população local se esse problema fosse minimizado.

Até o momento, foram concluídos os estudos sobre várias cidades do estado paulista e enviados aos respectivos prefeitos. “E, caso seja necessário, esses estudos serão enviados também para as câmaras de vereadores, para o ministério público e para entidades de classe que se preocupam com o sofrimento das populações que não têm água para suprir suas necessidades básicas”, destaca Ripoli. O objetivo é, além de conscientizar, também propor soluções sobre essa questão, dentre as quais, o emprego de tecnologias que utilizam Inteligência Artificial.

A tecnologia é uma aliada importante no combate às perdas de água e pode, em curto prazo, contribuir para que as empresas públicas e privadas de saneamento consigam cumprir o que estipula o novo marco regulatório, ou seja, que as perdas sejam de no máximo 25% até 2033. Para alcançar esse objetivo, as companhias terão que modernizar suas estruturas de forma sistemática, como também fazer uma gestão contínua, porque as perdas de água acontecem todos os dias, o que requer monitoramento constante para identificar vazamentos, obsolescência e fraudes”, justifica.

O que falta, segundo Ripoli, é maior comprometimento das empresas de saneamento, públicas e/ou privadas, e fiscalização por parte das agências reguladoras sob a ótica do Novo Marco, como também vontade política dos governantes para tomar ações concretas e rápidas para reduzir substancialmente as perdas de água que, no curto prazo, poderiam ajudar no abastecimento de água à população, especialmente em regiões de escassez hídrica.  “Digo isso com conhecimento de causa pois em minha trajetória profissional trabalhei em duas grandes empresas de saneamento – uma delas, hoje a maior do país, e a outra, a maior do mundo -, e tenho mais de 40 anos de atuação com foco na otimização de processos e 20 anos como consultor na busca da eficiência operacional”, justifica.

Como exemplo, Ripoli destaca a situação da cidade de Itu que, de acordo com o SNIS 2019, perdia 51% de água (indicador IN049) e no SNIS 2020 essa perda foi para 54%. “Isso prova que quando são feitos projetos sem sistematização não é possível obter e/ou manter ao longo do tempo os resultados esperados”, salienta.

As principais consequências das 54% de perdas de água na cidade de Itu são:

  • Falta de água para a população, o que afeta a saúde pública;
  • Rodízio do abastecimento de água, impedindo o dia a dia normal das pessoas para higiene pessoal e da casa; e das empresas;
  • Retirada de 54% a mais de água dos mananciais, secando as reservas mínimas necessárias para a sobrevivência da população;
  • Retirada excessiva de água das reservas hídricas, inviabilizando o plantio de alimentos imprescindíveis à sobrevivência;
  • Geração de custos operacionais desnecessários, especialmente de energia elétrica (cara e escassa também), sendo que esses recursos poderiam ser alocados na saúde, educação, em tarifas justas etc.

Se a cidade de Itu diminuísse suas perdas de água de 54% para 25% (meta do novo marco regulatório) teria como benefícios: água para abastecer mais 109 mil pessoas (70% da população hoje); e teria recursos financeiros otimizados na ordem de R$ 18 milhões por ano para investimentos”, explica Ripoli.

Na tabela abaixo constam as perdas atuais de água (segundo SNIS 2020 – IN049) em alguns municípios paulistas, quantas pessoas poderiam ser atendidas se as perdas fossem reduzidas e chegassem a 25%, e quais os ganhos potenciais totais que as empresas de saneamento dessas cidades poderiam obter para investir e inclusive para autofinanciar as próprias perdas. Os números são impressionantes.

Cidades

Perdas atuais

Redução

Pessoas atendidas/dia

Ganho Potencial Total por empresa/ano

Americana

48%

25%

140 mil

R$ 18 milhões

Araraquara

46%

25%

155 mil

R$ 20 milhões

Bauru

49%

25%

220 mil

R$ 33 milhões

Bebedouro

38%

25%

13 mil

R$ 5 milhões

Birigui

45%

25%

97 mil

R$ 5 milhões

Cruzeiro

59%

25%

92 mil

R$ 4 milhões

Itu

54%

25%

109 mil

R$ 18 milhões

Jacareí

38%

25%

45 mil

R$ 12 milhões

Jaraguá do Sul

37%

25%

46 mil

R$ 5 milhões

Leme

47%

25%

53 mil

R$ 8 milhões

Marília

48%

25%

150 mil

R$ 16 milhões

Mauá

45%

25%

135 mil

R$ 36 milhões

Mogi das Cruzes

48%

25%

115 mil

R$ 44 milhões

Mogi Guaçu

46%

25%

86 mil

R$ 7 milhões

Mogi Mirim

43%

25%

43 mil

R$ 5 milhões

Ourinhos

54%

25%

95 mil

R$ 15 milhões

Pirassununga

40%

25%

30 mil

R$ 3 milhões

Ribeirão Preto

49%

25%

610 mil

R$ 70 milhões

Santa Bárbara D’Oeste

56%

25%

150 mil

R$ 23 milhões

São Carlos

44%

25%

140 mil

R$ 24 milhões

Sorocaba

36%

25%

135 mil

R$ 26 milhões

Valinhos

36%

25%

30 mil

R$ 4 milhões

Informações: https://smartacqua.com

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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