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A tragédia de Petrópolis e os problemas ambientais iminentes

 

A tragédia de Petrópolis e os problemas ambientais iminentes
Foto: TvBrasil

A tragédia de Petrópolis e os problemas ambientais iminentes, artigo de Helânia Pereira da Silva

É fato que muitos negam o aquecimento global e a possibilidade de chuvas mais intensas, em lugares cada vez mais habitados, e nessa categoria de urbanização desordenada, o homem ocupa os espaços, além dos limites da natureza ali existentes.

Para Santos (1997), A produção do espaço é resultado da ação dos homens agindo sobre o próprio espaço, através dos objetos, naturais e artificiais. Cada tipo de paisagem é a reprodução de níveis diferentes de forças produtivas, materiais e imateriais.

Nesse sentido vivenciamos todos os anos as mesmas problemáticas de um espaço- natureza em constante fragilidade, seja ambiental, ou social. São áreas de risco e encostas ocupadas, a mercê dos processos erosivos. Segundo Guerra (2007, p 31) O processo erosivo, causado pela água das chuvas, tem abrangência em quase toda a superfície terrestre, em especial, nas áreas com clima tropical, cujos totais pluviométricos são bem mais elevados do que em outras regiões do planeta.

Assim, nas cidades brasileiras é comum às margens de rios serem ocupadas por construções irregulares, sufocando suas APPs (áreas de preservação permanentes); dunas; serras; e morros, ocupados com moradias precárias, e com formas de viver adaptadas àquela realidade: ruas não pavimentadas, falta de saneamento básico, e ausência de reflorestamento das encostas, falta de projetos sociais que levem dignidade aos cidadãos, pois pobreza não deveria ser critério de abandono governamental e econômico. Onde um pobre vive, existem parcerias comunitárias, vontade de mudança, e gente de garra que luta pelo pão de cada dia. E, onde nem todos comem farofa espirrando pela boca!

Para Carlos (2007) O tema da revitalização urbana aponta um modo de pensar a cidade enquanto prática socioespacial, o que coloca desafios. Em primeiro lugar, a intervenção nos “lugares da metrópole”, através de processos de revitalização/requalificação, aponta uma relação complexa entre o Estado e o espaço, na medida em que, não se pode esquecer, o poder político tem possibilidade de coordenar a intervenção no espaço.

E, nesse contexto nos perguntamos se todas essas catástrofes ambientais são ocasionadas, somente pelas mudanças climáticas, ou certamente, por uma tríade de fatores como: aquecimento global, construções irregulares, e descaso de autoridades em melhorar a ocupação urbana. Lembramos que o êxodo rural intensificado na década de 60 e 80, reflete no hoje, pois já somos mais de 80% de pessoas vivendo em áreas urbanas. Como podemos, enfim, pensarmos cidades mais inteligentes. Ou, numa visão utópica minha, cidades geniais. Seria possível?

Assim, não estou falando aqui de carros voadores, empregadas robôs como Rosie, ou cidades monitoradas por sensores. Falamos de inovações simples e mais humanizadas. Segundo a união Europeia as Smarts Citys são aquelas com políticas ativas que utilizam a tecnologia para melhorar a infraestrutura urbana e tornar os centros urbanos mais eficientes. No geral, essas procuram responder aos principais problemas enfrentados no espaço urbano, até por ser este o palco de grandes transformações e desigualdades sociais.

As cidades devem buscar soluções sustentáveis e seguras, não apenas, para a classe média e alta, isoladas em seus condomínios de “guetos chiques e esportivos”, mas para a grande massa, o povo que sobe, desce, e escorrega o morro todos os dias, cansados de perder tempo em grandes deslocamentos diários, e correrem riscos em qualquer novo temporal. Não é inteligente continuarmos vivendo assim!

Segundo Amaro (2005, p. 7), “o risco é, pois, função da natureza do perigo, acessibilidade ou via de (potencial de exposição), características da população exposta (receptores), probabilidade de ocorrência e magnitude das consequências”.

Para Smith (2001), o perigo é uma ameaça potencial para as pessoas e seus bens, enquanto risco é a probabilidade da ocorrência de um perigo e de gerar perdas. O conceito de risco diz respeito à percepção de um indivíduo ou grupo de indivíduos da possibilidade de ocorrência de um evento danoso ou causador de prejuízo.

Portanto, a tragédia na cidade de Petrópolis na última terça- feira dia 15 de fevereiro, com tempestades da zona de convergência do Atlântico Sul, gerando esse evento extremo, revelou um total desastre socioambiental. Mas, podemos atribuir a culpa somente aos efeitos dos fenômenos naturais? Sabemos que não! Lembramos que todos os anos as chuvas são recorrentes, e intensas, também pelas mudanças climáticas, mas é perceptível que o homem esquece suas políticas de prevenção, contenção e reordenamento urbano das áreas de riscos.

Para Thouret (2007), os riscos naturais e suas consequentes catástrofes, nos países em desenvolvimento, estão principalmente correlacionados à urbanização acelerada e não controlada, à degradação ambiental, à fragilidade da capacidade de resposta e à pobreza.

Contudo, os gestores públicos devem ficar atentos, e ter urgência nas políticas de cunho urbano e ambiental, pois serão, cada vez, mais frequentes ondas de calor e chuvas intensas, e infelizmente, não queremos sentir e assistir a dor dessas famílias novamente! Pois as mudanças climáticas estão na cara da sociedade, e as cidades continuam não adaptadas, sendo reflexo de suas áreas de riscos.

Helânia Pereira da Silva
Doutora pela Universidade Federal do Ceará-UFC
área: Dinâmica Territorial e Ambiental
(Segurança Hídrica e Governança ambiental)
Msc. na área de Dinâmica e Reestruturação do território,UFRN.
Licenciatura em Geografia,UFRN.
Conhecimento aplicado em Geoprocessamento, UFRN.

Referências

AMARO, A. Consciência e cultura do risco nas organizações. Territorium, Coimbra, n. 12, p. 5-9, 2005.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. São Paulo: FFLCH, 2007, 123p. Inclui bibliografia 1. Espaço 2. Cidade 3. Urbano 4. Produção do Espaço.

CHUVA NA SERRA DO RJ: 11 anos e 5 governadores após tragédia com mais de 900 mortos. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/noticia/2022/02/17/chuva-na-serra-do-rj-11-anos-e-5-governadores-apos-tragedia-com-mais-de-900-mortos-nova-catastrofe-expoe-prevencao-falha.ghtml>. Acesso em 17 de fev 2022.

CIDADES INTELIGENTES. Disponível em: https://ec.europa.eu/info/eu-regional-and-urban-development/topics/cities-and-urban-development/city-initiatives/smart-cities_en#what-are-smart-cities>. Acesso em 17 de fev 2022.

GUERRA, Antônio Teixeira. Geomorfologia Urbana. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2011.280p.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, v. 5, 1997.

SELADA, Catarina; SILVA, Carla. As cidades inteligentes na agenda Europeia: Oportunidades para Portugal smart cities in the European agenda: Opportunities for Portugal. In: II Conferência de PRU, VIII ENPLAN e XVIII Workshop APDR:“Europa 2020: retórica, discursos, política e prática. 2014.

SMITH, K. Environmental hazards: assessing risk and reducing disaster. 3a. ed. London: Routledge, 2001. 392p.

THOURET, J-C. Avaliação, prevenção e gestão dos riscos naturais nas cidades da América Latina. In: VEYRET, Y. Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007.

TRAGÉDIA EM PETRÓPOLIS: CHUVAS DE VERÃO EXTREMAS SÃO REFLEXO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS? disponível em: <https://www.daynews.com.br/2022/02/17/tragedia-em-petropolis-chuvas-de-verao-extremas-sao-reflexo-das-mudancas-climaticas/>. Acesso em 17 de fev 2022.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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