Cavernas de máxima proteção abrigam espécies raras e abastecem aquíferos
Cavernas de máxima proteção abrigam espécies raras e abastecem aquíferos
No Brasil, das 22 mil cavernas resguardadas, 30% possuem máxima proteção. Em seu interior, elas abrigam animais raros que hoje estão sob ameaça devido a decreto que autoriza construções de alto impacto nessas áreas.
Em carta publicada na revista científica Nature na terça-feira (15), pesquisador brasileiro ressalta os riscos que a decisão traz para a vida nas cavernas e explica a relevância desses locais ao equilíbrio do ecossistema, como, por exemplo, o abastecimento de aquíferos.
O decreto nº 10.935/2022, assinado em 12 de janeiro pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), expõe cavernas a empreendimentos com implicações e tem sido alvo de debates entre comunidade científica, sociedade civil e esferas do poder público. Por revogar a regra que proíbe danos irreversíveis em cavernas classificadas como de alta prioridade e relevância, o documento teve parte de seus efeitos suspensos para discussão no STF (Supremo Tribunal Federal).
“A exploração comercial dessas áreas coloca em risco espécies raras de animais que só existem em algumas poucas cavernas de máxima proteção, como peixes, insetos e aracnídeos”, diz o pesquisador associado ao IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e pós-doutorando na UFPA (Universidade Federal do Pará), Hernani Oliveira.
Chamados de troglóbios, os animais que vivem nas cavernas são extremamente adaptados a esses ambientes – muitos não têm olhos, por exemplo, mas possuem antenas e aparelhos olfativos bem desenvolvidos. Entre as espécies mais ameaçadas estão os peixes Trichomycterus itacarambiensis, o bagrinho-de-caverna, que vive somente na caverna Olhos d’Água, na bacia do São Francisco em Minas Gerais, e Eigenmannia vicentespelaea, peixe-elétrico conhecido como ituí, encontrado em cavernas da região de São Domingos, na Bahia. O ituí está no livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção.
Oliveira avalia que “embora o decreto proíba a exploração de cavernas que leve à extinção de qualquer espécie, os empreendimentos, inevitavelmente, vão impactar os ecossistemas da fauna cavernícola, atrapalhando o ciclo natural de vida dessa biodiversidade”.
Além de abrigar fauna rara, cavernas protegidas desempenham serviços ecossistêmicos de abastecimento de aquíferos e de formação de solo, contribuindo também para a manutenção de ciclos de nutrientes, como os ciclos do carbono, do oxigênio e do nitrogênio.
Na carta à Nature, o pesquisador faz ainda um alerta para a expansão do setor de mineração no Brasil: “impulsionado por mercados da agricultura e da produção de cimento, a atividade tem exercido cada vez mais pressão sobre as cavernas”, conclui.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/02/2022
A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.
Desculpa-me, concordo com os propósitos do artigo, mas não vejo como uma caverna possa abastecer aquíferos e contribuir com a formação de solos.