200 cidades gaúchas com decrescimento populacional em 2021
200 cidades gaúchas com decrescimento populacional em 2021, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A pandemia da covid-19 afetou a dinâmica demográfica, de modo geral, aumentando o número de mortes e diminuindo o número de nascimentos em todo o país.
Para o Brasil como um todo, em 2021, houve 2,62 milhões de nascimentos e 1,73 milhão de mortes, representando um crescimento de 895 mil pessoas. No Rio Grande do Sul houve 126,3 mil nascimentos e 118,4 mil óbitos, significando um crescimento de 7,9 mil pessoas em 2021.
Mas no território gaúcho houve 200 municípios com número de óbitos acima do número dos nascimentos, apresentando variação vegetativa negativa em 2021 (considerando nascimentos menos óbitos e migração zero). A tabela abaixo mostra as 200 cidades gaúchas com decrescimento vegetativo em 2021, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.
A população da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, foi estimada em 1.488.252 habitantes em 01 de julho de 2020 e em 1.492.530 habitantes em 01/07/2021, com crescimento populacional de 4.278 pessoas de um ano para outro, pelas estimativas populacionais do IBGE. Mas pelos dados (preliminares) do Portal da Transparência do Registro Civil (visitado dia 31/01/2022), a capital gaúcha teve 16.372 nascimentos e 23.254 óbitos em 2021, com um saldo negativo de 6.882 pessoas. Ou seja, Porto Alegre teve decrescimento populacional pelo segundo ano consecutivo.
O Rio Grande do Sul é o Estado com maior proporção de idosos do país. Portanto, está mais avançado na transição demográfica e mais próximo da fase de decrescimento populacional. A pandemia da covid-19 antecipou temporariamente um fenômeno que aconteceria em algum ponto do futuro próximo.
O gráfico abaixo mostra que o número anual de nascimentos do RS estava em 134 mil em 2010, subiu para 150 mil em 2015, caiu para 142,7 mil em decorrência da epidemia da Zika e voltou a subir em 2017 para 144 mil. Nota-se que a recuperação de 2017 não voltou ao patamar de 2015 e que a partir de 2017 o número de nascimentos iniciou uma trajetória de queda contínua. Já o número de óbitos, que eram de 72 mil em 2010 passaram para 82 mil em 2019, apresentando uma tendência continuada de alta devido ao processo de envelhecimento populacional.
Pela projeção do IBGE (feitas em 2018) as curvas de nascimentos e mortes iriam se encontrar em 2039, com os números dos eventos vitais em torno de 115 mil. A partir daí as curvas se inverteriam e o estado do Rio Grande do Sul iniciaria um processo de decrescimento populacional estrutural no restante do século.
Contudo, a pandemia da covid-19 provocou alterações conjunturais que não alteram o rumo geral da transição demográfica gaúcha, mas que podem antecipar alguns números da tendência estrutural. Os registros da pandemia mostram que o estado do Rio Grande do Sul já registrou cerca de 1,6 milhão de pessoas infectadas e cerca de 37 mil mortes. Além disto houve uma redução do número de nascimentos, pois muitas mulheres e casais adiaram suas decisões reprodutivas em função da gravidade do quadro pandêmico.
Com o fim da pandemia deve haver redução dos óbitos e aumento dos nascimentos, mas dentro do marco das projeções do IBGE. Nas próximas duas décadas o RS deve continuar tendo aumento da população, mas em ritmo cada vez menor. Com menores taxas de fecundidade, a base da pirâmide etária vai diminuir e haverá um aumento do envelhecimento populacional. Assim, em algum momento da década de 2030 a população gaúcha vai começar um contínuo e persistente processo de decrescimento demográfico.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. O impacto da covid-19 na dinâmica demográfica brasileira, Ecodebate, 10/01/22
https://www.ecodebate.com.br/2022/01/10/o-impacto-da-covid-19-na-dinamica-demografica-brasileira/
ALVES, JED. Cidades gaúchas com decrescimento populacional em 2020, Ecodebate, 13/12/21
https://www.ecodebate.com.br/2021/12/13/cidades-gauchas-com-decrescimento-populacional-em-2020/
CAVENAGHI, S. ALVES, JED. A Dinâmica da Fecundidade no Rio de Janeiro: 1991-2000. A ENCE aos 50 anos: um olhar sobre o Rio de Janeiro / Escola Nacional de Ciências Estatísticas. – Rio de Janeiro: IBGE, 2006. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv31839.pdf
ALVES, JED. Três séculos de população no Brasil e os três bônus demográficos, Apresentação Webinário IPEA, 23/06/2021
https://drive.google.com/file/d/1JQW9TcZi3DFFfvEuIM1C78jQIxHLInVn/view
in EcoDebate, ISSN 2446-9394,
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