O Índice de Preços dos Alimentos começa em alta em 2022
O Índice de Preços dos Alimentos começa em alta em 2022, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) começou o ano de 2022 em alta.
O FFPI ficou em 135,3 pontos em novembro de 2021, caiu ligeiramente para 134,1 pontos em dezembro de 2021 e voltou a subir para 135,7 pontos em janeiro de 2022 (sendo a média 2014-16 = 100).
O gráfico abaixo mostra que os recordes de alta do FFPI aconteceram em 1974 e 1975 (quando houve o primeiro choque do petróleo) e a década de 1971-80 foi a que teve a maior média decenal da série, com 110,2 pontos. Nas décadas de 1980 e 1990 os preços dos alimentos caíram e marcaram os menores valores do século XX. Mas a comida voltou a ficar mais cara no século XXI, embora com valores menores do que nos anos 60s e 70s.
Ainda é cedo para prever o comportamento dos preços na década de 2021-30, mas o valor real do FFPI em 2021 é o terceiro mais alto da série e o valor de janeiro de 2022 só é menor do que o Índice de 1974. Há grande probabilidade do Índice de Preços na atual década apresentar a maior média decenal dos últimos 70 anos.
Como mostramos no artigo “A Era da comida barata acabou”, aqui no Ecodebate (Alves, 06/12/2021): “O aumento do preço da energia, a degradação dos solos, a crise hídrica e a emergência climática e ambiental estão encarecendo o custo da produção de alimentos no século XXI”. Portanto, as perspectivas não são boas em relação às tendências futuras do preço dos alimentos, pois a população mundial que estava em 6 bilhões de habitantes em 1999 vai ultrapassar 9 bilhões de pessoas até 2050, aumentando a demanda por alimentos.
Acontece que para satisfazer o aumento da demanda por alimentos há uma crescente pressão sobre a terra, o solo e os recursos hídricos do mundo. O Relatório da FAO, “The state of the world’s land and water resources for food and agriculture” (SOLAW 2021), destaca os principais riscos e tendências relacionados à terra, solo e recursos hídricos e apresenta os meios para resolver a concorrência entre os usuários e gerar os benefícios desejáveis ??para as pessoas e o meio ambiente. O Relatório fornece uma atualização da base de conhecimento e apresenta um conjunto de respostas e ações para informar os tomadores de decisão nos setores público, privado e civil para fazer uma transformação informada da degradação e vulnerabilidade para a sustentabilidade e resiliência.
Segundo a FAO, a agricultura tem um grande papel a desempenhar para aliviar essas pressões e contribuir positivamente para os objetivos climáticos e de desenvolvimento. Práticas agrícolas sustentáveis podem levar a melhorias diretas no estado da terra, do solo e da água e gerar benefícios para os ecossistemas, bem como reduzir as emissões da terra. A realização de tudo isso requer informações precisas e uma grande mudança na forma como gerenciamos esses recursos. Também requer esforços complementares de fora do domínio da gestão de recursos naturais para maximizar as sinergias e gerenciar os trade-offs (escolhas).
Assim, o objetivo do relatório SOLAW 2021 é conscientizar sobre a situação dos recursos terrestres e hídricos, destacando os riscos e informando sobre oportunidades e desafios relacionados. Visa também sublinhar a contribuição essencial de políticas, instituições e investimentos adequados.
Sem dúvida, a população mundial está enfrentando uma situação difícil representada por múltiplos desafios. O modelo de desenvolvimento hegemônico é insustentável e o aumento do Índice de Preço dos Alimentos da FAO é o reflexo da insustentabilidade do modelo de vida predominante na maior parte da economia internacional.
O conjunto das atividades antrópicas já superou a capacidade de carga do Planeta, mas o decrescimento demoeconômico continua uma bandeira rejeitada pelas lideranças globais e nacionais. O aumento do preço dos alimentos é apenas um indicador de um conflito cada vez maior entre a ECOnomia e a ECOlogia. É impossível que a primeira seja maior do que a segunda. Assim, para garantir comida barata e farta é preciso garantir a vitalidade da biocapacidade e a restauração dos ecossistemas, pois quanto mais natureza melhor para as pessoas e quanto menos pessoas melhor para a natureza.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A Era da comida barata acabou, Ecodebate, 06/12/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/12/06/a-era-da-comida-barata-acabou/
FAO, The state of the world’s land and water resources for food and agriculture, Systems at breaking point, SOLAW 2021
https://www.fao.org/3/cb7654en/cb7654en.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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O professor Eustáquio, como sempre faz nos brindando com este artigos de excelente conteúdo. Parabéns.