Exportações da China nos 20 anos após entrada na OMC
Exportações da China nos 20 anos após entrada na OMC, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A China tem avançado em todos os indicadores sociais, mas com externalidades muito grandes na área ambiental.
Brasil e China tem em comum o fato de serem dois países com grande extensão territorial e grande volume de população. São duas “potências” demoeconômicas do grupo BRICS e, ao mesmo tempo, dois grandes degradadores do meio ambiente. Todavia, o Brasil está estagnado na última década e parece preso na armadilha da renda média, enquanto a China caminha para ser a grande potência econômica do século XXI.
As reformas de Deng Xiaoping, no final da década de 1970, deram início a uma grande transformação da economia chinesa. Nos anos 1980 começou a discussão sobre o ingresso na Organização Mundial do Comércio (OMC) que passou a ser visto como uma iniciativa fundamental para acelerar reformas domésticas e modernizar a economia. Depois de muita discussão e muita resistência a China entrou na OMC em dezembro de 2001, sendo um marco da integração soberana da China à economia global.
Para efeito de comparação, o gráfico abaixo, com dados da OMC, mostra que até 1984 o Brasil (com exportações de US$ 27 bilhões e 1,4% das exportações globais) exportava mais do que a China (com US$ 26 bilhões e 1,3% das exportações globais). Mas a história mudou completamente nos anos seguintes e em 2011, enquanto o Brasil chegou no auge das suas exportações US$ 256 bilhões (1,4% da participação global) a China chegou a US$ 1,89 trilhão (10,4% do total global). Em 2020, o Brasil exportou US$ 209 bilhões (1,2% das exportações globais), enquanto a China exportou US$ 2,6 trilhões (16% das exportações globais). Ou seja, em menos de 40 anos a China que exportava menos do que o Brasil passou a exportar 12,4 vezes mais, mostrando que a política mercantilista e a estratégia de “Export-Led Growth” trouxe resultados expressivos.
Em 2021, os números são ainda mais expressivos. Enquanto o Brasil exportou US$ 280,4 bilhões (recorde da história brasileira), a China exportou US$ 3,37 trilhões (muito mais do que todo o PIB brasileiro e mais de 12 vezes as exportações brasileiras). O Brasil teve um superávit comercial recorde de US$ 61 bilhões em 2021, enquanto a China teve um superávit de US$ 667 bilhões. A corrente de comércio (exportação + importação) da China ultrapassou US$ 6 trilhões.
Em 2013, o país passou a ser a principal potência comercial do muno, saindo da sexta posição que ocupava em 2001. Em 2021, um número cada vez maior de países tem na China seu principal parceiro comercial e um terço do que o Brasil exportou (geralmente commodities) teve o mercado chinês como destino.
A China não deixou apenas o Brasil para trás, mas principalmente os EUA, pois as exportações chineses superou em cerca de US$ 1 trilhão as exportações americanas em 2021. Nos últimos 20 anos, desde que a China entrou na OMC, os EUA se envolveram em uma série de guerras e intervenções militares no mundo (Iraque, Afeganistão, etc.) que custaram uma fortuna, enquanto os EUA perdiam competitividade na produção de bens e serviços. A China aproveitou este período para aumentar as taxas de poupança e investimento para se tornar a “fábrica do mundo” e para ganhar mercados em todos os rincões do Planeta.
O gráfico abaixo mostra que os EUA tinham um déficit comercial com a China de US$ 23 bilhões em 1991 e de US$ 84 bilhões em 2001. Mas durante os últimos 20 anos o déficit cresceu de maneira exponencial, chegando a US$ 419 bilhões em 2018 (durante o governo Trump) e ficou em US$ 350 bilhões em 2021.
Evidentemente, todo este crescimento das exportações chinesas geram resistências e descontentamento nos outros países. O saldo comercial da China em 2021 foi de impressionantes US$ 667 bilhões e caminha para a casa de 1 trilhão de dólares. O bom desempenho das exportações fez o PIB chinês crescer 8,1% em 2021, depois de ter crescido 2,3% em 2020 (enquanto a economia mundial experimentou uma recessão de 3,1% em 2020).
Mas a China não fica parada esperando a reação, pois busca ampliar os acordos comerciais como a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, sigla em inglês), que é um tratado de livre-comércio na região Ásia-Pacífico que abarca os dez estados membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) – Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã – e os cinco dos parceiros da Área de Livre Comércio (ALC) da ASEAN – Austrália, China, Japão, Nova Zelândia e Coréia do Sul.
A China também criou novas oportunidades com pandemia da covid-19. Cresceu enormemente a venda de máscaras, respiradores, equipamentos de proteção e vacinas a outros países em meio à necessidade urgente de combater a crise sanitária. Assim, com a venda de milhões de produtos, a China está impulsionando sua indústria em geral e sua indústria farmacêutica em particular. Paralelamente, amplia sua influência política por meio da chamada “diplomacia da covid”.
Em síntese, a China está colocando em prática um projeto de nação que envolve a implantação de uma política de pleno emprego acompanhado de altas taxas de investimento, que estão transformando a infraestrutura do país e garantindo uma alta eficiência interna e uma alta competitividade internacional. A China tem avançado em todos os indicadores sociais, mas com externalidades muito grandes na área ambiental.
O desafio do gigante asiático, que vai ter um enorme decrescimento demográfico no século XXI, é fazer uma transição do modelo de desenvolvimento intensivo em trabalho e recursos naturais, para um modelo intensivo em tecnologia e robotização da produção, com regeneração ecológica e redução substancial das emissões de gases de efeito estufa.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A ascensão da China, a disputa pela Eurásia e a Armadilha de Tucídides. Entrevista especial com José Eustáquio Diniz Alves, IHU, Patrícia Fachin, 21 Junho 2018
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/580107-a-ascensao-da-china-a-disputa-pela-eurasia-e-a-armadilha-de-tucidides-entrevista-especial-com-jose-eustaquio-diniz-alves
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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