Os lucros dos acionistas
Os lucros dos acionistas, artigo de Montserrat Martins
Você que está pagando mais de 7 reais o litro da gasolina, fique sabendo que não é verdade que “tá ruim pra todo mundo”: pros acionistas da Petrobras está ótimo, pois a empresa teve um lucro de 31,14 bilhões só no terceiro trimestre desse ano, ou seja, mais de 10 bilhões por mês !
Mas porque foi criada a Petrobras mesmo, no século passado? Para o país deixar de depender do exterior para o seu desenvolvimento, para que os interesses nacionais não ficassem à mercê dos interesses comerciais de outras nações. Hoje temos uma das maiores empresas do mundo mas ela não tem sido aproveitada para o bem do país – a não ser que o seu conceito de país não inclua a população – mas apenas para o bem do lucro dos seus acionistas, ou seja, na lógica de uma empresa privada.
A revolta com o preço da gasolina causa as mais diversas reações, a menos compreensível delas é a de intelectuais que alegam que “tá vendo no que dá o monopólio?”. É um dos argumentos “da moda” do tipo “privatiza tudo” como se a ausência do Estado fosse sinônimo de felicidade, o que é uma grande ingenuidade, ainda mais no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, no fosso que separa os ricos dos pobres.
Se você quer imaginar a Petrobras privatizada olhe para ela agora, porque é exatamente assim que ela está se comportando! Como uma empresa privada cujo único objetivo é enriquecer os seus acionistas, enquanto os menos favorecidos pagam a conta, porque a inflação é perversa justamente para os mais pobres.
Evidente que seria possível a Petrobras regular os preços não de acordo com o “livre mercado” capitalista, mas sim conjugando a situação econômica do país e da população com as necessidades da saúde financeira da empresa. Daria perfeitamente para haver esse equilíbrio, como em outras épocas já houve, de maior sensibilidade da Petrobras com as condições financeiras da população – afinal, é para isso que ela foi criada.
Não tem fundamento na realidade ser a favor do estatizar tudo, nem do privatizar tudo, cada caso é um caso e é muito importante distinguir uma situação de outra. O que realmente é estratégico para o país não se confunde com áreas que o chamado “livre mercado” faz prosperar melhor.
Por exemplo, a livre concorrência foi ótima para o setor de telefonia, onde várias operadoras disputam as preferências das pessoas num mercado em expansão. Já a privatização da Vale do Rio Doce foi uma tragédia, a lógica dos lucros a qualquer preço matou cidades, pessoas e hoje a companhia se chama só Vale porque matou até o Rio Doce. A Petrobras, agora, está sendo gerida desviada dos seus objetivos e isso é inaceitável!
Montserrat Martins é Psiquiatra
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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