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Conservação, Baleias e Turismo no Extremo Sul da Bahia: uma conversa a partir da Educação Ambiental com quem entende sobre o tema, Parte 2

Conservação, Baleias e Turismo no Extremo Sul da Bahia: uma conversa a partir da Educação Ambiental com quem entende sobre o tema, Parte 2

De nada adianta preservar as baleias e jogar lixo nos oceanos. De nada adianta preservar as baleias e colaborar com o aquecimento global, pois quanto mais quente o planeta, menos alimentos elas terão

Elissandro Santana entrevista o biólogo Marcelo Arcanjo de Jesus (Marcelo Cobra)

Marcelo Cobra Direitos de imagem: Marcelo Cobra[/caption]

Elissandro Santana: Caro Marcelo Cobra, nesta segunda conversa dessa série de 10 sobre Conservação, Baleias e Turismo no Extremo Sul da Bahia gostaria que, inicialmente, discorresse sobre o aprendeu sobre biodiversidade e conservação nos passeios para avistamento de baleias.

Marcelo Cobra: Em cada navegação, há muito que aprender. O contato com as baleias traz reflexão e grandes aprendizados. Posso discorrer aqui sobre alguns deles. Mesmo que as baleias sejam animais grandes (e as do tipo Jubarte podem atingir até 16 metros de comprimento), são animais dóceis e pacíficos. Há também excelente convivência das delas com outros animais, muitas vezes, até os protegendo do ataque de predadores. Por tudo isso, os oceanos são ambientes fascinantes devido à biodiversidade e relacionamento entre esses organismos.

Meu foco em cada navegação é, de maneira bem didática, explicar sobre o ambiente marinho e sobre a importância do equilíbrio desse ambiente para a saúde do planeta e, sem dúvidas, par a saúde do próprio humano.

Aprender na observação é muito interessante e as pessoas precisam conhecer e, se possível, visualizarem para que sejam tocadas e se sintam responsáveis por cuidar e proteger.

Elissandro Santana: ao longo do tempo, o que você percebeu no que se refere ao quantitativo de baleias avistadas?

Marcelo Cobra: Existem muitos pesquisadores espalhados pelo planeta que se dedicam a estudar baleias. Destes estudos e inúmeras pesquisas, sabemos cada vez mais destes incríveis animais. Especialmente, as baleias jubartes, animais que eu pesquiso e convivo com mais frequência, estão aumentando sua população e livres do risco de extinção. Sem dúvidas, o ecoturismo de observação de baleias tem grande responsabilidade nisso, pois as pessoas entenderam que as baleias são muito mais valiosas vivas do que mortas. Essa conscientização possibilitou que as baleias aumentassem a população e retornassem a áreas onde foram cruelmente caçadas há tempos. As redes sociais são fundamentais nesse trabalho de preservação, pois pessoas de todos os lugares do mundo são informadas sobre os cetáceos.

Elissandro Santana: Quantos passeios já foram feitos e quais mudanças de atitude são perceptíveis para outras relações sobre conservação e biodiversidade, tanto por vocês que elaboram e conduzem os passeios como o público?

Marcelo Cobra: Como informei em outro momento, tenho cinco anos fazendo esse trabalho com as baleias jubartes. A temporada de baleias na Bahia ocorre de Julho a Novembro e navego três ou quatro vezes por semana para a observação desses animais em mar aberto. A área da biologia é ampla e possui muitos organismos a serem estudos. Antes de trabalhar com baleias, trabalhava com serpentes, então foi uma grande experiência agregar os cetáceos à minha vida. Aprendo algo novo todos os dias e sei que nunca saberei o suficiente. A natureza é muito rica e sempre nos surpreende. Todas as navegações permitem uma análise melhor nos comportamentos dos grupos de baleias, no conhecimento sobre as marés, os ventos e o mar, de forma geral.

Trabalho em sintonia com minha tripulação e dependo deles para o sucesso que pretendo ter naquele dia. Temos muita confiança e isso gera segurança e qualidade. Em todos os dias, o público é sempre novo, cheio de expectativa e vontade de ver baleias. Geralmente, quem se aventura neste tipo de turismo possui sensibilidade e cuidado com a natureza. São conscientes de que não estão indo a um zoológico, onde bichos estão presos. As baleias são livres e isso significa que nem sempre é possível encontrá-las. Assim como elas não se submetem aos desejos e vontades humanas. Embora existam as adversidades, tanto de navegação quanto de encontrar baleias, quando isso ocorre, o momento se torna mágico e compensa toda a dificuldade. Sem dúvidas, as baleias transformaram a minha vida e transformará para melhor todos os humanos que viverem essa experiência de vê-las de perto.

Elissandro Santana: Ao longo dos anos de atuação nos passeios para o avistamento de baleias o que mudou em seu olhar sobre as baleias e, principalmente, o que você aprendeu com tudo isso?

Marcelo Cobra: A aprendizagem é constante na vida de um biólogo e isso é fantástico. A natureza é excelente. Cada ser vivo contribui para que entendamos que nada está aqui por acaso. Tudo tem função e importância. Hoje, com o conhecimento que tenho sobre as baleias e também sobre os oceanos e seus moradores, percebo que nosso planeta depende muito dos oceanos para seu perfeito equilíbrio. A cada ser que estudamos, adquirimos mais respeito e nos tornamos menos vaidosos.

Elissandro Santana: As baleias são excelentes indicadores para análise acerca da qualidade do ecossistema marítimo na região. Como você percebe esse ecossistema e, principalmente, como debate sobre isso com os turistas de todo o país e moradores de Porto que participam dos passeios?

Marcelo Cobra: As baleias pertencem a uma cadeia fantástica e, sem elas, nada seria tão extraordinário como é. As baleias modernas (Neoceti) são divididas em dois grupos (subordens), os Odontoceti (baleias com dentes) e Mysticeti (baleias sem dentes) que são as baleias jubartes, por exemplo. Por não possuírem dentes, as jubartes possuem barbatanas, sendo animais filtradores de plâncton. O plâncton é o organismo mais abundante dos oceanos, porém são restritos a águas geladas, fazendo com que as jubartes passem parte do ano na Antártica se alimentando e adquirindo gordura suficiente para a migração e estadia de alguns meses na Bahia. As baleias jubartes são fundamentais para o controle do plâncton e crio (Krill) (espécie minúscula de crustáceo). As baleias também são fonte alimentar para alguns predadores, como as orcas, mas após capturas pelas orcas e tubarões, são fontes alimentares para uma infinidade de espécies, desde peixes a aves marinhas. Uma grande importância das baleias está nas fezes que elas expelem no ecossistema marinho, que servem como alimento para muitos organismos, como plâncton e crio (Krill), permitindo seu desenvolvimento e manutenção. As baleias também são portadoras de muitos inquilinos que sem elas, não conseguiriam se distribuir pelos oceanos, como as cracas (tipo de crustáceo sem mobilidade) que dependem da pele da baleia para se fixarem. Além de conduzirem em seu entorno, muitos animais se sentem seguros perto da baleia que, sendo grande, afugenta predadores.

Elissandro Santana: Acerca dos impactos no ecossistema marítimo por onde as baleias circulam no Extremo Sul da Bahia, pode discorrer um pouco sobre essa questão?

Marcelo Cobra: Já há uma consciência ambiental muito boa nas pessoas que residem nas áreas que são visitadas por baleias. Em cada temporada temos muitas conversas com pescadores e proprietários de embarcações, para que não ocorram acidentes com baleias. As baleias respiram o mesmo ar que nós, desta forma, elas nadam até a superfície, de tempos em tempos, e isso as deixam vulneráveis. Além das embarcações e suas hélices, outro grande perigo para as baleias são as redes e malhas de pesca, portanto, conscientizamos os pescadores para que evitem esse tipo de material na temporada de baleias, que tenham atenção ao navegarem, evitando aproximação com as baleias. Há muito a fazer para que tenhamos sucesso na preservação destes animais, assim como cuidado com o oceano, pois ele é a casa da baleia.

De nada adianta preservar as baleias e jogar lixo nos oceanos. De nada adianta preservar as baleias e colaborar com o aquecimento global, pois quanto mais quente o planeta, menos alimentos elas terão. O crio (Krill) é muito sensível às mudanças climáticas, por isso, menos crio (Krill) reduzirá substancialmente o quantitativo de vida nos oceanos. Sem crio teremos baleias mal alimentadas e suscetíveis às doenças e à morte prematura.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Nota da redação: Para acessar a primeira parte desta entrevista clique aqui

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