Debate no Congresso acirra disputa pela legalização de jogos de azar no Brasil
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Debate no Congresso acirra disputa pela legalização de jogos de azar no Brasil
Grupo de trabalho criado por Arthur Lira (PP-AL) deve entregar relatório em breve, e bancada evangélica tenta barrar proposta na Casa
O debate sobre a liberação dos jogos de azar no país é antigo. Proibidos desde a década de 1940, após decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra, as apostas e jogos deste tipo nunca saíram do circuito completamente. O que acontece, neste momento, é que elas acontecem com sinais de irregularidade, o que não é bom nem para os apostadores, nem para as empresas com interesse de atuar no Brasil.
A procura por plataformas de cassino brasil online cresceu na pandemia, e os sites de jogos de azar explodiram dentro do mercado consumidor brasileiro. Estima-se que os brasileiros gastem R$ 9 bilhões em apostas em sites na internet que não estão hospedados no Brasil. Com isso, os cofres públicos deixam de arrecadar e a incerteza sobre um mercado que só cresce não diminui.
Por isso, há no Congresso Nacional um movimento para fazer essa pauta andar. Nesta última semana, o jornal O Globo detalhou em uma reportagem como o Grupo de Trabalho criado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem trabalhado para aperfeiçoar um projeto de lei sobre o tema e entregar um relatório para que ele seja debatido entre os parlamentares da casa.
Segundo a publicação, os deputados estudam promover audiências públicas com instituições envolvidas na liberação dos jogos de azar, como a Receita Federal e o Conselho do Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A tática é não dar muito espaço a setores que se opõem ao plano, mas quebrar a resistência com o argumento de que a matéria vai tramitar no limite da lei.
Atualmente, o Grupo de Trabalho avalia maneiras de como dialogar com a bancada evangélica e alas da esquerda, contrários aos jogos, que mostram resistência à proposta de liberação dos jogos. Presidente do grupo que pretende alterar o Marco Regulatório dos Jogos, o deputado Bacelar (Podemos-BA) tem dito a colegas que ele e o deputado Vermelho (PSD-PR) convenceram Lira a criar o colegiado e contam com o apoio do chefe da Casa.
“Fomos ao presidente (Lira) e falamos que tem um projeto de 2016 pronto para votar. E ele assumiu e nos disse: ‘Vamos, vamos enfrentar a questão. Mas que trabalhem sem muito holofote, sem muita audiência pública, e eu abraço a questão’”, relatou Bacelar numa reunião fechada com aliados, segundo reportagem do jornal O Globo.
Os deputados do GT acreditam ter o apoio de mais da metade dos 513 deputados. Falam que boa parte dos evangélicos apoia a legalização do jogo, mas que preferem não se posicionar publicamente. Esse debate entre a ala que aprova a liberação e a turma mais conservadora, liderada pelos evangélicos, foi tema de reportagem recente do jornal O Estado de S.Paulo.
Segundo Felipe Carreras (PSB-PE), relator da proposta de mudança do marco regulatório, embora o projeto seja amplo e inclua até jogo do bicho, seu foco será liberar os cassinos integrados em resorts.
“Tem instrumento de fiscalizar e arrecadar. Qual a consequência disso? Gerar emprego formal. Quando traz (para o Brasil) os grandes cassinos integrados de resorts do mundo, você tem um produto turístico. A Espanha, França, Itália, Alemanha, Portugal, Reino Unido, Canadá, México têm (cassinos)”, afirmou ele ao Estado de S.Paulo.
A bancada evangélica, por outro lado, tem uma opinião diversa e está disposta a travar qualquer discussão sobre o tema. “Minha posição contrária à legalização dos jogos de azar continua a mesma, sou visceralmente contra, e por se tratar de princípios, não mudará jamais”, disse o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP), pastor evangélico e um dos congressistas mais próximos de Bolsonaro ao Estado de S.Paulo.
Ainda de acordo com a publicação, a legalização dos jogos enfrenta a resistência também dos Auditores Fiscais, que mantêm preocupação sobre a fiscalização de empresas que atuem no país. Os deputados do Grupo de Trabalho dizem que medidas de controle e combate à irregularidades estão sendo desenvolvidas pela equipe e serão apresentadas no relatório final que será entregue pelo colegiado no próximo mês.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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