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Artigo

Encantado e desencantado

 

artigo de opinião

Encantado e desencantado, artigo de Montserrat Martins

Encantado ganhou destaque nacional em tempos de pandemia, com a construção do Cristo Protetor que havia iniciado em 2019 mas seguiu a pleno em 2020 e 21. A primeira necessidade humana é sobreviver, a segunda é ser feliz, e essa iniciativa atende a ambos instintos. Numa crise de saúde e empregos, muitas pessoas se apegam a fé. Já as pessoas em condições melhores buscam outras necessidades, como lazer e turismo, que essa bela construção também proporciona.

A história é interessante, foram terras doadas por três famílias para a Prefeitura de Encantado com a finalidade específica de construir a estátua do Cristo, mas o poder público não gastou nada na construção, custeada pela própria sociedade da cidade, organizada na Associação Amigos do Cristo (AAC), recebendo doações de pessoas, empresas e entidades, para um orçamento de mais de 2 milhões de reais. Será a maior estátua de Cristo no Brasil, quase 5 metros mais alta que o Cristo Redentor.

A obra vai atrair turistas para o Vale do Taquari, tendo como atrativo um elevador que leva a uma linda vista panorâmica da região, e já é um sucesso midiático, com brincadeiras do Prefeito do Rio de Janeiro no twitter e até do jornal inglês The Sun, de que a iniciativa vai “ofuscar” o Cristo Redentor. Para a inauguração, prevista para o final de 2021, além do Prefeito do Rio será convidado também o Papa Francisco.

As necessidades humanas vão além das mais básicas como emprego, saúde e educação, fé e lazer também são importantes para a saúde emocional. A pessoa pessimista, trancada em casa, acuada pela pandemia, entra em sofrimento, ansiedade, depressão. E os ambientes cujo atrativo é a natureza, as paisagens, são os mais saudáveis, até porque não envolvem aglomerações, são passeios ao ar livre.

Estamos todos encantados com Encantado, justificando seu nome. Mas desencantados com Porto Alegre, onde o potencial turístico do Guaíba até hoje recebeu apenas a “nova Orla” mas nada que atraia turistas, tal como a linha turística que o Aeromóvel propôs do Gasômetro até o Pontal, não liberada ainda, que sequer geraria gastos públicos, seria custeada por investidores.

Porto Alegre tem morro à beira do Guaíba mas não tem teleférico, como Camboriú, outro exemplo de turismo. Resulta que os milhões de turistas que vão a Gramado (que já chegou a ser de 8 milhões de pessoas por ano) sequer param em Porto Alegre, apenas desembarcam do avião na capital. Agora nem mais isso, pois a TAM anuncia um voo direto entre São Paulo e Caxias do Sul, tirando Porto Alegre definitivamente do mapa turístico.

Montserrat Martins é psiquiatra.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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