A 1ª onda da covid-19 no Vietnã e a 5ª onda no Irã
A 1ª onda da covid-19 no Vietnã e a 5ª onda no Irã, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Os exemplos do Vietnã e do Irã mostram que a pandemia se expande de forma diferenciada nos diversos países
As primeiras infecções do novo coronavírus foram identificadas no final de 2019, mas somente no dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o mundo enfrentava uma emergência sanitária e elevou a classificação da “Corona VIrus Disease” (COVID) para o nível de pandemia da covid-19. Naquela data os registros mundiais indicavam 150 mil pessoas infectadas e 4,6 mil vidas perdidas para o SARS-CoV-2.
No dia 01 de janeiro de 2021 já havia 175 países com mais de 1 mil casos da covid-19, sendo 18 países com mais de 1 milhão de casos, 59 países no grupo de 100 mil a 1 milhão de casos, 50 países no grupo de 10 mil a 100 mil casos e 48 países com 1 a 10 mil casos. No dia 01 de setembro de 2021 eram 35 países com mais de 1 milhão de casos, 71 países no grupo de 100 mil a 1 milhão de casos, 61 países com 10 mil a 100 mil casos e 34 países com 1 mil a 10 mil casos (201 países no total). Mas a forma que a doença atingiu as diversas nações é bem diferenciada.
O Vietnã (com uma população de cerca de 100 milhões de habitantes) é um caso de sucesso inicial no controle da pandemia. Na última semana de janeiro todo o país estava parado para as comemorações do Ano Novo lunar (equivalente à última semana de dezembro nos países cristãos). As primeiras notícias da epidemia na China chegaram em meio às festividades. O Vietnã já teve experiências duras quando teve que lidar com a Síndrome Respiratória Aguda Grave – SARS, em 2002, e a Síndrome respiratória do Oriente Médio – MERS, em 2012, que são doenças advindas de outros tipos de coronavírus. Desta forma, o governo fechou imediatamente a fronteira com a China e não hesitou em alertar todo o país para a gravidade do que estava por vir.
O Vietnã teve sucesso inicial em fazer uma barreira sanitária, impondo um rígido controle sobre os portos e aeroportos, monitorando todas as pessoas que vinham de áreas expostas à epidemia. Depois interromperam as atividades nas escolas e universidades (que já estavam de recesso na última semana de janeiro). Na medida em que ia ficando clara a gravidade da situação o governo reforçou as medidas de quarentena fechando o comércio, fábricas e todas as atividades não essenciais. Rapidamente, o país adotou o lockdown (fechamento total) e realizou um rastreamento e monitoramento completo de todas as pessoas que entraram em contato com o vírus.
Como mostra o gráfico abaixo, o Vietnã teve sucesso em controlar a doença durante todo o ano de 2020 e o primeiro semestre de 2021. As ações adotadas no Vietnã garantiram que o país chegasse em 31/12/2020 com somente 1.465 casos registrados. No final do primeiro semestre, em 30/06/2021, o número de infectados chegou a 16.863 casos. Mas no dia 17 de setembro já tinha passado para 668 mil casos.
Desta forma, quando a pandemia já estava completamente espalhada pelo mundo, o Vietnã era um caso de sucesso. Mas a 1ª onda chegou no segundo semestre de 2021 na esteira da difusão da variante delta que atingiu diversos países do leste asiático.
Da mesma forma que o Vietnã conseguiu segurar o número de casos também conseguiu postergar o surto de mortes da covid-19. Até o dia 31/12/2020 foram registrados somente 105 mortes no Vietnã. Até o dia 30/06/2021 foram 81 vidas perdidas. Entretanto, no dia 17/09/2021 já eram 16,6 mil óbitos. Ou seja, a primeira onda da covid-19 só ocorreu no segundo semestre de 2021.
Em termos de coeficiente de incidência e de mortalidade dos montantes acumulados, o Vietnã tem 6,9 mil casos por milhão e 171 óbitos por milhão de habitantes. São números bem menores do que a média mundial que é de 30 mil casos por milhão e 603 óbitos por milhão. E menores também do que os coeficientes brasileiros, com cerca de 100 mil casos por milhão e 2,8 mil óbitos por milhão de habitantes.
O exemplo do Irã é completamente diferente, pois os iranianos experimentaram a 1ª onda da covid-19 ainda em março de 2020, teve uma 2ª onda em meados de 2020, a 3ª onda no final do ano de 2020, a 4ª onda em abril de 2021 e a 5ª onda em agosto de 2021. Em termos acumulados, o Irã chegou a 5,4 milhões de casos no dia 17 de setembro, com coeficiente de incidência de 63,5 mil casos por milhão de habitantes.
Em termos de mortalidade, o Irã também já experimentou cinco ondas. As ondas de mortalidade seguem as ondas de infecção, sendo que a 5ª onda foi a mais letal no Irã. Em termos acumulados, o Irã chegou a 117 mil óbitos no dia 17 de setembro, com coeficiente de mortalidade de 1,4 mil óbitos por milhão de habitantes.
Os exemplos do Vietnã e do Irã mostram que a pandemia se expande de forma diferenciada nos diversos países. Os Estados Unidos estão vivendo a 3ª onda e o Brasil ultrapassou a 2ª onda e não se sabe se a pandemia vai continuar caindo ou se o Brasil vai enfrentar um novo surto covídico. Na dúvida, todo o cuidado é pouco. Portanto, não se pode abrir mão das medidas preventivas e nem relaxar antes da hora.
A pandemia está se mostrando muito resiliente e para vencer a doença a luta continua e não tem prazo para terminar.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020
https://www.ecodebate.com.br/2020/03/09/a-pandemia-de-coronavirus-covid-19-e-o-pandemonio-na-economia-internacional-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Jornal da Globo. Brasil pode registrar mais mortes do que nascimentos em um mês. Rede Globo, 08/04/2021
https://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2021/04/08/pais-pode-registrar-mais-mortes-do-que-nascimentos-em-um-mes-dizem-pesquisadores.ghtml
ALVES, JED. Covid-19. Brasil regista pela primeira vez mais mortes que nascimentos, entrevista a Pedro Sá Guerra na Televisão Portuguesa (RTP), 15/04/2021
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/covid-19-a-situacao-ao-minuto-do-novo-coronavirus-no-pais-e-no-mundo_e1313075
ALVES, JED; CAMARANO, AA. Tendências demográficas e pandemia de covid-19, Webinário IPEA, 23/06/2021
https://www.youtube.com/watch?v=Bzog2U-zBo0
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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